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5 A presente obra respeita as regras do Novo Acordo Ortográfico.

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De tempos a tempos alguns amigos <strong>do</strong> pai tinham tenta<strong>do</strong> arranjar-lheum c<strong>as</strong>amento. Tinha, educada m<strong>as</strong> insistentemente, declina<strong>do</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong>perspetiv<strong>as</strong> que lhe eram oferecid<strong>as</strong>. Algum<strong>as</strong> dess<strong>as</strong> mulheres vinham debo<strong>as</strong> famíli<strong>as</strong>, eram atraentes e até mesmo inteligentes. M<strong>as</strong> nenhuma puder<strong>as</strong>uperar o mais ínfimo termo de comparação com Maria, e só serviampara lhe lembrar tu<strong>do</strong> o que perdera e que nunca poderia recuperar naquelavida. E a natureza da sua separação fora tal que pouca esperança haviade que qualquer poder divino lhes permitisse voltarem a reunir-se na vidaeterna. Era no espírito dessa perda perpétua que Thom<strong>as</strong> vivia a sua vida.Depois de Maria nada mais existia, apen<strong>as</strong> o excruciante lembrar <strong>do</strong> toque,<strong>do</strong> gesto, <strong>do</strong> sorriso, da expressão, <strong>do</strong>s fragmentos de momentos em quetinham esta<strong>do</strong> nos braços um <strong>do</strong> outro.Durante momentos <strong>as</strong> memóri<strong>as</strong> <strong>as</strong>saltaram-no sem quartel, e Thom<strong>as</strong>viu-se obriga<strong>do</strong> a abanar a cabeça, furioso, enquanto apertava os punhose olhava pela janela, sem ver a serenidade silenciosa que se estendia àsua frente. Por fim o momento p<strong>as</strong>sou e ele suspirou, a exalação aliviada dealguém que acaba de p<strong>as</strong>sar pel<strong>as</strong> mãos e faca <strong>do</strong> cirurgião.Escutou-se um bater à porta <strong>do</strong> estúdio, e Thom<strong>as</strong> af<strong>as</strong>tou o olhar dajanela.— Sim?A tranca subiu e a escura e pesada porta de carvalho abriu-se para ointerior, deixan<strong>do</strong> p<strong>as</strong>sar John. Este acenou-lhe e fez um gesto na direção<strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r escureci<strong>do</strong> que levava ao estúdio.— Senhor, chegou um mensageiro.— Mensageiro? — Thom<strong>as</strong> franziu o sobrolho. — Quem é ele?— Um estrangeiro, senhor — respondeu John, semicerran<strong>do</strong> os olhospara mostrar a desconfiança que sentia. — Disse que se chamava Philippede Nanterre.Thom<strong>as</strong> manteve-se cala<strong>do</strong> por momentos.— Não reconheço esse nome. Disse quem o enviou, ou que tipo demensagem traz?— Afirmou que a mensagem era destinada apen<strong>as</strong> aos vossos ouvi<strong>do</strong>s,senhor.Thom<strong>as</strong> sentiu um toque de ansiedade. O que estaria um francês a fazerem Inglaterra, na sua c<strong>as</strong>a, se não fosse para relembrar algum <strong>as</strong>peto deuma vida p<strong>as</strong>sada, já há muito posta de parte?— Onde está ele? — perguntou, enquanto franzia <strong>as</strong> s<strong>obra</strong>ncelh<strong>as</strong>.— Na entrada, senhor. — John encolheu os ombros — Pareceu-me omelhor.— Pede-lhe que entre e deixa que se aqueça ao fogo <strong>do</strong> salão. É um atocristão oferecer-lhe hospitalidade, especialmente nesta altura <strong>do</strong> ano.53

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