EngenhariasNas duas sequências seguintes, com perguntasdiferentes, parece confirmar-se o que foi observado notrecho anterior:294E – E como o grupo chegou ao resultadofinal?A3 – É que antes de ela dar esse problema,ela já tinha explicado, aí a gente já tinhamais ou menos uma noção… Pelo menosdo meu grupo. Aí cada um foi dando umaidéia – Lembra disso, não sei o quê… Aífoi fazendo, fazendo… Aí tinha uns que jáse lembravam mais. Nessa parte foi bom,mas aí teve uma parte que se conversou umpouco… Teve umas brincadeiras… Mas euacho que valeu a pena. Acho que a gente foibem, por isso a professora estava filmandobastante a gente… Depois de fazer e de perguntaralgumas coisas para ela, que ajudoubastante, porque se não a gente não conseguiriachegar no final, não.E – Essas coisas que você falou: um lembravauma coisa; outro lembrava outra…Como vocês fizeram isso, antes de testar oudepois?A3 – Não, na hora que a gente estava lá agente ia testando:“– Não, mas isso está errado, é desse jeito…”“– É desse jeito…”Daí vai lembrando:“– Ah, mas ela também falou que era assim,que pode ser assim…”Aí vai na seqüência. Quando você vê, estátudo feito.Embora o trabalho e a interação coletiva, em umgrupo, adquiram um caráter bem mais abrangente doque apenas o da cultura científica, vale a pena ressaltarque esse tipo de compreensão pode desmistificar umaconcepção distorcida da ciência que, porventura, existana mente dos alunos. Conforme relata Capecchi (2004),a ciência é uma atividade humana construída socialmentea partir do emprego de ferramentas culturais.Em geral, os cursos de Física são caracterizadospelo acúmulo de informações, sendo estas produto daverdade absoluta descoberta pelos cientistas, o que écondizente com uma visão distorcida de ciência (GIL-PÉREZ et al., 2002a). Mesmo uma prática fechada delaboratório didático pode contribuir para a geraçãodessas visões distorcidas (GIL-PÉREZ; CASTRO, 1996;CAPECCHI, 2004).Outro elemento percebido na análise dessas duasúltimas respostas diz respeito ao papel da professora noprocesso de “enculturação científica”. Como já observado,o ensino por investigação pode assemelhar-se aotrabalho de uma equipe de investigação científica, guardadasas devidas proporções. O papel do professor seriao de um diretor de pesquisas (CAPECCHI, 2004; GIL-PÉREZ et al., 2001) que coordena o grupo.9.1 Visão de ciênciasNessa categoria, pretendemos verificar quais asvisões de ciência os alunos entrevistados têm a partirde sua interação com as ferramentas culturais a que estiveramexpostos durante o processo de ensino.Começamos com um trecho no qual analisamos asrespostas de dois alunos diferentes (A1 e A2) à questãosobre as diferenças e semelhanças que existiam entreo trabalho experimental, realizado por eles no laboratóriodidático aberto, e o desenvolvido pelos cientistas,segundo o que acreditavam ser o trabalho científico. Asrespostas foram as seguintes:A1 – É um pouco diferente porque o cientistatrabalha mais detalhadamente. Issofoi só uma experiência, para a gente entenderbem, para termos um incentivo detrabalho.A2 – Acho que sim. Eles primeiro tentam nateoria e depois vão para a prática. Foi o quenós fizemos. […] Acho que eles vêem a teoriaantes e depois experimentam na prática.No caso da primeira resposta, não há mençãoalguma ao objetivo de nossa investigação. No entanto,no segundo caso, percebemos que o aluno A2 cita queuma das semelhanças é o fato de que tanto eles (alunos)quanto os cientistas vão para a experimentação, munidosde um arsenal teórico.Essa visão relatada pelo aluno A2 vai no sentidocontrário da descrição de uma das distorções preconizadaspor Gil-Pérez et al. (2002b), a visão empirista,de que o cientista “descobre” a verdade por meio dasobservações, de forma alheia a um corpo teórico preexistenteque guie a investigação científica.Para o aluno A2, é possível que esse não seja maisum obstáculo ou, pelo menos, que tenha pouca predominânciasobre sua visão de ciências. Não é possívelverificar se apenas a prática do laboratório didáticoaberto ou a junção de um conjunto de atividades investigativaspossibilitaram uma mudança na visão deciências, ou se essas eram as visões prévias de ciênciasdesse estudante. No entanto, são ferramentas culturaispresentes em seu pensamento.III Seminário Nacional de Pesquisa, 2009.
