Thom<strong>as</strong> agitou um de<strong>do</strong> em frente ao mensageiro.— É evidente que não compreendeis realmente <strong>as</strong> divisões que existementre <strong>as</strong> diferentes nacionalidades na Ordem. No meu tempo, discutíamosentre nós qu<strong>as</strong>e com tanta ferocidade como aquela com que nos lançávamossobre os infiéis.— Nesse c<strong>as</strong>o, senhor, creio que não encontrareis grandes mudanç<strong>as</strong>quan<strong>do</strong> chegardes a Malta.— Chegar a Malta? — Thom<strong>as</strong> olhou-o com intensidade. — Rapaz,não tenteis presumir aquilo de que nada sabeis. O que vos faz pensar queirei a correr pôr-me ao serviço daqueles que me exilaram? Se foram honestosconvosco, Philippe, deveis estar ao corrente d<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> quelevaram à minha saída de Malta.Philippe abanou a cabeça.— Tu<strong>do</strong> o que ouvi foi que em tempos haveis esta<strong>do</strong> envolvi<strong>do</strong> numqualquer escândalo. Nada mais me disseram.— Nesse c<strong>as</strong>o, continuam rígi<strong>do</strong>s e convenci<strong>do</strong>s como sempre. Nadalhes devo.— Proferistes um juramento. Desse juramento não há forma de sair,senhor… A não ser pela morte.Thom<strong>as</strong> olhou para <strong>as</strong> sombr<strong>as</strong> no canto da cozinha, e lançou um sorrisoamargo.— Dá-me ideia que to<strong>do</strong>s os membros da Ordem se verão dessa formalivres <strong>do</strong> seu juramento, muito em breve.— Não estaremos sozinhos, senhor. O Grão-Mestre apelou ao auxíliode to<strong>do</strong>s os reinos cristãos. Se responderem, por certo triunfaremos sobreos infiéis.A fé pouco sofisticada <strong>do</strong> jovem encheu de tristeza o veterano cavaleiro.Philippe, e centen<strong>as</strong> como ele, enfrentariam a morte agarra<strong>do</strong>s àquel<strong>as</strong>noções idealist<strong>as</strong>, como se fossem relíqui<strong>as</strong> sagrad<strong>as</strong> pel<strong>as</strong> quais combater emorrer. Thom<strong>as</strong> tinha alimenta<strong>do</strong> a esperança de nunca mais se ver arr<strong>as</strong>ta<strong>do</strong>para tamanha tolice, e tentou explicar, pela compaixão que sentia peloseu hóspede.— Dizei-me, Philippe, desde que haveis deixa<strong>do</strong> Malta para vir atéaqui, não haveis por ac<strong>as</strong>o p<strong>as</strong>sa<strong>do</strong> por algum reino cristão envolvi<strong>do</strong> numaqualquer espécie de conflito com o seu vizinho? Não conheceis a sorte quemilhares de católicos sofreram neste país? Enquanto nós, cristãos, estivermostão empenha<strong>do</strong>s em nos destruirmos uns aos outros, que hipóteseshá de nos juntarmos para resistir ao avanço <strong>do</strong>s infiéis? Não haverá maiscruzad<strong>as</strong>. Esquecemos a única e verdadeira Igreja <strong>do</strong> Senhor, e Solimão é onosso c<strong>as</strong>tigo. O nosso julgamento.Philippe abriu a boca para protestar, m<strong>as</strong> Thom<strong>as</strong> ergueu uma mão62
para o silenciar, e depois de uma breve pausa prosseguiu em tom calmo eresigna<strong>do</strong>.— Voltai para junto <strong>do</strong> Grão-Mestre, e dizei-lhe que eu irei. Não paramorrer por aqueles que me exilaram. Não para morrer pela fé. M<strong>as</strong> irei,por razões que só a mim dizem respeito. — Levantou-se — Agora, voudeitar-me. O meu servo dar-vos-á acomodações para a noite. Calculo quequeirais partir para York logo pela alvorada.Philippe <strong>as</strong>sentiu, e quan<strong>do</strong> Thom<strong>as</strong> se dirigiu para a porta, o jovemmensageiro fez menção de falar.— Sir Thom<strong>as</strong>. Tendes a minha gratidão, e a de to<strong>do</strong>s os nossos irmãosem Malta.Thom<strong>as</strong> deteve-se à porta, m<strong>as</strong> não se voltou. Ao invés, os ombros descaíram-lhe,e lançou um profun<strong>do</strong> suspiro.— Gratidão? Nada tenho aqui que me prenda, e gostaria de rever Maltaantes de partir. É tu<strong>do</strong>.Saiu da cozinha e viu John a levantar-se de um banco no corre<strong>do</strong>r. Fezum gesto na direção da cozinha ao p<strong>as</strong>sar pelo cria<strong>do</strong>.— Trata dele. Tenciona partir antes de eu me levantar amanhã de manhã.