20.05.2016 Views

Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde

Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude

Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

3<br />

Saúde <strong>mental</strong> <strong>dos</strong> estu<strong>da</strong>ntes de<br />

Medicina: o papel <strong>da</strong> escola médica<br />

Maria Cristina Pereira Lima<br />

Ana Teresa de Abreu Ramos-Cerqueira<br />

“O ensino médico que não reflete sobre o ser humano que há no<br />

médico participa de modo altamente prejudicial nas deformações<br />

a<strong>da</strong>ptativas do futuro profissional.”<br />

Luiz Antonio Nogueira Martins<br />

A presença de algum grau de sofrimento psíquico entre estu<strong>da</strong>ntes de<br />

Medicina tem sido relata<strong>da</strong> em pesquisas conduzi<strong>da</strong>s em países tão distantes<br />

e distintos como os EUA 1 e o Nepal. 2 Este sofrimento psíquico pode abarcar<br />

diferentes manifestações como sintomas depressivos e ansiosos ou mesmo<br />

diferentes formas de estresse, síndrome de burnout, chegando a transtornos<br />

mentais propriamente ditos.<br />

Parte deste sofrimento psíquico pode ser atribuí<strong>da</strong> ao embate vivido<br />

entre a idealização do papel médico e a reali<strong>da</strong>de que os jovens estu<strong>da</strong>ntes<br />

vivenciam nas escolas. 3 No célebre juramento de Hipócrates, repetido nas<br />

formaturas em inúmeras escolas médicas, pode-se vislumbrar o que se espera<br />

do profissional quando este promete: “...manterei a minha vi<strong>da</strong> e a minha<br />

arte com pureza e santi<strong>da</strong>de; qualquer que seja a casa em que penetre, entrarei<br />

nela para beneficiar o doente; evitarei qualquer ato voluntário de mal<strong>da</strong>de<br />

ou corrupção...”. Às fantasias de onipotência se contrapõem o contato<br />

com professores, colegas e pacientes, e com to<strong>da</strong>s as contradições e complexi<strong>da</strong>des<br />

que caracterizam estas relações. Ele próprio, estu<strong>da</strong>nte, irá se deparar<br />

com suas limitações e dificul<strong>da</strong>des, experimentando-as como vivências<br />

de impotência. Se a escola em questão não estiver atenta ao sofrimento do<br />

estu<strong>da</strong>nte e ao processo de elaboração do luto <strong>da</strong> fantasia perdi<strong>da</strong>, a formação<br />

poderá ser aquém do desejado e, de certo modo, adoecedora. Este texto<br />

se propõe a refletir sobre o papel <strong>da</strong> escola médica neste sofrimento psíquico,<br />

o seu potencial adoecedor e as perspectiva de acolhimento que podem estar<br />

presentes ao longo do processo de formação.<br />

49

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!