janela, dirigin<strong>do</strong>-se à lareira onde colocou cuida<strong>do</strong>samente mais <strong>do</strong>is pedaçosde lenha. Contemplou-os por momentos, f<strong>as</strong>cina<strong>do</strong> com a forma comoo vapor se escapava a <strong>as</strong>sobiar pel<strong>as</strong> fend<strong>as</strong> da madeira, até que um estalosúbito e uma chuva de fagulh<strong>as</strong> anunciou a aparição de uma chama brilhantee amarelada no seio d<strong>as</strong> br<strong>as</strong><strong>as</strong> que rebrilhavam por baixo da madeira.Voltou ao lugar e sentou-se de novo, dirigin<strong>do</strong> o olhar para <strong>as</strong> sombr<strong>as</strong>que cresciam no exterior.Por cima <strong>do</strong>s estalos da lenha, ouviu sons que denunciavam algumacomoção na entrada, e a sua curiosidade foi despertada. Havia apen<strong>as</strong> umpunha<strong>do</strong> de servos a viverem na mansão. Não tinha necessidade de maisgente. Seguramente não precisava d<strong>as</strong> dúzi<strong>as</strong> de cria<strong>do</strong>s que tinham cuida<strong>do</strong><strong>do</strong>s seus pais e irmãos havia muito tempo, na sua infância, ainda antesde o pai lhe ter arranja<strong>do</strong> um lugar na Ordem. Os seus pais tinham faleci<strong>do</strong>pouco tempo depois de Thom<strong>as</strong> deixar a Inglaterra, e sobre isso receberaapen<strong>as</strong> uma carta escrita em tom austero <strong>do</strong> seu irmão mais velho, Edward,que o informara da <strong>do</strong>ença que os levara a ambos num intervalo de poucosdi<strong>as</strong>. Depois fora Edward a sucumbir num acidente de caça e, no anoseguinte, o jovem Robert morrera no mar, ao serviço de um corsário cujaúnica presa fora a disenteria que varrera a tripulação, deixan<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong>apen<strong>as</strong> uma meia dúzia de figur<strong>as</strong> esquelétic<strong>as</strong> que mal tinham consegui<strong>do</strong>regressar a Dartmouth alguns meses depois. Ao regressar a c<strong>as</strong>a, Thom<strong>as</strong>escutara a história da boca da criada que fora a ama de Robert. Robert tinh<strong>as</strong>empre si<strong>do</strong> o favorito da família, de cabelo claro e sempre bem-disposto,com um gosto pela aventura, muito ao contrário de Thom<strong>as</strong>, cala<strong>do</strong> e sempreencafua<strong>do</strong> em si mesmo. M<strong>as</strong> Thom<strong>as</strong> nunca tivera inveja <strong>do</strong> irmão,nem alguma vez desejara alcançar a sua popularidade. Ao invés, limitara-sea amá-lo como to<strong>do</strong>s os outros.E agora era o único que restava. Vivia sozinho, à parte o cria<strong>do</strong>, John,uma i<strong>do</strong>sa criada, Hannah, e um jovem que cuidava <strong>do</strong> estábulo e <strong>do</strong>s seiscavalos que lhe restavam, bem como <strong>do</strong> picadeiro por trás da mansão. Stephenraramente falava com os outros, e era mais cavalo <strong>do</strong> que homem, acrer em Hannah. Além destes, o único outro servo da família era o responsávelpela propriedade, que vivia em Bishops Stortford e supervisionava osrendeiros que trabalhavam a terra, recolhen<strong>do</strong> <strong>as</strong> rend<strong>as</strong> e entregan<strong>do</strong>-<strong>as</strong>no banco em nome <strong>do</strong> seu senhor, a quem enviava um relatório sobre osnegócios du<strong>as</strong> vezes por ano.A mansão de Hertfordshire era pertença da família desde havia oitogerações. Thom<strong>as</strong> era o último na linhagem da família. Nunca se c<strong>as</strong>ara, enão tinha herdeiros. Quan<strong>do</strong> morresse, a propriedade p<strong>as</strong>saria para a possede um primo distante, um homem que Thom<strong>as</strong> nunca conhecera e porquem nada sentia.52
