e uma pequena lareira ladeada por uma pilha de combustível. O homemlevou-lhes uma candeia e algum pão e queijo, além de um jarro de vinho,antes de lhes desejar uma boa noite. Ouviram a porta <strong>do</strong> edifício a serfechada e aferrolhada.— E pronto, cá estamos. — Thom<strong>as</strong> soltou um suspiro enquanto p<strong>as</strong>seavao olhar pelo quarto. — Fico na cama mais próxima da lareira.— Como desejardes.Agora que estavam a sós, Thom<strong>as</strong> reparou que o seu companheiro tinhadeixa<strong>do</strong> de empregar a deferência que um escudeiro devia ao seu cavaleiro.— Podes acender o fogo antes de comermos. Temos de nos aquecer esecar <strong>as</strong> roup<strong>as</strong>.Richard fez uma careta, m<strong>as</strong> antes que ele abrisse a boca, Thom<strong>as</strong> levantouum de<strong>do</strong> num aviso claro.— Sei muito bem o que estás a pensar.— Nesse c<strong>as</strong>o, porque não mo dizeis?— Foste envia<strong>do</strong> numa missão a man<strong>do</strong> de Sir Robert Cecil, e não par<strong>as</strong>er realmente o meu escudeiro, e começ<strong>as</strong> a ficar farto disso.— Gostava de saber porque me sentiria <strong>as</strong>sim? Afinal, sou um homemeduca<strong>do</strong>. Estudei em Cambridge, falo vári<strong>as</strong> língu<strong>as</strong>, desempenhei vári<strong>as</strong>missões valios<strong>as</strong> para o secretário de Esta<strong>do</strong>. E tu<strong>do</strong> isso me preparou perfeitamentepara ser o capacho de um cavaleiro que há muito já p<strong>as</strong>sou o seuapogeu. — Fez uma pausa e rangeu os dentes, antes de concluir de formaapologética. — Peço o vosso perdão, estou gela<strong>do</strong>, e exausto. Falei sem pensar.Thom<strong>as</strong> riu e abanou a cabeça, <strong>as</strong>sombra<strong>do</strong>.— Foi o mais longo discurso que me dirigiste desde que deixámos Inglaterra.Dever<strong>as</strong>.Richard encolheu os ombros, abriu o fecho da capa e deixou-a cair nochão, ensopada.— Bem, é bom saber um pouco da tua história — prosseguiu Thom<strong>as</strong>em tom diverti<strong>do</strong>. — E que ach<strong>as</strong> que os meus melhores anos já estão nop<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> distante.— Peço desculpa.— Não é necessário. Tens razão, já não sou o guerreiro que fui na juventude.M<strong>as</strong> garanto-te que quan<strong>do</strong> tinha a tua idade, o meu corpo estavatão tonifica<strong>do</strong> como o teu. Talvez mais ainda. Se calhar até hoje, quem sabe?O jovem tinha removi<strong>do</strong> a veste de couro e tira<strong>do</strong> a camisa de lã antesde olhar para Thom<strong>as</strong> com uma expressão divertida.— Quereis experimentar a vossa força contra a minha?— Ach<strong>as</strong> que tenho algum receio de o fazer?88
— Não. Do que sei de vós, Sir Thom<strong>as</strong>, concluo que não. M<strong>as</strong> pensotambém que tal desafio seria imprudente da vossa parte.Thom<strong>as</strong> franziu uma s<strong>obra</strong>ncelha, m<strong>as</strong> manteve-se cala<strong>do</strong> enquantoremovia também <strong>as</strong> vestes encharcad<strong>as</strong>, até ficar de pé só em bot<strong>as</strong> e calções,e revelar o poderoso torso que ainda possuía. As marc<strong>as</strong> branc<strong>as</strong> eretorcid<strong>as</strong> na pele denunciavam antig<strong>as</strong> cicatrizes e eram claramente visíveisao brilho páli<strong>do</strong> da candeia; notou que Richard o contemplava comcuriosidade, antes de desviar o olhar, embaraça<strong>do</strong>.— Eu vou acender a lareira — anunciou Thom<strong>as</strong>. — Está ali outra candeia.Pega nela e vai ver se descobres mais cobertores por aí. Quero p<strong>as</strong>saruma última noite bem aqueci<strong>do</strong> antes de seguirmos viagem.Richard <strong>as</strong>sentiu. Aproveitou uma palha tirada de um <strong>do</strong>s colchõespara fazer uma acendalha e deu lume ao pavio da candeia antes de sair <strong>do</strong>quarto. A sós, Thom<strong>as</strong> agachou-se lentamente no chão ao la<strong>do</strong> da lareira.A pele húmida parecia ainda mais fria naquele ar gela<strong>do</strong>, e ele estremeceuenquanto preparava uma acendalha de pequenos paus sobre uma cama depalha, a que aplicou a chama. O fogo pegou de imediato e ele debruçou-se,sopran<strong>do</strong> gentilmente para ajudar a chama a crescer. Daí a pouco já se ouviao <strong>as</strong>sobio e o crepitar d<strong>as</strong> cham<strong>as</strong> que rodeavam o material na lareira.Quan<strong>do</strong> Richard regressou, já o quarto era ilumina<strong>do</strong> com o tom rosa<strong>do</strong> <strong>do</strong>fogo bem desenvolvi<strong>do</strong>, e <strong>as</strong> sombr<strong>as</strong> dançavam n<strong>as</strong> paredes.