FAZER CAPA COLORIDA GERAL DO PLANO DE MANEJO ... - WWF

Em relação aos sambaquis se dispõe de referências para a macro região envolvente como, por
exemplo, o sambaqui do Buracão, localizado no quilômetro 17 da rodovia que interliga o
Guarujá à Bertioga (Pallestrini, 1964). O arqueólogo Manoel Gonzalez, baseando-se nas
informações coletadas originalmente por Calixto em 1902, aponta terem existido pelo menos
treze sítios desse tipo entre o Guarujá e Bertioga (González, 2005, p.68). Recentemente, o
mestrando do MAE/USP Claudionor Spinelli, em trabalho de campo relacionado com seu
projeto de pesquisa intitulado “Arqueologia do litoral norte do Estado de São Paulo
identificou e cadastrou um sambaqui no Rio Itapanhaú, em Bertioga” (Com. Pess.). Ainda que
tais áreas estejam localizadas fora da área em apreço, precisamos considerar que a ocupação
sambaquieira não se reduzia ao entorno imediato das áreas de assentamento, mas
prolongava-se pelas regiões adjacentes. Como bem argumenta a arqueóloga Maria Dulce
Gaspar:
Embora as atividades rotineiras fossem desenvolvidas no próprio
sambaqui, os seus construtores exploravam intensamente o entorno
dos sítios. Os mangues, as lagoas e as águas do mar eram
freqüentemente percorridos. Pescavam, coletavam, caçavam,
circulavam pelos sambaquis vizinhos, trocavam informações e,
eventualmente, procuravam os seus cônjuges em outros sítios. Alguns
artefatos também eram fabricados nas redondezas, o que é
evidenciado pelas marcas de afiar e polir lâminas de machado
existentes em diques de diabásio encontrados nas praias. Também são
atribuídos a esse grupo painéis gravados em ilhas de difícil acesso no
litoral de Santa Catarina (Gaspar, 2000, p.165).
Nômades e seminômades, essas sociedades formavam um ponto base de ocupação a partir do
qual geriam uma série de recursos alimentares e de matérias-primas presentes em um amplo
território. Nesse sentido, é preciso considerar a possibilidade de que os sambaquis localizados
na região do limite sul de Bertioga estendessem suas ações de pesca, coleta e de produção de
artefatos, em direção ao norte, podendo ter atingido as áreas de interesse imediato deste
levantamento, pelo menos em relação aos seus limites sul, como de Guaratuba até a ponta da
Boracéia. Essa possibilidade aumenta exponencialmente quando agregamos à equação o fato
de que tais comunidades parecem ter tido importantes habilidades de navegação
(Amenomori, 2005; Nishida, 2001; Rambelli, 2003; Gaspar, 2000). Maria Cristina Tenório, em
sua análise dos sitos de pescadores-coletores-caçadores de Ilha Grande observa:
Ao que tudo indica, a pesca era desenvolvida com a utilização de
canoas. Chegamos a essa conclusão pela importância das lâminas de
machado para os habitantes do sítio, bem como pelas alterações nos
ossos dos membros inferiores e superiores dos esqueletos encontrados,
resultantes, provavelmente, de um esforço constante de remar em
pé. Acreditamos que as lâminas de machados fossem
predominantemente utilizadas na elaboração de canoas (Tenório,
2000, p.238-239).
Módulo PATRIMÔNIO CULTURAL 257