Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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BRASIL: URBANIZAÇÃO E FRONTEIRAS<br />
trário, da observância daquela legislação com respeito a um aspecto crucial<br />
do sucesso do empreendimento colonial: a questão da escravização do<br />
indígena (e, através de Vieira, também do negro). Foi essa postura que não<br />
convinha a Portugal, em um momento em que buscava firmar sua política<br />
mercantil no país. Da mesma forma que se lhe tornou inconveniente,<br />
naquele momento, a autarcização, pelos jesuítas, de regiões inteiras, como a<br />
Amazônia ou o Sul do país.<br />
O que é significativo na figura dos municípios foi sua prática mais<br />
abrangente no processo de colonização. O fato de terem se estruturado<br />
como uma instância político-administrativo dos interesses comuns da<br />
Metrópole e da elite local em formação.<br />
A formação das grandes propriedades assegurara, desde o início da coloni-<br />
zação, as condições para a formação de uma elite, cuja função seria<br />
promover a função a que se destinava a própria colônia: a produção de<br />
excedente expropriável. E ela se estruturou de fato, como classe, se não nos<br />
primeiros tempos da colonização, mas certamente a partir do momento em<br />
que a conversão das sesmarias doadas em empresas comerciais<br />
agroexportadoras possibilitou rendimentos econômicos adequados a seus<br />
detentores, induzindo-os a buscar níveis crescentes de produção. A<br />
montagem de um sistema de controle do processo de exploração na escala<br />
das capitanias não afetava, em sua essência, a posição social da camada pro-<br />
prietária. E nem interesse haveria, por parte da Metrópole, em alterar subs-<br />
tancialmente a estrutura de poder fundada no latifúndio — a base em que se<br />
assentava o funcionamento da empresa. A ampliação do poder das<br />
capitanias não viria a esvaziar, portanto, as possibilidades do exercício<br />
continuado do poder da elite em seu âmbito local.<br />
A partir do reconhecimento da estrutura social de elite que se formara ao<br />
longo do processo de colonização, torna-se mais fácil interpretar a função<br />
dos municípios no contexto histórico específico do país. Para a abordagem<br />
deste tema cabe colocar, no entanto, ainda que apenas de modo indicativo,<br />
as distinções com respeito à natureza das cidades feudais e o espaço urbano