Manual O Modelo URSULA-RSU pt-br
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RSU
ESTRATÉGIAS / FERRAMENTAS / INDICADORES
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
1
COMPREENDER
A RSU
2
O MODELO
URSULA
3
APRENDER A
MUDAR
CONCLUSÃO
POSFÁCIO
REFERÊNCIAS CITADAS
ANEXOS
7
A boa notícia talvez possa vir da Agenda 2030 com os 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
que constituem um roteiro consensual muito útil para
orientar as políticas de desenvolvimento públicas e privadas.
No entanto, a primeira Pesquisa Continental da
URSULA (União de Responsabilidade Social
Universitária Latino-Americana [URSULA], 2018)
mostrou que as IES ainda estão longe de incluir esses
17 ODS nas matrizes curriculares de seus cursos.
Será que é uma questão de esperar um pouco mais para
que todas as boas vontades, iniciativas e políticas convirjam
para a mudança sistêmica desejada? Ou, simplesmente,
as mudanças não ocorrem porque os poderosos não têm
vontade e, os explorados não abraçam a ideia, porque
não são educados pelo sistema escolar e universitário
para exigir e construir um desenvolvimento justo,
equitativo, democrático e sustentável? Não gostaria de
responder a essa pergunta por que sei que o otimismo
é um dever absoluto do educador e temo perder o que
resta de mim como tal ao iniciar a redação deste
segundo Manual. No entanto, existe urgência, e ainda
não é perceptível a urgência de mudar os
sistemas educacionais.
Segundo, no que diz respeito ao ensino superior latinoamericano,
ajudamos, nos últimos dez anos, a aprofundar
a massificação estudantil ccom grande impulso da
privatização, a fim de responder à demanda, apesar das
políticas públicas de cortes econômicos orçamentários.
Obviamente, esse fenômeno continental tem como
consequência a luta pela qualidade e pela competição
entre as instituições para atrair os melhores estudantes.
Ele se encaixa perfeitamente com o boom mundial de
agências de acreditação e classificações internacionais,
que impuseram uma ideia de qualidade universitária com
A RSU muito presente
nos discursos e muito
postergada nos atos.
base no prestígio das “World Class Universities”. O duplo
problema deste paradigma neoliberal de gestão
universitária é que o modelo de qualidade que propõe:
(1) não contempla nem relevância social, nem a
justiça, nem a transição ecológica da sociedade
entre seus critérios e indicadores de desempenho e
sucesso”; e
(2) não se adapta aos contextos institucionais,
territoriais e comunitários dos países latinoamericanos.
Portanto, nossas universidades sempre olharão
lá de baixo, para o “top 10”, sentirão a incompatibilidade
de suas culturas com o que lhes é pedido do Norte e
desejarão “anglofonizar-se” para se mimetizar com o “top
10” e responder ao que agências internacionais pedem,
a menos que tenham um surto de orgulho e decidam
construir seu próprio caminho de sucesso a partir de sua
realidade. É para isso que serve a RSU, é para isso que
está a URSULA.
De qualquer forma, a pressão exercida no ensino superior
para alcançar níveis de qualidade padronizados
definidos em outros lugares implica muitos conflitos
de autonomia entre agências (públicas e privadas) e
universidades, bem como uma tendência à recepção acrítica
da moda de acreditação por parte dos diretores de turno. O
mínimo que se pode dizer é que não ajuda a territorializar
a universidade, torná-la mais sensível ao meio ambiente,
empática com sua comunidade, contextualizada em seus
processos acadêmicos e pedagógicos. Pelo contrário,
a tão famosa “internacionalização” do ensino superior é
antes de tudo uma “anglofonização” do ensino superior, em
um continente que possui duas línguas latinas universais
de ponta a ponta, o que deveria constituir uma enorme
vantagem (comparada à situação africana e asiática). Mas,
nem sequer isso não leva a uma harmonização continental
dos sistemas de graduação universitária. A pegada histórica
da colonização continua operando através da autosujeição
aos paradigmas do ex-colonizador, verifica-se o diagnóstico
de Paulo Freire e a União Latino-Americana continua sendo
um sonho doce, tanto acadêmica, quanto politicamente
(Freire, 2005 e Freire, 2006). Portanto, quase vinte anos
após seu nascimento no Chile (Universidad Construye País,
2006), a responsabilidade social da universidade
permanece um movimento contracorrente, apesar
da eterna reafirmação do “compromisso social” por parte
das autoridades universitárias em discursos e congressos.
As declarações de missão gostam de falar sobre ética,
solidariedade e responsabilidade social, mas existem poucas
propostas concretas que demonstram isso na administração
do campus e em programas profissionais. Em quanto isso,
os saberes dos povos nativos do continente, permanecem
fora do imaginário e do cotidiano da universidade latinoamericana.
Essa situação de viver a contracorrente torna
a RSU muito presente nos discursos e muito
postergada nos atos.