De tempos a tempos alguns amigos <strong>do</strong> pai tinham tenta<strong>do</strong> arranjar-lheum c<strong>as</strong>amento. Tinha, educada m<strong>as</strong> insistentemente, declina<strong>do</strong> tod<strong>as</strong> <strong>as</strong>perspetiv<strong>as</strong> que lhe eram oferecid<strong>as</strong>. Algum<strong>as</strong> dess<strong>as</strong> mulheres vinham debo<strong>as</strong> famíli<strong>as</strong>, eram atraentes e até mesmo inteligentes. M<strong>as</strong> nenhuma puder<strong>as</strong>uperar o mais ínfimo termo de comparação com Maria, e só serviampara lhe lembrar tu<strong>do</strong> o que perdera e que nunca poderia recuperar naquelavida. E a natureza da sua separação fora tal que pouca esperança haviade que qualquer poder divino lhes permitisse voltarem a reunir-se na vidaeterna. Era no espírito dessa perda perpétua que Thom<strong>as</strong> vivia a sua vida.Depois de Maria nada mais existia, apen<strong>as</strong> o excruciante lembrar <strong>do</strong> toque,<strong>do</strong> gesto, <strong>do</strong> sorriso, da expressão, <strong>do</strong>s fragmentos de momentos em quetinham esta<strong>do</strong> nos braços um <strong>do</strong> outro.Durante momentos <strong>as</strong> memóri<strong>as</strong> <strong>as</strong>saltaram-no sem quartel, e Thom<strong>as</strong>viu-se obriga<strong>do</strong> a abanar a cabeça, furioso, enquanto apertava os punhose olhava pela janela, sem ver a serenidade silenciosa que se estendia àsua frente. Por fim o momento p<strong>as</strong>sou e ele suspirou, a exalação aliviada dealguém que acaba de p<strong>as</strong>sar pel<strong>as</strong> mãos e faca <strong>do</strong> cirurgião.Escutou-se um bater à porta <strong>do</strong> estúdio, e Thom<strong>as</strong> af<strong>as</strong>tou o olhar dajanela.— Sim?A tranca subiu e a escura e pesada porta de carvalho abriu-se para ointerior, deixan<strong>do</strong> p<strong>as</strong>sar John. Este acenou-lhe e fez um gesto na direção<strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r escureci<strong>do</strong> que levava ao estúdio.— Senhor, chegou um mensageiro.— Mensageiro? — Thom<strong>as</strong> franziu o sobrolho. — Quem é ele?— Um estrangeiro, senhor — respondeu John, semicerran<strong>do</strong> os olhospara mostrar a desconfiança que sentia. — Disse que se chamava Philippede Nanterre.Thom<strong>as</strong> manteve-se cala<strong>do</strong> por momentos.— Não reconheço esse nome. Disse quem o enviou, ou que tipo demensagem traz?— Afirmou que a mensagem era destinada apen<strong>as</strong> aos vossos ouvi<strong>do</strong>s,senhor.Thom<strong>as</strong> sentiu um toque de ansiedade. O que estaria um francês a fazerem Inglaterra, na sua c<strong>as</strong>a, se não fosse para relembrar algum <strong>as</strong>peto deuma vida p<strong>as</strong>sada, já há muito posta de parte?— Onde está ele? — perguntou, enquanto franzia <strong>as</strong> s<strong>obra</strong>ncelh<strong>as</strong>.— Na entrada, senhor. — John encolheu os ombros — Pareceu-me omelhor.— Pede-lhe que entre e deixa que se aqueça ao fogo <strong>do</strong> salão. É um atocristão oferecer-lhe hospitalidade, especialmente nesta altura <strong>do</strong> ano.53
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mou as outras potências europeias
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chard assentiu e apressou-se a desc
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elmo. Richard usava um modelo comum
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ferro penetrou no casco da galera e