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Manual O Modelo URSULA-RSU pt-br

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RSU

ESTRATÉGIAS / FERRAMENTAS / INDICADORES

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

1

COMPREENDER

A RSU

2

O MODELO

URSULA

3

APRENDER A

MUDAR

CONCLUSÃO

POSFÁCIO

REFERÊNCIAS CITADAS

ANEXOS

34

Assim, a complexidade conceitual da responsabilidade

social baseia-se no entendimento do que significa

ser responsável por impactos e não apenas por

atos. Então, a próxima pergunta é:

O que é um impacto?

Um impacto não deve ser confundido com um ato ou

com a consequência direta de um ato (seu efeito). Um

ato é o que um autor conscientemente e voluntariamente

faz. Um impacto é o efeito colateral (não direto), coletivo

(não individual), sistêmico (não conjuntural ou pontual)

das ações de muitos atores (sem coordenação).

Juntos, mas sem coordenação, eles vão criando uma

situação e tendência social, um certo estado de coisas,

sem propor voluntariamente. O exemplo perfeito de

impacto é a mudança climática: (eu, escrevendo estas

linhas usando eletricidade e Internet, contribuo para

a mudança climática e você lendo estas linhas sem

dúvida também). Somos diretamente responsáveis,

individual ou organizacionalmente, por nossas ações

e suas consequências imediatas. A moralidade e a Lei

geralmente sublinham esse fato. Mas somos responsáveis

de forma coletiva e mediata pelos impactos que

emergem de nossas rotinas sociais. A moralidade e a

Lei frequentemente ignoram esse fato. É por isso que

aos impactos lhes corresponde uma responsabilidade

social, enquanto que aos atos lhes corresponde

uma responsabilidade pessoal moral e jurídica

(como indivíduo ou como organização).

A grande dificuldade, então, quando falamos em

responsabilidade por impactos, é de ser capaz de

responsabilizar os atores sociais por algo que eles não

fizeram diretamente, ou de propósito, e pelos quais eles

não têm consciência imediata e não sentem os autores

de este feito. Sendo uma responsabilidade coletiva, é

fácil se sentir isento de qualquer obrigação de assumir

o que provém dos efeitos sociais: “a mudança climática

ou o trabalho infantil não é minha culpa”. E, no entanto,

devemos assumir esses impactos sociais, porque sem

nós eles não existiriam e sem nossa intervenção para

A grande dificuldade,

então, quando falamos

em responsabilidade por

impactos, é de ser capaz de

responsabilizar os atores sociais

por algo que eles não fizeram

diretamente, ou de propósito,

e pelos quais eles não têm

consciência imediata e não

sentem os autores de este feito.

Sendo uma responsabilidade

coletiva, é fácil se sentir

isento de qualquer obrigação

de assumir o que provém dos

efeitos sociais: “a mudança

climática ou o trabalho infantil

não é minha culpa”.

suprimí-los, eles não poderão ser gerenciados. A sociedade

é uma obra humana sem autor, disse Sartre. Bem,

mesmo que não sejamos os autores explícitos da

sociedade, devemos assumir responsabilidade

por sua condução e aprimoramento, entre todos.

Não há outra solução. E, novamente, não existe um

Deus Mercado, ou Deus Estado, ou, Deus Ética que

venha resolver nossos problemas por nós, temos que

responder e agir por nós mesmos. Somos condenados

a ser socialmente responsáveis.

A dificuldade está concentrada na natureza geralmente

invisível dos impactos sociais e ambientais: nem a

mudança climática nem o trabalho infantil são ‘vistos’

no computador que eu uso e, no entanto, quando

compro meu computador, participo das mudanças

climáticas e trabalho infantil. Compreender essa

dificuldade de visualização é mais fácil com quadro

de Goya: “Duelo a garrotazos”. Nesta imagem, você

pode ver dois homens brigando por areia movediça.

A primeira coisa que chama a atenção, a

percepção imediata, ao observar esse quadro, são

os atos: a luta. No entanto, afundar na areia

movediça representa o impacto da luta. Esse

afundamento paulatino é uma percepção

secundária, da qual apenas o observador externo

da pintura é capaz. Os próprios lutadores, por

estarem focados em sua luta, não percebem que estão

afundando, não têm tempo para considerar os impactos

de suas ações. No entanto, é o impacto dos golpes e

não os próprios golpes que decidirá o resultado final da

luta: os dois perderão. Qualquer semelhança com

nossa atual situação econômico-política atual, não é por

acaso.

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