Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
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A <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> do médico residente<br />
Encontramos na obra Residência Médica: estresse e crescimento, de Luiz<br />
Antonio Nogueira Martins, a bibliografia mais completa e aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> redigi<strong>da</strong><br />
em nosso país sobre o tema <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> do médico residente. 1 Em<br />
revisão <strong>da</strong> literatura, o autor cita o clássico trabalho de Aach e cols. (1988),<br />
que classificam o estresse do médico residente em profissional, situacional e<br />
pessoal, os quais tendem a se superpor. 4 O estresse profissional está ligado à<br />
responsabili<strong>da</strong>de, à dificul<strong>da</strong>de em li<strong>da</strong>r com pacientes difíceis, em absorver a<br />
crescente gama de conhecimentos médicos em supervisionar estu<strong>da</strong>ntes e em<br />
realizar o planejamento de sua carreira; o estresse situacional decorre de características<br />
<strong>da</strong> residência como excesso de trabalho, privação do sono, e eventuais<br />
problemas liga<strong>dos</strong> ao ensino e ao ambiente educacional; o estresse pessoal está<br />
vinculado a características do residente como gênero, personali<strong>da</strong>de, maior<br />
dificul<strong>da</strong>de em li<strong>da</strong>r com privação do sono, emergências e determina<strong>dos</strong> tipos<br />
de pacientes, problemas amorosos, familiares e socioeconômicos. No mesmo<br />
artigo, Aach e cols. (1988) descrevem as fases psicológicas que o residente tende<br />
a passar em seu primeiro ano de residência: uma fase inicial de euforia ao ser<br />
aprovado e no início do treinamento; insegurança, quando começa a perceber<br />
suas limitações; depressão, quando se somam à insegurança a privação do sono,<br />
a fadiga e a eventual falta de apoio emocional <strong>da</strong> instituição e de seu grupo<br />
social; com o tédio, entre o quarto e sexto mês, o residente mostra-se desinteressado<br />
e realiza suas ativi<strong>da</strong>des de forma automática até recair em uma nova<br />
depressão no oitavo mês, agora mais grave do que a anterior; gra<strong>da</strong>tivamente<br />
sai <strong>da</strong> depressão quando passa a reconhecer suas conquistas e entra no período<br />
de elação, que pode levar ao excesso de confiança, para finalmente atingir<br />
a autoconfiança no final do ano, quando se sente competente para tratar <strong>dos</strong><br />
pacientes e ensinar os mais jovens. 4 No segundo e no terceiro anos, o residente<br />
tende a ganhar progressivamente mais autoconfiança, o que resulta em satisfação<br />
e realização pessoal.<br />
Na revisão realiza<strong>da</strong> por Nogueira-Martins (2010), a depressão é o transtorno<br />
mais encontrado entre os residentes, com prevalência de 14% a 30%,<br />
mais frequente no gênero feminino e em estágios com mais de 100 horas semanais,<br />
com risco maior para aqueles que possuíam antecedentes familiares<br />
ou pessoais de depressão. 1 Esses quadros tendem a ser acompanha<strong>dos</strong> de raivahostili<strong>da</strong>de<br />
e fadiga-inércia, com redução <strong>da</strong> empatia pelos pacientes. 5 A privação<br />
do sono leva a distúrbios cognitivos. Os <strong>da</strong><strong>dos</strong> sobre suicídio são escassos e<br />
os poucos trabalhos publica<strong>dos</strong> sobre o tema mostram um coeficiente inferior<br />
ao <strong>dos</strong> médicos, estu<strong>da</strong>ntes de Medicina e ao <strong>da</strong> população geral, mas quando<br />
acontece tem um efeito devastador para os colegas e familiares. A ideação suici<strong>da</strong><br />
(8% a 22%) também é inferior à encontra<strong>da</strong> entre os estu<strong>da</strong>ntes de Medicina<br />
(50%). 6, 7 Por sua vez, os <strong>da</strong><strong>dos</strong> sobre o uso de substâncias psicoativas são