Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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Capítulo 8 - A FORMULAÇÃO D E UMA POLÍTICA URBANA PARA O BRASIL<br />
Em oposição a interpretações que vêem no movimento de industrialização<br />
do período a manifestação de um Estado como que à parte, ou acima da<br />
sociedade, interessa rever os termos em que Celso Furtado o caracteriza:<br />
"Seria um equívoco imaginar que esta (i.é, a industrialização) derivou seu impulso<br />
principal da ação do Estado. O impulso principal originou-se nas próprias forças<br />
econômicas, como decorrência das tensões criadas pela crise do comércio<br />
exterior. Na verdade, a ação do Estado foi em grande parte uma resposta a essas<br />
tensões, mas o resultado final favoreceu o processo de industrialização. A crise do<br />
comércio exterior criou indiretamente, para as atividades ligadas ao mercado<br />
interno, uma situação privilegiada." 14<br />
No sentido de uma qualificação mais correta do período Vargas, deve-se<br />
contrapor, também, a sua imagem prevalecente as interpretações de Edgar<br />
de Decca (1981) em O silêncio dos vencidos, em que o autor mostra o peso<br />
político da participação (e relata a eliminação) do BOC - Bloco Operário e<br />
Camponês na assim chamada ‘Revolução contra as Oligarquias'. 15<br />
O período de industrialização engendrado da década de 30 impôs, pela pri-<br />
meira vez na história autônoma do país, um processo maciço de assalaria-<br />
mento, e a eliminação de suas barreiras alfandegárias internas. Foi sobre o<br />
suporte espacial então criado que o trabalho assalariado, em progressão em<br />
todo o território nacional, ganhou contornos formais definidos.<br />
14<br />
Furtado (1972 ed.), p.23. Nos parágrafos que se seguem a este, o autor se volta à qualificação<br />
dessa atitude 'substitutiva', assinalando que não se trata de uma intenção de<br />
concorrer pelo mercado interno do país. O movimento é gerado pelo vácuo deixado<br />
pela mercadoria foreira.<br />
15<br />
Segundo de Decca: "...garantir a presença da classe operária, em 1928, através do<br />
BOC na oposição, significava também levantar a bandeira contra o monopólio para<br />
além do limite de uma luta de consumidores... pois a incorporação da classe operária<br />
na luta política tinha que pagar o preço de aceitar a luta dessa classe contra o capital e<br />
não confundi-la com uma ampla massa de consumidores...Desvenda-se nesse sentido,<br />
a própria incorporação da defesa da legislação trabalhista no âmbito de algumas daquelas<br />
propostas políticas de revolução." Decca (1981), p.127.<br />
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