Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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Capítulo 6 - A QUESTÃO DA REGIONALIZAÇÃO E O(S) REGIONALISMO(S) 155<br />
Retornando ao artigo de Gunn acima citado: pelos exemplos que acabamos<br />
de ver, é fácil concordar com Gunn quanto à necessidade de estudos mais<br />
aprofundados a respeito da 'matriz espacial' do Estado brasileiro, e, particu-<br />
larmente, quanto a suas configurações de molde federal ou regional. 13 Mas<br />
a diretriz em que encaminha suas sugestões para a realização dessa tarefa<br />
provoca alguns comentários. Em certo sentido suas indagações parecem<br />
corroborar a hipótese subjacente às críticas acima comentadas. Como, por<br />
exemplo, quando, partindo de uma citação de Buarque de Holanda a<br />
respeito do 'equívoco' da democracia no <strong>Brasil</strong> 14 , diz o seguinte:<br />
"É tentador considerar, a partir desta colocação, o estado nacional burguês no<br />
<strong>Brasil</strong> como um fenômeno precoce, se não fabricado. A precocidade e a<br />
fabricação insere-se na matriz espaço-temporal de unidades nacionais capitalistas,<br />
somente para permitir um entendimento da imposição gradual de fora para dentro<br />
dos estatutos clássicos do estado liberal burguês.(...)<br />
O modelo traçado serve para defender a tese de que a institucionalização das relações<br />
sociais, num padrão burguês, cumpriu o requisito básico para a expansão<br />
acelerada das forças produtivas de uma economia agro-exportadora. Falta entretanto<br />
um conhecimento das lutas políticas e os programas políticos alternativos no<br />
13<br />
Embora antes de se levantar a questão da oposição entre as formas estadual ou regional<br />
de subdivisão interna, talvez coubesse uma indagação acerca da necessidade da<br />
própria subdivisão. Retornando às colocações do capítulo precedente (Cap.5) a respeito<br />
do sentido do federalismo, o empenho da classe dirigente brasileira na<br />
'manutenção da integridade' do início da vida autônoma do país à custa da derrota dos<br />
movimentos separatistas não se coaduna com a idéia de sua adesão, algumas décadas<br />
depois, a uma moda intelectual, criando uma federação. De fato a Constituição da<br />
República dos Estados Unidos do Brazil, promulgada em fevereiro de 1891 não era<br />
a de uma União. Negavam-na a autonomia política, econômica e financeira de seus<br />
estados-membro.<br />
14<br />
"Trouxemos de terras estranhas um sistema complexo e acabado de preconceitos, sem<br />
saber até que ponto se ajustam às condições da vida brasileira e sem cogitar das mudanças<br />
que tais condições lhe imporiam. Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo<br />
democrático jamais se naturalizou entre nós... A democracia no <strong>Brasil</strong> foi sempre<br />
um lamentável mal-entendido." Buarque de Holanda (1978), p.119