Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
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Contato frequente com a dor e o sofrimento, com a morte e o morrer é<br />
característica inerente ao trabalho do profissional de <strong>saúde</strong>. Quem é a pessoa<br />
que busca esta área de trabalho?<br />
No manifesto, a escolha pela área <strong>da</strong> <strong>saúde</strong>, na maioria <strong>da</strong>s vezes, tem um<br />
caráter benevolente: desejo de aju<strong>da</strong>r, cui<strong>da</strong>r do outro, proporcionar bem-estar,<br />
curar etc.<br />
Diversas são as motivações humanas para as escolhas <strong>profissionais</strong>. Dentre<br />
estas, as principais são inconscientes e têm a ver com a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />
necessi<strong>da</strong>des humanas, que, quando confronta<strong>da</strong>s nas relações, podem originar<br />
conflitos.<br />
Muitas vezes, o indivíduo que busca esta área de trabalho está, de forma inconsciente,<br />
tentando suprir suas próprias carências e necessi<strong>da</strong>des de ser ou de<br />
se sentir cui<strong>da</strong>do. Pode-se dizer que o indivíduo busca a profissão para transformar<br />
ou “sublimar” suas frustrações e agressivi<strong>da</strong>de numa ativi<strong>da</strong>de socialmente<br />
aceitável. O termo “sublimação”, criado por Freud, inicialmente referia-se a um<br />
redirecionamento <strong>da</strong> pulsão sexual, mas depois evocou a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sublimação<br />
também <strong>da</strong>s pulsões agressivas. 8 Segundo a psicanálise, a sublimação<br />
é uma forma construtiva de o ser humano li<strong>da</strong>r com seus impulsos destrutivos.<br />
É o que se espera de um indivíduo que tenha um desenvolvimento saudável.<br />
Outras formas de li<strong>da</strong>r com os sentimentos de frustração e ódio inerentes<br />
ao ser humano podem ser mais primitivas no âmbito do desenvolvimento<br />
<strong>mental</strong>, motivando escolhas e relações “humanas” destrutivas. Nestas relações,<br />
o outro não é visto como sujeito, mas como simples depositário <strong>dos</strong> próprios<br />
conteú<strong>dos</strong> emocionais insuportáveis para o indivíduo que os projeta e desta<br />
forma tenta controlá-los pelo controle deste outro. É o que Melanie Klein<br />
(1982) denomina de identificação projetiva, um mecanismo de defesa primitivo<br />
que serve ao bebê como meio para controlar suas ansie<strong>da</strong>des, mas que utilizado<br />
prioritariamente nas relações do indivíduo adulto caracteriza um estado<br />
patológico. 9 Pode-se pensar que o indivíduo pode motivar-se para a escolha<br />
de uma profissão na área de <strong>saúde</strong> como uma possibili<strong>da</strong>de de controlar suas<br />
ansie<strong>da</strong>des e impotências, numa tentativa alucina<strong>da</strong> de controlar o outro e<br />
sentir-se onipotente.<br />
O profissional de <strong>saúde</strong> li<strong>da</strong> com a intimi<strong>da</strong>de física e emocional <strong>dos</strong> pacientes,<br />
o que torna manifesta a vulnerabili<strong>da</strong>de do paciente nesta relação. Se a<br />
motivação para a profissão não for construtiva, pode-se dizer que o profissional<br />
não conseguirá exercer sua função ética na relação profissional.<br />
A formação do profissional de <strong>saúde</strong><br />
Problemas que afetam a <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> de <strong>saúde</strong> podem<br />
ser prejudiciais tanto para o profissional quanto para o paciente, na medi<strong>da</strong>