movimento. Avistou por fim a forma qu<strong>as</strong>e invisível de um pequeno bote,no qual homens se esforçavam aos remos. Um tremor de alívio p<strong>as</strong>sou-lhepelo coração quan<strong>do</strong> viu a pequena embarcação a aproximar-se da galera,ao sabor <strong>do</strong> movimento d<strong>as</strong> pás <strong>do</strong>s remos.— Parem… — ordenou La Valette em voz baixa, e no instante seguinteescutou-se um baque sur<strong>do</strong>, que marcou o choque <strong>do</strong> bote contra <strong>as</strong> sólid<strong>as</strong>madeir<strong>as</strong> <strong>do</strong> c<strong>as</strong>co. Uma corda serpenteou pelo ar e foi agarrada por um<strong>do</strong>s marinheiros. La Valette subiu rapidamente, enquanto Thom<strong>as</strong> descia<strong>do</strong> c<strong>as</strong>telo da proa para se encontrar com o capitão. Os outros cavaleiros eoficiais aglomeraram-se ao re<strong>do</strong>r.— O galeão ainda lá está, senhor? — indagou Stokely.— Está, sim. Os turcos <strong>do</strong>rmem como bebés — anunciou La Valette.— A tripulação <strong>do</strong> galeão não nos vai dar problem<strong>as</strong>.Stokely fechou <strong>as</strong> mãos, palma com palma.— Graç<strong>as</strong> a Deus.— De facto — <strong>as</strong>sentiu o capitão. — O Senhor abençoou-nos com umaexcelente oportunidade, e foi essa a razão por que me atr<strong>as</strong>ei a regressar…— La Valette fez uma pausa para se certificar de que to<strong>do</strong>s os seus segui<strong>do</strong>resestavam atentos ao que anunciava. — O galeão não será a única presaa pertencer-nos quan<strong>do</strong> este combate estiver termina<strong>do</strong>. Du<strong>as</strong> galer<strong>as</strong> corsári<strong>as</strong>juntaram-se a ele. Estão ancorad<strong>as</strong> aqui perto. Meus senhores, temosuma rica recompensa à nossa espera.Fez-se um momento de silêncio enquanto os outros homens tomavamconsciência d<strong>as</strong> novidades. Thom<strong>as</strong> olhou em re<strong>do</strong>r para <strong>as</strong> faces <strong>do</strong>s companheiros,e reparou que alguns trocavam olhares nervosos. O mestre dagalera, responsável pelo velame, limpou a garganta e comentou:— Senhor, isso põe-nos numa desproporção de três para um.— Não. Dois para um. O galeão pouca importância tem ness<strong>as</strong> cont<strong>as</strong>.Depois de termos trata<strong>do</strong> da saúde às galer<strong>as</strong>, cairá n<strong>as</strong> noss<strong>as</strong> mãos semdificuldade.— Ainda <strong>as</strong>sim, seria temerário tentar um ataque — protestou outro.— Especialmente agora, que a aurora se aproxima velozmente. Teremos denos retirar.— Retirar? — La Valette soltou uma exclamação brusca. — Nunca.Qualquer homem ao serviço da Ordem vale pelo menos por uns cinco turcos.Além disso, Deus está connosco. Por isso, são os turcos que têm menosgente. M<strong>as</strong> não vamos exigir dem<strong>as</strong>ia<strong>do</strong> à providência divina, sim? Comodizeis, depressa a manhã se levanta. Portanto, senhores, temos muito poucotempo a perder. A galera está a postos?— Sim, senhor — respondeu o mestre, com um aceno.— E os homens?16
— Sim, senhor — esclareceu Thom<strong>as</strong>. — Já mandei que se prepar<strong>as</strong>sem.— Ótimo. — La Valette olhou em volta para os seus oficiais e ergueuum punho. — Vamos então fazer a <strong>obra</strong> <strong>do</strong> Senhor, e soltar a sua ira sobreo Turco infiel!Já se notava alguma claridade no horizonte oriental quan<strong>do</strong> o Corça Velozcomeçou a d<strong>obra</strong>r o promontório. Por trás da ponta rochosa, a baía abria-senum v<strong>as</strong>to crescente com mais de cinco quilómetros de largura. As silhuet<strong>as</strong><strong>do</strong> galeão e d<strong>as</strong> du<strong>as</strong> galer<strong>as</strong> salientavam-se perfeitamente contra a faixapálida da areia da praia, sobre a qual se avistava um tími<strong>do</strong> brilho alaranja<strong>do</strong>,vin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s restos de uma fogueira que aquecia ainda os que a rodeavam.