Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
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res, <strong>da</strong>do pela falta como pelo excesso de trabalho, e nem sempre é possível<br />
desenvolver resistência a isso, repercutindo em processo de adoecimento no<br />
e pelo trabalho. 5<br />
Gomes et al 5 observam que o trabalho em <strong>saúde</strong>, localizado no setor de<br />
serviços, guar<strong>da</strong> características especiais em relação ao setor de produção de<br />
material e setor primário <strong>da</strong> economia; na atuali<strong>da</strong>de, tem proprie<strong>da</strong>des de um<br />
modelo de produção capitalista, assim como do trabalho profissional do tipo<br />
artesanal que, conforme explica Pires, 6 teve sua origem nas corporações de<br />
artífices <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, compostas por indivíduos capacita<strong>dos</strong>, uni<strong>da</strong>des de<br />
produção e a comercialização do produto, sendo os produtores os donos <strong>da</strong>s<br />
ferramentas de trabalho e realizando o controle de todo o processo de produção,<br />
desde a idealização até sua comercialização.<br />
Em oposição a outros setores econômicos, a <strong>saúde</strong> exige trabalho intensivo,<br />
o contato pessoal é indispensável e a relação profissional-paciente incorpora<br />
a essência do cui<strong>da</strong>do em <strong>saúde</strong>. A <strong>saúde</strong> não pode ser adia<strong>da</strong>, o fator<br />
tempo é essencial, e precisa ser ofereci<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> pessoa. Por maior que seja a<br />
evolução <strong>dos</strong> protocolos e do conhecimento baseado em evidência, não existe<br />
previsibili<strong>da</strong>de absoluta, e não haverá máquinas elaborando diagnóstico ou<br />
prescrevendo tratamento. 7<br />
A profissão odontológica não foge ao cenário de mu<strong>da</strong>nças no trabalho e<br />
tanto sua formação como a prática encontram-se em fase de transição, repercutindo<br />
nas expectativas e sofrimentos desses <strong>profissionais</strong>. De uma Odontologia<br />
de natureza liberal e priva<strong>da</strong> que resultou na mercantilização <strong>da</strong> profissão,<br />
para uma Odontologia sujeita às oscilações <strong>da</strong> oferta de emprego e ren<strong>da</strong>,<br />
em um mercado competitivo, como consequência, aumentando a insatisfação<br />
com os ganhos, acompanhado <strong>da</strong> diminuição de autonomia do trabalhador<br />
frente aos empregadores. 5<br />
O mercado de trabalho para o cirurgião-dentista passa a sofrer importantes<br />
modificações a partir de 1980; até então predominantemente autônomo,<br />
sofre com a per<strong>da</strong> de poder aquisitivo <strong>da</strong> população, diminuindo a procura<br />
por tratamento particular, e o modelo vigente perde a força, obrigando<br />
os <strong>profissionais</strong> a buscar trabalho assalariado direto (contratação) ou indireto<br />
(credenciamento). 8, 9<br />
Essa modificação no modelo profissional, impulsionado pelas transformações<br />
socioeconômicas, pelo desenvolvimento técnico e científico crescente<br />
resultando em novos materiais, técnicas e novas relações de trabalho alteraram<br />
muito a rotina, diminuindo a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong>,─aumento<br />
<strong>da</strong> sobrecarga de trabalho devido à concorrência, cobrança quanto à produtivi<strong>da</strong>de,<br />
horas excessivas de trabalho, insatisfação com os ganhos, e como<br />
consequência uma sobrecarga psicossocial que, não raramente, tem como resultado<br />
doenças físicas e mentais, colocando a Odontologia na condição de<br />
10, 11<br />
profissão estressante.