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Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde

Trabalho_e_saude_mental_dos_profissionais_da_saude

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que os residentes procuram, sistematicamente, menos aju<strong>da</strong> psicológica do<br />

que os estu<strong>da</strong>ntes de Medicina, talvez porque o aluno tem mais facili<strong>da</strong>de em<br />

administrar seu tempo, está menos preocupado com sua imagem, tem menos<br />

ativi<strong>da</strong>des com responsabili<strong>da</strong>des e conta com maior apoio institucional.<br />

Ao final do artigo, os autores sugerem que haja uma aproximação do Grapal<br />

com o grupo de preceptores que, por ser mais próximo <strong>dos</strong> residentes, pode<br />

desempenhar a função de irmão mais velho, confidente e conselheiro.<br />

Em um estudo prospectivo, Nogueira-Martins (2010) confirmou os <strong>da</strong><strong>dos</strong><br />

<strong>da</strong> literatura de que os residentes do primeiro ano são os que mais se<br />

estressam e que, com o transcorrer <strong>da</strong> residência, a tendência é que o estresse<br />

diminua. 1 O estresse foi relacionado à grande quanti<strong>da</strong>de de pacientes, ao<br />

contato com pacientes hostis, reivindicadores, terminais e que falecem, às<br />

comunicações dolorosas a pacientes e familiares, ao receio de contrair infecções,<br />

à presença de dilemas éticos, ao medo de errar, ao constante trabalho<br />

sob pressão, à fadiga, aos plantões noturnos, à falta de orientação ou<br />

ao controle excessivo <strong>dos</strong> supervisores, à falta de tempo para o lazer, para a<br />

família e para os amigos e, finalmente, às exigências internas: como ser médico.<br />

Muitos deles revelam uma vivência de desamparo, abandono, descaso,<br />

desinteresse e desrespeito por parte <strong>dos</strong> professores e residentes mais antigos,<br />

gerando uma sensação de orfan<strong>da</strong>de. Percebem-se desconsidera<strong>dos</strong> e explora<strong>dos</strong>,<br />

o que gera sentimentos de raiva e revolta. O autor sugere que o grupo<br />

de residentes de clínica médica do gênero masculino possui características<br />

peculiares que os impediram de ter o seu estresse diminuído no segundo ano<br />

e formula a seguinte hipótese (pag. 141-2):<br />

4 A <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> do médico residente<br />

Um grupo de residentes com certas características de personali<strong>da</strong>de (provavelmente<br />

altas expectativas pessoais e <strong>profissionais</strong>), submetido às pressões <strong>da</strong> carga<br />

assistencial, agrava<strong>da</strong>s pelas insatisfações liga<strong>da</strong>s às vicissitudes <strong>da</strong> carreira profissional<br />

e amplifica<strong>da</strong>s em função de fenômenos intrínsecos às disciplinas clínicas<br />

(per<strong>da</strong> de prestígio <strong>da</strong>s especiali<strong>da</strong>des clínicas tradicionais), que não recebe a<br />

atenção e os cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> necessários (vivência de abandono), de um corpo docente<br />

também em crise.<br />

Dito de outra forma: é possível que as queixas, reclamações e reivindicações<br />

de residentes desgasta<strong>dos</strong> tenham caído em ouvi<strong>dos</strong> também desgasta<strong>dos</strong><br />

e eventualmente desorganiza<strong>dos</strong> com os novos rumos <strong>da</strong> Medicina. Ou seja,<br />

um grupo em crise (professores e preceptores de Clínica Médica), com dificul<strong>da</strong>de<br />

para ouvir e poder aju<strong>da</strong>r um outro grupo em crise (os residentes de<br />

Clínica Médica). Em uma metáfora familiar, pais em crise não têm energia<br />

psíquica para investir na criação e nos cui<strong>da</strong><strong>dos</strong> aos filhos.<br />

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