Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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BRASIL: URBANIZAÇÃO E FRONTEIRAS<br />
municipalismo comparece como anti-federalismo, e federalismo como anti-<br />
municipalismo. 9 Essa posição do autor deriva de sua hipótese de que, tanto<br />
no Império quanto na República o que se buscava — sempre às custas do<br />
enfraquecimento dos municípios — era o fortalecimento de ordens<br />
superiores do poder (a provincial e a nacional) :<br />
"É sabido que o poder central, na Monarquia, não mantendo relações com o município,<br />
senão para o tutelar, assentava sua força política no mando incontrastável<br />
exercido pelos presidentes de província, delegados de sua imediata confiança.<br />
Consequentemente, o próprio poder central se consolidou através de um sistema<br />
de concentração do poder provincial, isto é, pelo amesquinhamento dos municípios.<br />
Não seria, pois, de estranhar que as províncias e, mais tarde, os Estados,<br />
quando procuraram reunir forças para enfrentar o centro, continuassem a utilizar o<br />
mesmo processo. Aliás, a tutela do município tinha em seu favor o peso da tradi-<br />
ção." 10<br />
Numa interpretação diversa de Vitor Nunes Leal, entendo que todo esse<br />
conjunto de movimentos: tanto o municipalismo quanto a corrente liberal,<br />
de base provincial, da elite, 11 a centralização do Segundo Reinado, a<br />
tentativa frustrada de descentralização no ocaso do Império, e também o fe-<br />
aos ideais revolucionários, dizendo que, pelo contrário, estava salvando a Monarquia."<br />
Castro Nunes (1920),p.68, citado em Leal (1949), p.99-100.<br />
9 Leal (1949), pp.99-101.<br />
10 Leal (1949),p.101, (minhas ênfases).<br />
11<br />
Conforme o apontam Viotti (1977) e também Werneck Sodré (1965), e abordado<br />
também no cap.6 deste trabalho, no movimento liberal do Primeiro Império e do<br />
período regencial havia a superposição de diversos interesses políticos. O primeiro, o<br />
da própria elite que, tendo assegurado com a monarquia a continuidade do regime<br />
escravista, visava recuperar sua própria esfera de controle sobre o processo<br />
econômico (assumindo a centralização só após as revoltas liberais populares da<br />
regência. Um outro, o das camadas populares das diversas províncias, para cuja vida<br />
o arranjo da Independência não representou nenhum ganho. E cujas revoltas liberais,<br />
em alguns casos chegando ao separatismo, foram derrotadas pelas forças da própria<br />
elite das respectivas províncias e das províncias vizinhas.