Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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BRASIL: URBANIZAÇÃO E FRONTEIRAS<br />
ideológica do período. O protótipo desse tipo de propaganda é o libelo<br />
separatista de Alberto Sales (1887): A Pátria Paulista. O autor apoia-se,<br />
entre outros, numa 'Lei do Progresso em Biologia' — recorrendo a Spencer;<br />
também em certa Lei do Progresso em Sociologia — através da qual busca<br />
provar que o progresso social sempre se fundamenta em agregações e<br />
desagregações; e assim por diante. E, quando passa a apresentar as<br />
vantagens que adviriam da autonomia econômica conferida aos estados bra-<br />
sileiros, argumenta nos seguintes termos:<br />
"Que estado rico, poderoso e florescente não seria São Paulo, se em seu proveito<br />
fossem aplicados os dezessete mil contos que anualmente desaparecem na voragem<br />
imperial? Os dois mil quilômetros de estrada de ferro que cortam o seu território<br />
seriam em breve dez, seriam vinte mil. (...)<br />
É justamente por isso que a propaganda separatista tem feito largo caminho na<br />
província: ela tem sido conduzida de preferência para o lado puramente econômico,<br />
que é precisamente aquele que mais impressiona o contribuinte. O egoísmo é<br />
um forte elemento de resistência; e assim como pode ser um obstáculo à realização<br />
de uma reforma, também pode ser a causa de uma revolução. É nele que residem,<br />
em última análise, os verdadeiros propulsores da civilização." 14<br />
Sales passa a expor, a seguir, a evolução da produção paulista, mostrando<br />
seu crescimento ano a ano. Interessa contrapor aos dados acima citados<br />
acerca das finanças imperiais, o que diz a respeito do café, cuja produção<br />
em sacas subira, entre os anos 1873 e 1885, de 666 mil a 1 milhão e 657<br />
mil:<br />
"`A vista destes dados (...) e atendendo-se, que a agricultura em nossa província<br />
ainda é bastante nova, achando-se, para assim dizer, a maior parte, senão a totalidade<br />
das terras por cultivar-se, é fácil de imaginar-se o esplêndido futuro que nos<br />
aguarda..." 15<br />
A passagem citada em nada parece refletir a noção de vulnerabilidade da<br />
economia brasileira fundada na monocultura, embora, como mostrado por<br />
14 Sales (1887), pp. 55-6.<br />
15 (Id.ibid.), p.59.