Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
uma universi<strong>da</strong>de pública brasileira. A prevalência de sintomas depressivos<br />
na amostra foi 40,5%, sendo que 34,5% apresentaram sintomas leves, 4,8%<br />
sintomas modera<strong>dos</strong> e 1,2% sintomas graves. Estes quadros depressivos mostraram-se<br />
associa<strong>dos</strong> a avaliar o próprio desempenho acadêmico como regular,<br />
considerar-se emocionalmente tenso e pensar em abandonar o curso. Na<br />
revisão cita<strong>da</strong> acima, BALDASSIN (2010) 20 concluiu que os estu<strong>dos</strong> nacionais<br />
sobre depressão e ansie<strong>da</strong>de, e também sobre estresse e burnout entre estu<strong>da</strong>ntes<br />
de Medicina, ain<strong>da</strong> eram em número insuficiente, mas apesar destas características<br />
os estu<strong>dos</strong> conseguiram mostrar que a prevalência destes sintomas<br />
estava longe de ser irrelevante.<br />
Frente aos expressivos percentuais de diferentes formas de sofrimento psíquico<br />
revistos acima, é fun<strong>da</strong><strong>mental</strong> discutir qual o papel <strong>da</strong> escola médica<br />
neste adoecimento, não só para identificar estratégias de minimizar tal sofrimento,<br />
como também para auxiliar os alunos em seu processo formativo.<br />
O papel <strong>da</strong> escola médica no adoecimento <strong>dos</strong> alunos<br />
Ca<strong>da</strong> um de nós, estu<strong>da</strong>ntes de Medicina, quando veio à escola, trouxe acalenta<strong>dos</strong><br />
seu desejo e suas fantasias do que pretendia e seria como médico. E o primeiro<br />
impacto oferecido a esse rasgo de idealismo potencial <strong>dos</strong> estu<strong>da</strong>ntes é jogá-los<br />
sobre um cadáver. Exatamente o oposto do que vieram buscar e, o que é mais<br />
dramático, é que na maioria <strong>da</strong>s vezes, esses alunos, pelo resto de sua existência,<br />
passarão buscando o cadáver imobilizado <strong>da</strong> Anatomia. Então, o paciente não<br />
tem sentimentos, não ama, não chora, não sofre. (ABUCHAIM, 1980, p. 128) 23<br />
52<br />
A instituição de ensino exerce papel fun<strong>da</strong><strong>mental</strong> na formação de médicos,<br />
auxiliando-os na aquisição de conhecimentos, habili<strong>da</strong>des motoras e afetivas<br />
relativas à profissão. Neste processo, contudo, a escola médica também vai<br />
expor alunos a uma série de estressores, parte deles potencialmente associa<strong>dos</strong><br />
ao sofrimento psíquico <strong>dos</strong> estu<strong>da</strong>ntes.<br />
MILLAN et al. (1998) 24 enumeraram extensa lista de fatores associa<strong>dos</strong> a<br />
estresse entre estu<strong>da</strong>ntes de Medicina: vestibular altamente concorrido, curso<br />
longo e em período integral, grande quanti<strong>da</strong>de de informações a serem incorpora<strong>da</strong>s,<br />
dificul<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação à nova metodologia de ensino, contato<br />
com o paciente – muitas vezes gratificante, mas em outras tenso e frustrante.<br />
Os autores mencionaram ain<strong>da</strong> o contato com a morte e com doenças crônicas,<br />
a competitivi<strong>da</strong>de na relação com colegas, o estresse com os plantões no<br />
internato e as perspectivas com o mercado e as condições de trabalho, nem<br />
sempre animadoras.<br />
Em pesquisa desenvolvi<strong>da</strong> entre alunos do curso médico <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
do Porto, Loureiro et al. (2008) 25 identificaram cinco conjuntos de fatores