Linguística Letras e Artesela será, direta ou indiretamente, útil para direcionar aconduta de seus membros (CHARAUDEAU, 2006).Percebe-se que a relação entre essas duas instânciasé de cumplicidade. Entre elas, estabelece-se umcontrato, que é cooperativo e regido por normas. Dolado do jornalista, ele deve apresentar notícias verídicas,dados suficientes para a compreensão, adequaçãodo tema ao universo de conhecimento do leitor que, porsua vez, espera que essas normas sejam respeitadas ecorrespondam as suas expectativas ao ler uma notícia(MAINGUENEAU, 2004).Ao relatar um acontecimento, o jornalista retiradeterminada realidade de um contexto para o outro,movimento que transforma a notícia em reflexo darealidade, embora passe a impressão de ser, de fato,o real. Ao dar uma notícia, a mídia não está transmitindoo que ocorreu na realidade social, pois ela impõeao leitor a visão dela própria acerca do espaço público(CHARAUDEAU, 2006). Nesse aspecto, podemos inferirque aquilo que lemos nos jornais é uma interpretação,a representação do real e, dependendo de quem ainterpreta para relatá-la ao leitor, a abordagem de determinadarealidade será diferente.No que diz respeito à impressão de realidade quetemos ao ler um jornal, explica Schulz (apud KUNCZIK,1997, p. 250) que, para o público, o mundo construídopela imprensa é o verdadeiro: “Seja qual for a relaçãoentre a realidade divulgada e a realidade ‘verdadeira’,os receptores consideram as notícias como o testemunhodos acontecimentos ‘reais’ [….]” Assim, podemosentender que o fato, ao ser relatado pela mídia, adquirecaráter irrefutável de verdade.3 Análise do corpusPara procedermos à análise, tomamos trechos denotícias veiculadas em jornais impressos entre fevereiroe abril de 2009. Para este trabalho, optamos por examinara categoria verbo e a influência que a seleção dessetermo exerce no discurso relatado, conforme problemáticalevantada por Marcuschi (2007, p. 146):326Em geral, ao se reproduzirem as opiniõesde alguém, procede-se a uma nova seleçãode termos e a outra construção sintática queas do autor. Embora esse processo aparentecerta inocência, não impede a possibilidadede distorção ou interferência no discursorelatado.Enunciado 1: “Lula ataca imprensa e diz que“povo não é marionete.” (Folha de S. Paulo, 11 fev. 2009).A utilização do verbo dicendi, “atacar” insinua aposição ofensiva e emocionada adotada pelo presidenteem relação à imprensa. Sugere que entre governo eimprensa não há harmonia, há uma guerra em que Lulaadota posição de embate, mostrando a força da instânciade poder. Conforme aborda Marcuschi (2007, p. 151),“Ao se informar a opinião de alguém é possível levá-loa dizer algo que não disse [….] outras vezes um políticoexpressa uma posição mais dura e o redator transformaaquilo em uma ameaça [….]”. É o que o autor explica ser“manipulação sutil”, elaborada pela utilização de umverbo. Nesse caso, a interpretação é implícita: a mensagemque o jornalista quer passar está nas entrelinhas e,para ser devidamente decifrada, depende da interpretaçãodo leitor.Ao selecionar o verbo dicendi “dizer”, o jornalistajulga que Lula apenas “diz”, o que cria um efeito deimparcialidade, uma vez que “imparcialidade absolutanão existe” (GAVAZZI; RODRIGUES, 2003, p. 58).Ressaltamos que os verbos dicendi, ou introdutoresda fala reportada, são uma marca linguística significativaque carrega ideologia, crenças e valores inscritos no planodo implícito do texto (GAVAZZI; RODRIGUES, 2003).Enunciado 2: “Exaltado, presidente centra fogonos jornais que associam encontro de prefeitos à promoçãode Dilma.” (O Estado de S. Paulo, 10 fev. 2009).Nesse excerto, temos o verbo “centrar” em composiçãocom o substantivo “fogo”. Como no enunciado1, do jornal Folha de S. Paulo, sugere que entre governo eimprensa trava-se uma verdadeira guerra. Ao “centrarfogo”, Lula mirou no alvo (imprensa) e atirou (fez críticas).Por meio da seleção lexical feita pelo jornalista,podemos perceber que o relacionamento entre a esferaoficial (presidente Lula) e a imprensa é tenso e desarmônico.Em ambos os enunciados, o discurso oficial é relatadoem tom de ameaça, refere-se a declarações feitasem tom sancionador (MARCUSCHI, 2007).Enunciado 3: “Há uma semana, a Folha questionaquem foram os responsáveis pela criação de diretorias.”(Folha de S. Paulo, 25 mar. 2009).Nesse exemplo, o verbo “questionar” indica queo jornal Folha de S. Paulo assume a responsabilidade deaveriguar o que está acontecendo na instância de poderoficial (no caso, o Senado). Sugere que o Senado não écapaz de investigar e explicar o que ocorreu em relaçãoao número de diretorias; ela, Folha, tem essa capacidade.Implicitamente, sinaliza a incompetência do governoem informar corretamente e solucionar o problema dasdiretorias.Uma vez que a Folha põe em xeque a competênciado Senado, ela exerce seu poder como fonte de informaçãoque tem autoridade. Conforme atesta Abramo (2003,p. 44),III Seminário Nacional de Pesquisa, 2009.