— Chegámos tarde de mais — comentou Stokely, ao la<strong>do</strong> de Thom<strong>as</strong>no convés. — O dia n<strong>as</strong>cerá muito antes de os alcançarmos. Os turcosver-nos-ão chegar, com toda a certeza.— Não. Vimos <strong>do</strong> poente, a escuridão ainda nos dará cobertura pormais algum tempo. — Thom<strong>as</strong> já vira La Valette utilizar aquela tática nosseus ataques ao inimigo, e era uma forma comprovada de disfarçar a suaaproximação até ao último momento.— Só se os turcos forem completamente cegos.Thom<strong>as</strong> engoliu a irritação que começava a sentir. Aquela era a primeira“caravana” de Stokely, como a Ordem chamava às campanh<strong>as</strong> no mar. Ojovem cavaleiro acabaria por aprender a confiar na experiência <strong>do</strong>s capitãesque combatiam os turcos havia muitos anos — desde que vivesse tempo suficientepara isso, refletiu. Havia muit<strong>as</strong> form<strong>as</strong> de um cavaleiro ao serviçoda Santa Fé partir ao encontro <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r. Combate, <strong>do</strong>ença, afogamento,to<strong>do</strong>s eles c<strong>obra</strong>vam a sua parte, sem cuidar de qual era a <strong>as</strong>cendência deum homem, se provinha de uma d<strong>as</strong> mais nobres famíli<strong>as</strong> da Europa ouse n<strong>as</strong>cera na sarjeta. O afogamento, em particular, era um perigo sempre<strong>presente</strong>. A armadura metálica que protegia um cavaleiro na batalha, bemcomo o resto <strong>do</strong> seu equipamento, era suficientemente pesada para o enviardiretamente para o fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> oceano, se por ac<strong>as</strong>o tivesse o azar de cair paraa água.Thom<strong>as</strong> olhou ao longo da galera, notan<strong>do</strong> <strong>as</strong> posições <strong>do</strong>s gruposde solda<strong>do</strong>s, alguns <strong>do</strong>s quais equipa<strong>do</strong>s com best<strong>as</strong>, e avistou La Valetteà popa, apruma<strong>do</strong>, rígi<strong>do</strong>, ao la<strong>do</strong> da seca figura <strong>do</strong> mestre da galera. Nenhumhomem erguia a voz acima de um murmúrio, e o único som que seescutava era o d<strong>as</strong> ond<strong>as</strong> a desabarem sobre os pene<strong>do</strong>s na b<strong>as</strong>e <strong>do</strong> promontório,além <strong>do</strong> ranger ritma<strong>do</strong> <strong>do</strong>s remos e <strong>do</strong> mergulho d<strong>as</strong> pás naágua. Depois de a galera ter rodea<strong>do</strong> o promontório, o timoneiro dirigiuo Corça Veloz para a costa, apontan<strong>do</strong> à mais próxima d<strong>as</strong> galer<strong>as</strong> inimi-17
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haveis criticado Sir Robert e a mim
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esponder não apenas ao seu rei, ma
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— Não. Do que sei de vós, Sir T
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nhecer melhor o jovem. Sabia bem, p
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12Ocaminho pelo Norte de Espanha pa
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de gaivotas, pontos negros contra o
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— Glória, pois, é para isso que
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quenta e muitos anos. O cabelo era
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13Aflotilha tinha deixado o porto d
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chard assentiu e apressou-se a desc
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elmo. Richard usava um modelo comum
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ferro penetrou no casco da galera e