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Primeros Modernos.pdf

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primerosmodernos255regionalismo, limitando a utilização da matéria-prima regional na produção cultural; construção de umaidentidade nacional como meio de superar a possibilidade de fragmentação social interna, devido àmultiplicidade étnica das camadas menos favorecidas (tanto urbanas como rurais).Deste modo, fica clara a necessidade de se forjar uma identidade que dotasse o Brasilmoderno de sentido, caracterizando-a como projeto (daí o uso da expressão projeto modernista), além demudança de sentido e caráter do modernismo no país. “... Apesar de todo escândalo e de todo crise, as vanguardas faziamsentido na Europa. (...) Nós, ao contrário, não fazíamos sentido: a nossa razão de ser era a Europa. Por isto buscávamos sentidocom a nossa vanguarda – a afirmação da identidade nacional, a brasilidade. Paradoxal modernidade: a de projetar para o futuroo que tentava resgatar do passado. Enquanto as vanguardas européias se empenhavam em dissolver identidades e derrubar os íconesda tradição, a vanguarda brasileira se esforçava para assumir as condições locais, caracterizá-las, positivá-las, enfim. Este era onosso Ser moderno”.Como agravante de tal situação, existia a preocupação do artista com a formação de umpúblico e um mercado, tornando a educação um dado fundamental para o estabelecimento de uma produçãoartística de vanguarda no Brasil e estabelecimento da intelligentsia nacional. Nas palavras de Luciano Martins:“Será justamente a educação do povo, a reforma do ensino e a construção de um ‘campo cultural’, a partir da universidade quedefinirão os eixos de preocupação de boa parte da intelligentsia dos anos 20 e 30. E são estas preocupações que estabelecerão relaçãodireta (e contraditória) com o Estado”. Não se tratava de uma cooptação no sentido de garantir subsistência aosintelectuais -visto que sua principal alternativa de trabalho era o funcionalismo público, assumindo cargos aserviço de um governo de cuja orientação ideológica divergiam-, e sim da colaboração na construção de umanação civilizada, que viria a ser a construção de seu público.O processo de constituição institucional desenvolvido na década de 30 e acelerado na áreacultural na gestão de Gustavo Capanema enquanto Ministro da Educação, vem a ser a possibilidade de superaro atraso econômico com a superação do atraso cultural, tornando o projeto educacional verdadeiro paradigmarecorrente da tarefa de criar cidadãos e modernizar a elite. Tal tensão entre a elite e os “cidadãos a construir”implicará num esforço a fim de articular o popular e o erudito, a produção da obra cultural e do seu público,resultando num estremecimento nas relações entre Estado e intelectuais, dada a dificuldade do estabelecimentode uma divisão entre o programa cultural, a ação político-social e a propaganda governamental.A referida tensão foi lucidamente exposta por Mário de Andrade: “Num país como o nosso, emque a cultura infelizmente ainda não é uma necessidade quotidiana de ser, está se aguçando com violência dolorosa o contraste entreuma pequena elite que realmente se cultiva e um povo abichornado em seu rude corpo. Há que forçar um maior entendimentomútuo, um maior nivelamento geral de cultura que, sem destruir a elite, a torne mais acessível a todos, e em conseqüência lhe dêuma validade verdadeiramente funcional. (...) Tarefa que compete aos governos”.O dever de construção de uma identidade nacional orientará o projeto modernista a propora ação cultural como política cultural, dado que, junto ao autoritarismo do governo Vargas, explica o papel doEstado como promotor da produção cultural a partir do golpe de 30 e até o início da ditadura, em 1964.

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