Primeros Modernos.pdf

primerosmodernos254tal tensão como característica intrínseca à produção cultural de um país com passado colonial e condição desubordinado, propriamente uma criação do “sistema econômico internacional em expansão” (Martins, 1991) e partede sua transformação.A partir da década de 20, com a produção modernista, tal questão se apresentará de maneiramais precisa em meio ao ambiente pós-guerra, o “boom” da indústria nacional, o crescimento das cidadesacarretando maior complexidade da vida urbana e a repercussão dos acontecimentos internacionais (a guerra,a Revolução Soviética).Lafetá, mesmo apoiando-se na linha teórica de Antonio Candido - a qual considerava aquestão da ambigüidade como étnica e própria de um povo latino colonizado por europeus que semiscigenaram com seres de culturas primitivas num ambiente tropical, levanta condicionantes mais imediatospara a origem de tal “caráter simultaneamente universal e localista que marca a produção do período inicial do modernismo”.Na concepção das vanguardas européias é reconhecido que todo olhar é construído culturalmente; sua artebusca no primitivo –visualidade oriental e africana- a possibilidade de construir um olhar que se diferencie dorenascentista, aproximando a arte da realidade. Entretanto, para os modernistas brasileiros, tal primitivismo quelevasse ao olhar procurado pelos europeus fora dos limites civilizados se encontrava muito próximo, no interiordeste país que ainda estava por ser descoberto.Assim, é possível afirmar que esta reflexão acerca da nacionalidade tenha marcado desde oinício as preocupações do Modernismo no Brasil. A fim de conformar uma identidade nacional, era necessáriovasculhar o passado tanto erudito como popular e dele fazer uma leitura com o olhar da modernidade,conformando uma síntese cultural. Configurava-se, desta forma, uma busca da essência do ser nacional, quelogo se apresentaria inatingível, levando os modernistas a procurar um novo caráter para seu trabalho que,originalmente preocupado com a ruptura estética de sua produção, aos poucos, voltar-se-á a umaconscientização política devido à efervescência das tensões sociais no momento. Este quadro é delineado nosanos 30, quando as temáticas sociais abordadas em todos os campos artísticos aproximarão a produção culturalbrasileira de um realismo, especialmente a literatura.Nacionalistas por formação e convicção, os modernistas participarão de um processo deconstrução de representações engajadas na eliminação da divisão de classes, sem adotar uma posiçãopassadista, buscando apenas metaforicamente no passado colonial os elementos constitutivos da identidadenacional. O referido posicionamento se explicava pela posição do colonizador em tal passado, sendo agente doseu obscurecimento, e pelo fato de um mergulho nas raízes do país levarem a elementos além das culturasindígena, africana e lusitana.A contribuição com um projeto modernista para o país se daria, segundo Martins, a partir doreconhecimento de que o nacionalismo tinham uma problemática apresentada em três níveis de necessidades:demonstração da equiparação cultural em relação às potências internacionais que revelasse a capacidade deacompanhar as vanguardas européias; unificação de um território e uma população marcados pelo