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pesque-pague - Uninove

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Linguística Letras e Artes[….] os órgãos de comunicação se transformaramem novos órgãos de poder, emórgãos político-partidários, e é por isso queeles precisam recriar a realidade onde exerceresse poder, e para recriar a realidadeprecisam manipular as informações.Ao questionar a atuação do Senado, no caso dasdiretorias, a Folha desqualifica-o, sugere que o processonão foi transparente e que esse órgão do governo não éconfiável, a ponto de o jornal assumir a investigação docaso para que o público possa saber, de fato, o que estáocorrendo.Enunciado 4: “Principal palestrante de encontrocom mulheres de prefeitos, Marisa se cala.” (Folha de S.Paulo, 11 fev. 2009).Esse excerto trata da primeira-dama, Marisa, edo comportamento que teve durante o encontro commulheres de prefeitos em Brasília. Como principalpalestrante, esperava-se dela que proferisse um discursosignificativo; afinal, palestrantes sempre têm algoa dizer e, no caso da primeira-dama, muito mais, porser mulher do presidente. No entanto, ela nada disse,calou-se. Por meio da seleção do verbo “calar” (pronominalizado,“se cala”), o jornalista teve como objetivomostrar que a primeira-dama não tem nada a dizer, éincapaz de dizer algo que valha a pena ouvir. Dessaforma, o autor do texto elimina a autoridade e o significadoque tem a primeira-dama de nosso País. O silênciode Marisa é posto como um aspecto negativo de suaconduta na posição que ocupa.De acordo com Abramo (2003, p. 26),[….] o mundo jornalístico não se divideem fatos jornalísticos e não-jornalísticos,pela primária razão de que as característicasjornalísticas, quaisquer que elas sejam,não residem no objeto da observação, e simno sujeito observador e na relação que esteestabelece com aquele.De fato, nesse excerto, podemos notar que o tratamentoque o jornalista dá ao fato de a primeira-damanão ter proferido nenhuma palavra no encontro emBrasília é para desqualificá-la e reforçar a ideia de que odiscurso do governo é vazio.Enunciado 5: “Em eventos País afora, Lula costumadizer que antes dele o governo não tinha o hábitode receber prefeitos.” (O Estado de S. Paulo, 7 abr. 2009).O jornalista faz referência à enunciação do presidenteLula. O efeito de sentido que o autor do texto criaao selecionar a forma verbal composta “costuma dizer”,é que o presidente sempre fala a mesma coisa, seu discursoé recorrente, não há novidade no que profere.Como nos exemplos anteriores, aqui verificamos que opresidente é desqualificado, desta vez pelos discursosque realiza, sempre redundantes. Se o discurso de Lulaé repetitivo, podemos inferir que é vazio, inconsistente,não condiz com a posição de presidente, pois essa autoridadesempre tem algo importante a dizer.Conforme explica Abramo (2003, p. 42), “[….] adistorção da realidade pela manipulação da informaçãoé deliberada, tem um significado e um propósito.”Podemos inferir, nesse caso, que o objetivo, quandoo jornalista opta por utilizar “costuma dizer”, é dar aentender que o discurso do presidente não traz nadade novo. Refletindo acerca do caráter partidário queum órgão de imprensa pode assumir, conforme apontaAbramo (2003, p. 44), a Folha coloca-se em oposição aogoverno, desqualificando-o sempre. Isso possivelmenteaponta para outros interesses desse órgão jornalísticoque vão além de “apenas informar”. (Se é que é possívelapenas informar.)Enunciado 6: “O presidente do Senado, JoséSarney (PMDB-AL), não se manifestou sobre o tema.”(Folha de S. Paulo, 30 mar. 2009).Nesse trecho, o fato de o Senado “não se manifestar”já é manifestação de um posicionamento. Umavez que não há neutralidade, o senador acaba por serfavorável a alguém; seu silêncio, decerto, beneficiadeterminado lado. Sarney não se manifesta a favor dequem?:[….] o que significa realmente ser neutro,imparcial ou isento? “Neutro” a favor dequem, num conflito de classes? “Imparcial”contra quem, diante de uma greve, da votaçãode uma Constituição? “Isento” para quelado, num desastre atômico ou num escândaloadministrativo? (ABRAMO, 2003, p.38).É possível observar que a instância de informação,ao relatar esse fato, também se põe de determinado lado.Quando seleciona palavras para compor a notícia, o jornalistanão se isenta de intenções e do intuito de fazerque o leitor interprete o fato relatado de certo modo. Asua seleção lexical ocorre também a favor de alguém.4 Considerações finaisUm texto informativo pode, muitas vezes, trazerimplícitas interpretações e intenções geradas na instânciade produção. No caso do gênero textual notícia,III Seminário Nacional de Pesquisa, 2009. 327

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