— Sim, senhor.Thom<strong>as</strong> foi-se deitar de imediato, enquanto <strong>as</strong> memóri<strong>as</strong>, reavivad<strong>as</strong>pelo mensageiro, ro<strong>do</strong>piavam na sua mente. Hannah tinha coloca<strong>do</strong>uma tábua aquecida entre <strong>as</strong> mant<strong>as</strong>, m<strong>as</strong>, mesmo com essa ajuda, nãoconseguiu acomodar-se, e o sono não veio, afugenta<strong>do</strong> que era por um<strong>as</strong>ucessão de imagens e emoções que não se deixavam banir da cabeça. Porfim desistiu, e ficou a contemplar o teto <strong>do</strong> quarto, e a escutar o gemer <strong>do</strong>vento na lareira. A perspetiva de um regresso a Malta era agri<strong>do</strong>ce. Era olocal onde em tempos estivera certo de pertencer. Era lá que tinha ama<strong>do</strong>Maria. Talvez até, por alguma espécie de milagre, ela vivesse ainda, ealberg<strong>as</strong>se aquele mesmo amor que nunca o deixara em to<strong>do</strong>s os anosde separação. Amaldiçoou-se por ser um velho tonto, virou-se de la<strong>do</strong> econseguiu por fim a<strong>do</strong>rmecer.Quan<strong>do</strong> acor<strong>do</strong>u, o vento tinha morri<strong>do</strong> e um sol radioso inundava-lheo quarto por uma fresta n<strong>as</strong> cortin<strong>as</strong>. O lume na fogueira tinha-se apaga<strong>do</strong>também, havia muit<strong>as</strong> hor<strong>as</strong>, e nos vidros d<strong>as</strong> janel<strong>as</strong> tinha-se acumula<strong>do</strong>gelo. Ergueu-se rigidamente e sentou-se na borda da cama por momentos,enquanto relembrava os acontecimentos da noite anterior. Estava convenci<strong>do</strong>da justeza da sua decisão. De qualquer forma, àquela hora o mensageirojá teria parti<strong>do</strong>, e levaria a sua resposta até Malta. Era dem<strong>as</strong>ia<strong>do</strong> tardepara mudar de idei<strong>as</strong>. Teria portanto de se preparar mais uma vez para aguerra. Com essa ideia em mente, vestiu-se e dirigiu-se ao estúdio, onde63
- Page 1:
A presente obra respeita as regrasd
- Page 5 and 6: da mente. Se La Valette tivesse sid
- Page 7 and 8: ordens a serem transmitidas, e um g
- Page 9 and 10: — Sim, senhor — esclareceu Thom
- Page 11 and 12: Um estrondo soou de repente, e Thom
- Page 13 and 14: to, e ouviu-se um estalo quando uma
- Page 15 and 16: Um movimento atraiu-lhe o olhar, pe
- Page 17 and 18: equipagem de um dos canhões. Thoma
- Page 19 and 20: avançou, atacando o pique e fazend
- Page 21 and 22: tendão dos seus braços, continuou
- Page 23 and 24: Thomas anuiu.— Senhor, compreendo
- Page 25 and 26: Alguns limitaram-se a tombar e chor
- Page 27 and 28: sentado no convés. Thomas contempl
- Page 29 and 30: Stokely espreitou para a escotilha.
- Page 31 and 32: 5Malta, dois meses depoisOcrescente
- Page 33 and 34: e a pele esticada ao canto da boca
- Page 35 and 36: Uma mudança de ideias, ou outra ca
- Page 37 and 38: desespero e angústia enquanto as t
- Page 39 and 40: — Pergunto-me se será esse o cas
- Page 41 and 42: — Como vos atreveis? — lançou
- Page 43 and 44: leveza. Tinha já alguns traços de
- Page 45 and 46: De tempos a tempos alguns amigos do
- Page 47 and 48: John resmungou, mas sabia perfeitam
- Page 49 and 50: abrir o fecho. Procurou no interior
- Page 51 and 52: citar-lhe detalhes que a prudência
- Page 53: tre ouviram-no dos lábios do próp
- Page 57 and 58: — Homem, o teu senhor está? Avis
- Page 59 and 60: 9LondresAescuridão crescia à medi
- Page 61 and 62: a percorrer. A coluna desordenada d
- Page 63 and 64: — Hidromel? — As sobrancelhas d
- Page 65 and 66: — Ao que vejo. Chegastes a Londre
- Page 67 and 68: 10Portanto, e tal como suspeitara j
- Page 69 and 70: mundo está repleto de pecadores qu
- Page 71 and 72: haveis criticado Sir Robert e a mim
- Page 73 and 74: — Sim — admitiu Cecil, sem hesi
- Page 75 and 76: terá de se tornar a tua segunda na
- Page 77 and 78: vento que se levantava em rajadas.
- Page 79 and 80: esponder não apenas ao seu rei, ma
- Page 81 and 82: — Não. Do que sei de vós, Sir T
- Page 83 and 84: nhecer melhor o jovem. Sabia bem, p
- Page 85 and 86: 12Ocaminho pelo Norte de Espanha pa
- Page 87 and 88: coluna e chegar antes dela ao port
- Page 89 and 90: de gaivotas, pontos negros contra o
- Page 91 and 92: — Glória, pois, é para isso que
- Page 93 and 94: quenta e muitos anos. O cabelo era
- Page 95 and 96: mou as outras potências europeias
- Page 97 and 98: 13Aflotilha tinha deixado o porto d
- Page 99 and 100: chard assentiu e apressou-se a desc
- Page 101 and 102: elmo. Richard usava um modelo comum
- Page 103 and 104: ferro penetrou no casco da galera e