EngenhariasA sequência a seguir reflete algumas observaçõesque podem ser bastante interessantes. Vejamos o trechode perguntas e respostas:E – […] esse trabalho em grupo, você achaque tem alguma semelhança com o trabalhodos cientistas, do que os físicos fazemou faziam?A3 – Semelhança tem, mas o grau de dificuldadeé bem maior.E – Que semelhanças você acha que tem?A3 – Para nós é mais fácil. A gente tem quequebrar a cabeça, pensar em hipóteses quenão estão lá. “– Será que da certo?” Os cientistasdevem pensar assim também. Mas eutive um professor que era da USP no outrocolégio. Ele disse que tinha que estudarmuito, e a gente têm que pensar em coisasbem diferentes para ver se dava certo e paraprogredir.E – Você esta falando de pensar na coisapara resolver?A3 – É, é isso.E – Antes de ter aula com a professora, vocêacha que é diferente ou igual do trabalhoque você tinha?A3 – Para mim, os cientistas, antes de teraula de Física, eles só ficavam fazendo contas,eles não tinham as experiências paraficar pensando. Era só conta, conta… Aí,depois você vai vendo coisa mais legal, maisdiferente. Aí sim que pensa muito.Ao descrever uma semelhança entre o trabalhodo cientista e o do estudante no laboratório didático,o aluno A3, inicialmente, refere-se ao seu como menoscomplexo que o do cientista. Afirma que o cientistatambém deve fazer como o grupo fez: pensar sobre, pormeio da elaboração de hipótese.O aluno A3 demonstra pensamentos bem articulados,tendo adquirido uma concepção de ciências,que ele mesmo afirma não possuir antes de estudarFísica. Antes das aulas, imaginava o trabalho científicobastante pragmático, recheado de manipulaçõesmatemáticas, sem realizar “experiências para ficar pensando”.Diferentemente, o aluno afirma que, após asaulas, o trabalho científico é marcado por pensar muitopara progredir, o que mostra que ele não imagina umaciência composta por pessoas especiais (diferentes damaioria dos seres humanos), que observam a natureza ededuzem, de forma fácil, as relações e conceitos físicos ematemáticos que as governam.Essa é uma visão adequada da ciência, de acordocom o que verificamos nos trabalhos de Gil-Pérez et al.(2001, 2002a, 2002b) e Pietrocola (2003).Pietrocola (2003) também reserva um papel importantepara a hipótese quando define a ciência, que podeser caracterizada como uma atividade humana que sepropõe a organizar explicações cada vez mais organizadasdo mundo por meio das hipóteses e teorias, pararesponder melhor como e por que os fenômenos naturaise cotidianos acontecem.O conjunto de trabalhos de Gil-Pérez et al. (2001,2002a e 2002b) afirma que o trabalho do aluno em atividadesinvestigativas pode assemelhar-se ao trabalhode uma equipe de investigação científica, e que ashipóteses assumem um papel preponderante diferentementedo observado no ensino tradicional, em que oproduto final é oferecido aos alunos como uma verdadefinal, resultado das observações dos cientistas, pessoasmais preparadas por serem gênios e conseguirem“enxergar” por detrás das observações. Os autores nãoquerem inverter o dogma empírico-positivista e relegaras observações à inutilidade, mas apenas diminuirsua influência, em uma visão inadequada da ciência.A hipótese passa a ter um papel bem mais relevante,desempenhando importante função na construção doconhecimento científico.O fato de verificarmos que as observações adequadasno trabalho científico do aluno A3 podemsignificar que seu contato com as ferramentas da culturacientífica, durante as aulas de campos físicos,numa visão construtivista dada pelo ensino de Físicapor investigação, contribuiu bastante para o desenvolvimentodessas visões.10 Considerações finaisPretendíamos verificar que a utilização de umensino construtivista, de caráter investigativo, auxiliana construção ou apropriação de alguns elementos dotrabalho científico.A observação de aulas não planejadas, para a verificaçãoda apropriação da cultura científica por partedos alunos, levou-nos a utilizar uma metodologia decoleta de dados com a filmagem em vídeo e as entrevistassemiestruturadas.A observação das aulas filmadas em vídeo mostrouque vários aspectos da cultura científica estavampresentes nessas aulas, principalmente em uma de laboratóriodidático aberto. Entre as diversas ferramentasculturais da ciência presentes nessa aula, observamosa existência de argumentações dos alunos, a construçãode hipóteses, a manipulação de equipamentos e o trabalhoem grupo.No entanto, nossas observações só evidenciama existência dessas ferramentas, mas não sua apro-III Seminário Nacional de Pesquisa, 2009. 295
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