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Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde

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mais precárias de vínculos empregatícios, seja em plantões de serviços de emergência<br />

nas periferias <strong>dos</strong> grandes centros, ou em uni<strong>da</strong>des de atenção básica no<br />

interior, nas quais não há locais de atendimento com infraestrutura adequa<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong> que haja a precarização do vínculo assalariado no serviço público,<br />

com o abandono <strong>da</strong> contratação pelo regime estatutário, na rede priva<strong>da</strong> o cenário<br />

também não é favorável. Neste setor, predomina a contratação de médicos<br />

via organização de terceiros – empresas de <strong>profissionais</strong> liberais ou cooperativas<br />

de médicos – ou como <strong>profissionais</strong> autônomos – ou seja, como pessoa<br />

física que recebe por serviços presta<strong>dos</strong> sem qualquer vínculo empregatício.<br />

Dessa maneira, em ambos os setores, o que se observa são estratégias<br />

para camuflar a vinculação regular de trabalho – para evitar os encargos previdenciários<br />

e sociais decorrentes – com crescimento de vínculos informais.<br />

Esta distorção do mercado é <strong>da</strong>s mais preocupantes, pois os médicos com<br />

menor preparo técnico assumem tarefas, no caso <strong>da</strong>s emergências e mesmo<br />

em atenção primária, nas quais se requer conhecimento especializado e experiência<br />

profissional, sem o respaldo normalmente previsto nos contratos<br />

formais de trabalho.<br />

Mas não é somente nas relações trabalhistas que se enxerga movimento<br />

de precarização. Na tentativa de aumentar a outorga de médicos no mercado,<br />

os programas governamentais também acabam por interferir nos processos<br />

de formação e prática médica. O que se percebe é uma política de aumento<br />

desenfreado de escolas médicas e vagas de Residência Médica, sem a preocupação<br />

com a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> formação, <strong>da</strong> especialização e <strong>da</strong> educação permanente<br />

desses <strong>profissionais</strong>. Sem o devido investimento em infraestrutura <strong>dos</strong><br />

locais de formação e desconsiderando o tempo necessário – estimado em pelo<br />

menos dez anos – para que uma intervenção na formação possa se fazer sentir<br />

na assistência, não se pode deixar de temer a ampliação descomedi<strong>da</strong> de vagas<br />

e as suas repercussões, sobretudo no atendimento à população, vitima<strong>da</strong> pelo<br />

baixo rigor no investimento e quali<strong>da</strong>de necessários para o processo educacional<br />

<strong>dos</strong> jovens médicos.<br />

Afora as transformações socioeconômicas, com o avanço <strong>da</strong> tecnologia e<br />

ciência médica, aumentam-se as expectativas com relação à atuação médica.<br />

Ca<strong>da</strong> vez mais se espera que os médicos sejam competentes em uma vasta série<br />

de papéis que ultrapassam aquele primordial de confortador do sofrimento.<br />

A confiança no desenvolvimento tecnológico e científico coloca sobre esses<br />

<strong>profissionais</strong> a esperança quase plena de cura, mesmo quando não há tratamentos<br />

contundentes para se garantir tais resulta<strong>dos</strong>. Além disso, enquanto a<br />

formação médica ain<strong>da</strong> apresenta entraves no desenvolvimento de ferramentas<br />

do campo <strong>da</strong>s humani<strong>da</strong>des, é crescente a deman<strong>da</strong> populacional por uma<br />

prática médica ca<strong>da</strong> vez mais empática, ética e responsável – tanto no âmbito<br />

preventivo quanto em situações de maior complexi<strong>da</strong>de – em um espectro de<br />

atenção em <strong>saúde</strong> ca<strong>da</strong> vez de mais longo prazo. 15<br />

6 A <strong>saúde</strong> <strong>mental</strong> do médico jovem<br />

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