Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde
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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />
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2. Estrutura do Centro e descrição <strong>dos</strong> procedimentos<br />
O Centro é conduzido pela parceria firma<strong>da</strong> entre o Cremesp e o Departamento<br />
de Psiquiatria <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo, utilizando<br />
estrutura e <strong>profissionais</strong> do Programa de Esquizofrenia (Proesq). O Proesq<br />
é um ambulatório especializado, composto por equipe multiprofissional e<br />
que há mais de 20 anos se dedica ao cui<strong>da</strong>do de portadores de esquizofrenia,<br />
com grande experiência no cui<strong>da</strong>do a portadores de transtornos mentais<br />
graves.<br />
O encaminhamento ocorre por meio do serviço social do Cremesp, que<br />
solicita o agen<strong>da</strong>mento, que é realizado em um intervalo máximo de até duas<br />
semanas. No primeiro contato é feita uma avaliação inicial com o objetivo de<br />
se formular um diagnóstico psiquiátrico e situacional do caso. Se necessário, a<br />
avaliação inicial pode se estender por mais de uma consulta. Os exames complementares<br />
são pedi<strong>dos</strong> de acordo com a avaliação.<br />
Psicoeducação<br />
As doenças mentais são carrega<strong>da</strong>s de estigma. No contexto do médico<br />
que adoece, o estigma parece ser especialmente forte. Em quase to<strong>dos</strong> os casos<br />
atendi<strong>dos</strong> no CASMM percebemos dificul<strong>da</strong>des em li<strong>da</strong>r com a doença<br />
por parte do paciente e/ou <strong>da</strong> família e, em vários casos, deparamo-nos com<br />
forte negação, uma recusa em aceitar estar doente ou precisar de cui<strong>da</strong>do. Em<br />
muitas situações parece ser mais fácil entender o que se passa, para familiares<br />
e para o próprio paciente, como “fraqueza” ou “falha moral” do que aceitar a<br />
existência de uma doença que afeta a mente ou o cérebro.<br />
Os transtornos mentais podem causar grande impacto na família. É comum<br />
existir dificul<strong>da</strong>de em entender ou aceitar a situação de conviver com<br />
alguém com um problema de <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong>. Muitas vezes a família fica dividi<strong>da</strong>,<br />
cindi<strong>da</strong>, o que se constitui uma dificul<strong>da</strong>de adicional para a melhora do<br />
paciente. Assim, como parte <strong>da</strong> avaliação inicial, se autorizado pelo paciente,<br />
buscamos um contato com familiares a fim de entender melhor a repercussão<br />
do processo de adoecimento no dia a dia e verificar a necessi<strong>da</strong>de de intervenção.<br />
O foco do atendimento é na psicoeducação sobre o diagnóstico, em<br />
construir um significado sobre o que é ter um problema de <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> e<br />
desenvolver estratégias de como li<strong>da</strong>r com essa situação no dia a dia. A psicoeducação<br />
envolvendo familiares tem se mostrado efetiva em promover a adesão<br />
ao tratamento, melhorar o nível funcional, melhorar a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e<br />
alcançar maiores taxas de remissão. 2 Na prática, auxilia a alinhar expectativas<br />
e torna a família um agente terapêutico. As sessões de psicoeducação são conduzi<strong>da</strong>s<br />
pelo próprio psiquiatra.<br />
A carga de doença (burden of care) é um conceito complexo que tenta<br />
medir o impacto e as consequências que o cui<strong>da</strong>do a uma doença impõe aos