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Trabalho e saúde mental dos profissionais da saúde

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TRABALHO E SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE<br />

O profissional antes reconhecido por suas habili<strong>da</strong>des e poder de cura,<br />

está hoje reduzido a um representante <strong>da</strong> ciência. Portanto, este profissional<br />

que teve alta exigência de estudo, tempo de estágio ou residência, acaba por<br />

não receber reconhecimento, já que sua experiência não é valoriza<strong>da</strong>.<br />

Dunker nos falará de per<strong>da</strong> de experiência como meta diagnóstica <strong>da</strong> pósmoderni<strong>da</strong>de:<br />

35<br />

Segundo Honneth, 41 há uma dupla interpretação <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, a partir <strong>da</strong><br />

antropologia filosófica, de Montaigne a Rousseau, e a partir <strong>da</strong> filosofia <strong>da</strong> história,<br />

de Hobbes a Hegel. Ambas partilham a ideia comum <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong> experiência,<br />

entendi<strong>da</strong> alternativamente como incapaci<strong>da</strong>de do sujeito de reconhecer-se em<br />

sua própria história particular ou como dificul<strong>da</strong>de de estabelecer formas sociais<br />

universalmente compartilháveis. Alienação e fetichismo seriam duas figuras fun<strong>da</strong>mentais<br />

de nomeação desse bloqueio <strong>da</strong> experiência.<br />

Temos elenca<strong>dos</strong> anteriormente neste escrito morbi<strong>da</strong>des e agravos psíquicos,<br />

mas <strong>dos</strong> aspectos de sofrimento levanta<strong>dos</strong> por Nogueira-Martins em<br />

seu artigo “Saúde <strong>mental</strong> <strong>dos</strong> <strong>profissionais</strong> de <strong>saúde</strong>”, temos alguns que podemos<br />

destacar como mais diretamente liga<strong>dos</strong> à hipótese do declínio <strong>da</strong> imago<br />

paterna. São eles: 16<br />

• as ambigui<strong>da</strong>des dirigi<strong>da</strong>s pelos pacientes em sua relação com estes mestres.<br />

Assim como há admiração e confiança na relação de dependência do sujeito<br />

com seu cui<strong>da</strong>dor, há também inveja e insurgência.<br />

• o advento de novas técnicas diagnósticas, exames laboratoriais, desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> indústria farmacológica em um modelo empresarial acéfalo, junto à<br />

banalização <strong>da</strong>s informações e técnicas que empoderam de forma inconsistente<br />

a população, que muni<strong>da</strong> de informações, questiona o valor <strong>da</strong> experiência<br />

do clínico.<br />

• a franca piora <strong>da</strong>s condições de trabalho e precárias condições <strong>dos</strong> serviços são<br />

coloca<strong>da</strong>s como responsabili<strong>da</strong>de do profissional pelos usuários. 16<br />

148<br />

A exigência de um saber total e uma postura impecável ain<strong>da</strong> é grande,<br />

na ver<strong>da</strong>de nunca esteve tão forte, apesar <strong>da</strong> desvalorização e questionamento,<br />

busca-se nos mestres declina<strong>dos</strong> a resposta para as mazelas humanas, pois o<br />

fato de termos mais acesso a informações e mais tecnologia disponível não dá<br />

conta do mal-estar na civilização, que é constitutivo. Diz Freud: 33<br />

O que chamamos de felici<strong>da</strong>de no sentido mais restrito provém <strong>da</strong> satisfação de<br />

necessi<strong>da</strong>des represa<strong>da</strong>s em alto grau, sendo, por sua natureza, possível apenas<br />

como uma manifestação episódica... Nossas possibili<strong>da</strong>des de felici<strong>da</strong>de sempre<br />

estão restringi<strong>da</strong>s por nossa própria constituição. (p. 84)

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