Linguística Letras e Artes[….] os órgãos de comunicação se transformaramem novos órgãos de poder, emórgãos político-partidários, e é por isso queeles precisam recriar a realidade onde exerceresse poder, e para recriar a realidadeprecisam manipular as informações.Ao questionar a atuação do Senado, no caso dasdiretorias, a Folha desqualifica-o, sugere que o processonão foi transparente e que esse órgão do governo não éconfiável, a ponto de o jornal assumir a investigação docaso para que o público possa saber, de fato, o que estáocorrendo.Enunciado 4: “Principal palestrante de encontrocom mulheres de prefeitos, Marisa se cala.” (Folha de S.Paulo, 11 fev. 2009).Esse excerto trata da primeira-dama, Marisa, edo comportamento que teve durante o encontro commulheres de prefeitos em Brasília. Como principalpalestrante, esperava-se dela que proferisse um discursosignificativo; afinal, palestrantes sempre têm algoa dizer e, no caso da primeira-dama, muito mais, porser mulher do presidente. No entanto, ela nada disse,calou-se. Por meio da seleção do verbo “calar” (pronominalizado,“se cala”), o jornalista teve como objetivomostrar que a primeira-dama não tem nada a dizer, éincapaz de dizer algo que valha a pena ouvir. Dessaforma, o autor do texto elimina a autoridade e o significadoque tem a primeira-dama de nosso País. O silênciode Marisa é posto como um aspecto negativo de suaconduta na posição que ocupa.De acordo com Abramo (2003, p. 26),[….] o mundo jornalístico não se divideem fatos jornalísticos e não-jornalísticos,pela primária razão de que as característicasjornalísticas, quaisquer que elas sejam,não residem no objeto da observação, e simno sujeito observador e na relação que esteestabelece com aquele.De fato, nesse excerto, podemos notar que o tratamentoque o jornalista dá ao fato de a primeira-damanão ter proferido nenhuma palavra no encontro emBrasília é para desqualificá-la e reforçar a ideia de que odiscurso do governo é vazio.Enunciado 5: “Em eventos País afora, Lula costumadizer que antes dele o governo não tinha o hábitode receber prefeitos.” (O Estado de S. Paulo, 7 abr. 2009).O jornalista faz referência à enunciação do presidenteLula. O efeito de sentido que o autor do texto criaao selecionar a forma verbal composta “costuma dizer”,é que o presidente sempre fala a mesma coisa, seu discursoé recorrente, não há novidade no que profere.Como nos exemplos anteriores, aqui verificamos que opresidente é desqualificado, desta vez pelos discursosque realiza, sempre redundantes. Se o discurso de Lulaé repetitivo, podemos inferir que é vazio, inconsistente,não condiz com a posição de presidente, pois essa autoridadesempre tem algo importante a dizer.Conforme explica Abramo (2003, p. 42), “[….] adistorção da realidade pela manipulação da informaçãoé deliberada, tem um significado e um propósito.”Podemos inferir, nesse caso, que o objetivo, quandoo jornalista opta por utilizar “costuma dizer”, é dar aentender que o discurso do presidente não traz nadade novo. Refletindo acerca do caráter partidário queum órgão de imprensa pode assumir, conforme apontaAbramo (2003, p. 44), a Folha coloca-se em oposição aogoverno, desqualificando-o sempre. Isso possivelmenteaponta para outros interesses desse órgão jornalísticoque vão além de “apenas informar”. (Se é que é possívelapenas informar.)Enunciado 6: “O presidente do Senado, JoséSarney (PMDB-AL), não se manifestou sobre o tema.”(Folha de S. Paulo, 30 mar. 2009).Nesse trecho, o fato de o Senado “não se manifestar”já é manifestação de um posicionamento. Umavez que não há neutralidade, o senador acaba por serfavorável a alguém; seu silêncio, decerto, beneficiadeterminado lado. Sarney não se manifesta a favor dequem?:[….] o que significa realmente ser neutro,imparcial ou isento? “Neutro” a favor dequem, num conflito de classes? “Imparcial”contra quem, diante de uma greve, da votaçãode uma Constituição? “Isento” para quelado, num desastre atômico ou num escândaloadministrativo? (ABRAMO, 2003, p.38).É possível observar que a instância de informação,ao relatar esse fato, também se põe de determinado lado.Quando seleciona palavras para compor a notícia, o jornalistanão se isenta de intenções e do intuito de fazerque o leitor interprete o fato relatado de certo modo. Asua seleção lexical ocorre também a favor de alguém.4 Considerações finaisUm texto informativo pode, muitas vezes, trazerimplícitas interpretações e intenções geradas na instânciade produção. No caso do gênero textual notícia,III Seminário Nacional de Pesquisa, 2009. 327
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