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Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde

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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />

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mente compreensível se considerarmos a complexa relação do fenômeno de<br />

negação que é estabelecido nos anos de formação médica, nos quais existe um<br />

aprendizado constante de “não sentir e não reagir como uma pessoa, ou seja,<br />

como um paciente”.<br />

Para Dejours, 21 deve-se levar em consideração que as práticas de risco ritualiza<strong>da</strong>s<br />

entre certas classes de trabalhadores podem ser o resultado de mecanismos<br />

de defesa contra o sofrimento no ambiente de trabalho e que, por se<br />

tratar de mecanismos inconscientes, não são contempla<strong>dos</strong> inicialmente pelos<br />

indivíduos que estão passando pela situação.<br />

Uma questão central que também é aponta<strong>da</strong> na maior parte <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong><br />

de prevalência nessa população é o antecedente pessoal do uso de drogas durante<br />

a formação médica. De acordo com Farley, 22 em um estudo de avaliação<br />

<strong>da</strong> prevalência de abuso de drogas em programas de tratamento para médicos<br />

nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, verificou-se que entre 500 médicos atendi<strong>dos</strong>, 60 deles<br />

(12%) eram anestesiologistas, <strong>dos</strong> quais 45 (75%) eram residentes ou frequentavam<br />

o primeiro ou segundo anos de prática profissional. O autor ressaltou<br />

algumas situações que podiam servir como desencadeantes para o abuso de<br />

drogas, tais como: facili<strong>da</strong>de de acesso, estresse ocupacional, curiosi<strong>da</strong>de em<br />

experimentar o efeito <strong>da</strong> droga, dor física ou emocional, senso de “invencibili<strong>da</strong>de”<br />

e baixa autoestima.<br />

Em um estudo realizado por Wright 23 nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, ressaltou-se o<br />

risco aumentado para o abuso de substâncias entre estu<strong>da</strong>ntes de Medicina,<br />

Enfermagem e Farmácia. Entre os médicos, destacaram-se diversos fatores de<br />

risco, tais como história pregressa de uso de drogas e “exagero em prescrever”,<br />

caracterizado por um desejo descontrolado de querer proporcionar auxílio,<br />

associado a sentimentos de onipotência, busca por soluções imediatas e dificul<strong>da</strong>de<br />

em li<strong>da</strong>r com as frustrações.<br />

Os <strong>da</strong><strong>dos</strong> cita<strong>dos</strong> acima corroboram os acha<strong>dos</strong> de Reeve 24 no que concerne<br />

à predisposição para reações extrema<strong>da</strong>s e abuso de substâncias no<br />

grupo cujos traços de personali<strong>da</strong>de denominou “instáveis”. Além disso, segundo<br />

o autor, na Medicina seriam considera<strong>da</strong>s especiali<strong>da</strong>des de alto risco:<br />

Anestesiologia, Cirurgia, Medicina de Emergência, Clínica Médica e Medicina<br />

de Família. 24<br />

Spiegelman 18 aponta para o problema que consiste na ênfase do ensinamento<br />

do médico a ser sempre forte e autossuficiente e para a falta do aprendizado<br />

em li<strong>da</strong>r com o estresse por meios não-medicamentosos. Lanier, 25 em um<br />

estudo realizado entre estu<strong>da</strong>ntes de Medicina <strong>da</strong> Southern Illinois University<br />

nos Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong>, demonstra uma forte correlação entre o uso de substâncias<br />

e pontuações altas na escala de bem-estar geral, questionando a falta de<br />

preparo para li<strong>da</strong>r com situações estressantes desde o início <strong>da</strong> formação.<br />

Segundo <strong>da</strong><strong>dos</strong> <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Americana de Anestesiologistas, há uma forte<br />

correlação entre o uso de substâncias psicoativas por médicos anestesiolo-

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