Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
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O conceito de pulsão vocacional: uma nova proposta<br />
para a compreensão <strong>da</strong> <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> do estu<strong>da</strong>nte de Medicina,<br />
do médico residente e do médico<br />
Buscarei, agora, trazer uma contribuição pessoal para o tema deste capítulo,<br />
uma hipótese elabora<strong>da</strong> no transcorrer <strong>dos</strong> 28 anos que atuei como<br />
psiquiatra do Grapal, atendendo inicialmente alunos e, depois, também,<br />
residentes. Pelo que foi apresentado anteriormente, observa-se que a <strong>saúde</strong><br />
<strong>mental</strong> do médico residente tem sido um tema bastante estu<strong>da</strong>do nas últimas<br />
déca<strong>da</strong>s e a personali<strong>da</strong>de tem sido repeti<strong>da</strong>mente cita<strong>da</strong> como eventual fator<br />
de risco para depressão e/ou problemas de a<strong>da</strong>ptação nos estágios. Tentarei<br />
explorar esse aspecto, articulando a questão <strong>da</strong> <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> do residente<br />
com a vocação médica e, para isso, inicialmente farei uma breve exposição<br />
de alguns conceitos psicanalíticos e psicológicos, fun<strong>da</strong>mentais para a compreensão<br />
do tema.<br />
Contribuições de Freud – Freud (Freud, 1973) conceituou pulsão como a<br />
força que faz um organismo tender para um determinado alvo. 14, 15, 16 Trata-se<br />
de necessi<strong>da</strong>des biológicas com representações psicológicas que necessitam ser<br />
descarrega<strong>da</strong>s, sendo o limite entre o somático e o psíquico. Distingue-se do<br />
instinto, ligado a padrões hereditários de comportamento animal, típicos de<br />
ca<strong>da</strong> espécie. Em Três ensaios sobre a teoria <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de, de 1905, e em As<br />
pulsões e suas vicissitudes, de 1915, apresenta e desenvolve o conceito de pulsão<br />
do ego (autopreservação) e a pulsão sexual (preservação <strong>da</strong> espécie). Teriam<br />
uma fonte (partes do corpo de onde surgem os estímulos), uma força (quanti<strong>da</strong>de<br />
de energia que busca uma descarga, o que chamou de aspecto econômico),<br />
uma finali<strong>da</strong>de (descarga <strong>da</strong> excitação para atingir o retorno a um estado de<br />
equilíbrio psíquico ou homeostase, semelhante ao estado uterino, o princípio<br />
de nirvana), um objeto (aquilo que é capaz de satisfazer ou apaziguar a tensão<br />
interna). O investimento pulsional ou catexis seria a quanti<strong>da</strong>de de energia ou o<br />
interesse do ego ligado a um determinado objeto. Quando o investimento pulsional<br />
é o próprio indivíduo, trata-se de narcisismo. Depreende-se de algumas<br />
concepções de Freud que as pulsões podem sofrer transformações em fantasias,<br />
mecanismos de defesa (por exemplo, a formação reativa que dirige a pulsão<br />
para o sentido oposto, como o pudor opondo-se a tendências exibicionistas)<br />
ou em sublimação (mecanismo resultante do amadurecimento emocional que<br />
transforma parcialmente a pulsão sexual em uma ativi<strong>da</strong>de profissional, mais<br />
valoriza<strong>da</strong> socialmente). Em 1920, em Além do princípio do prazer, Freud reformula<br />
sua teoria e descreve a pulsão de vi<strong>da</strong> (construtiva, abrange a pulsão<br />
sexual e de autopreservação) e a pulsão de morte (autodestrutiva e destrutiva).<br />
Ambas coexistem, mas dependendo <strong>da</strong> patologia ou <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de pode