— Cá estão. — Richard trazia ao peito alguns cobertores, e p<strong>as</strong>sou-lheum. — Encontrei-os num armário. Almofad<strong>as</strong> também, se vos forem necessári<strong>as</strong>.— P<strong>as</strong>so bem sem el<strong>as</strong>. — Thom<strong>as</strong> acenou um agradecimento e pegouna manta, desd<strong>obra</strong>n<strong>do</strong>-a rapidamente e lançan<strong>do</strong>-a sobre os ombros, antesde colocar mais alguma lenha na lareira.Richard pegou também numa manta e sentou-se na borda da camaque Thom<strong>as</strong> escolhera, debruçan<strong>do</strong>-se ligeiramente para melhor receber ocalor <strong>do</strong> fogo. O silêncio instalou-se, até que ele decidiu falar.— Ess<strong>as</strong> cicatrizes. Foi ao serviço da Ordem que <strong>as</strong> conseguistes?— Algum<strong>as</strong>. Outr<strong>as</strong> foram obtid<strong>as</strong> noutr<strong>as</strong> paragens. — Thom<strong>as</strong>recostou-se de forma a ficar de frente para o jovem. Tocou no ombroesquer<strong>do</strong>. — Uma seta acertou-me aqui, na Flandres. Foi só músculo,m<strong>as</strong> sangrei como um porco, se bem me lembro. — Moveu a mão para opeito esquer<strong>do</strong>. — Aqui foi um golpe de adaga, profun<strong>do</strong>. Esta foi numaexpedição ao porto de Argel. La Valette não queria que <strong>as</strong> armadur<strong>as</strong> nosdificult<strong>as</strong>sem os movimentos. Houve uma escaramuça a bor<strong>do</strong> de um galeãoque atacámos, e um corsário saltou d<strong>as</strong> sombr<strong>as</strong> à minha frente edesferiu o golpe. A segunda estocada teria acaba<strong>do</strong> comigo, m<strong>as</strong> o capitãointerpôs-se e liqui<strong>do</strong>u-o. — Thom<strong>as</strong> olhou para o fogo, a testa franzida ao89
- Page 1:
A presente obra respeita as regrasd
- Page 5 and 6:
da mente. Se La Valette tivesse sid
- Page 7 and 8:
ordens a serem transmitidas, e um g
- Page 9 and 10:
— Sim, senhor — esclareceu Thom
- Page 11 and 12:
Um estrondo soou de repente, e Thom
- Page 13 and 14:
to, e ouviu-se um estalo quando uma
- Page 15 and 16:
Um movimento atraiu-lhe o olhar, pe
- Page 17 and 18:
equipagem de um dos canhões. Thoma
- Page 19 and 20:
avançou, atacando o pique e fazend
- Page 21 and 22:
tendão dos seus braços, continuou
- Page 23 and 24:
Thomas anuiu.— Senhor, compreendo
- Page 25 and 26:
Alguns limitaram-se a tombar e chor
- Page 27 and 28:
sentado no convés. Thomas contempl
- Page 29 and 30: Stokely espreitou para a escotilha.
- Page 31 and 32: 5Malta, dois meses depoisOcrescente
- Page 33 and 34: e a pele esticada ao canto da boca
- Page 35 and 36: Uma mudança de ideias, ou outra ca
- Page 37 and 38: desespero e angústia enquanto as t
- Page 39 and 40: — Pergunto-me se será esse o cas
- Page 41 and 42: — Como vos atreveis? — lançou
- Page 43 and 44: leveza. Tinha já alguns traços de
- Page 45 and 46: De tempos a tempos alguns amigos do
- Page 47 and 48: John resmungou, mas sabia perfeitam
- Page 49 and 50: abrir o fecho. Procurou no interior
- Page 51 and 52: citar-lhe detalhes que a prudência
- Page 53 and 54: tre ouviram-no dos lábios do próp
- Page 55 and 56: para o silenciar, e depois de uma b
- Page 57 and 58: — Homem, o teu senhor está? Avis
- Page 59 and 60: 9LondresAescuridão crescia à medi
- Page 61 and 62: a percorrer. A coluna desordenada d
- Page 63 and 64: — Hidromel? — As sobrancelhas d
- Page 65 and 66: — Ao que vejo. Chegastes a Londre
- Page 67 and 68: 10Portanto, e tal como suspeitara j
- Page 69 and 70: mundo está repleto de pecadores qu
- Page 71 and 72: haveis criticado Sir Robert e a mim
- Page 73 and 74: — Sim — admitiu Cecil, sem hesi
- Page 75 and 76: terá de se tornar a tua segunda na
- Page 77 and 78: vento que se levantava em rajadas.
- Page 79: esponder não apenas ao seu rei, ma
- Page 83 and 84: nhecer melhor o jovem. Sabia bem, p
- Page 85 and 86: 12Ocaminho pelo Norte de Espanha pa
- Page 87 and 88: coluna e chegar antes dela ao port
- Page 89 and 90: de gaivotas, pontos negros contra o
- Page 91 and 92: — Glória, pois, é para isso que
- Page 93 and 94: quenta e muitos anos. O cabelo era
- Page 95 and 96: mou as outras potências europeias
- Page 97 and 98: 13Aflotilha tinha deixado o porto d
- Page 99 and 100: chard assentiu e apressou-se a desc
- Page 101 and 102: elmo. Richard usava um modelo comum
- Page 103 and 104: ferro penetrou no casco da galera e