Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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Capítulo 6 - A QUESTÃO DA REGIONALIZAÇÃO E O(S) REGIONALISMO(S) 159<br />
competitividade internacional, ainda hoje assentadas no aviltamento dos<br />
salários, graças à capacidade de sua manutenção localizada, ou<br />
regionalizada. 21<br />
O peso da permanência dos blocos regionais na política nacional foi<br />
apontado já inúmeras vezes em análises sobre o processo de<br />
desenvolvimento econômico brasileiro. A título de ilustração, veja-se os<br />
termos em que o colocou Fiori (1994), em O nó cego do desenvolvimento<br />
brasileiro:<br />
"O poder de veto dos vários blocos de interesse regional ou setorial reconhecidos<br />
pelo pacto original e reafirmados graças à sua contribuição financeira ou eleitoral<br />
para a reprodução política da ordem dominante, acabaram sedimentando grupos<br />
que se apropriaram, literalmente, dos centros de decisão estatal responsáveis pela<br />
proteção de seus mercados cativos. Este fenômeno cerceou, pesadamente, a<br />
autonomia das burocracias econômicas, tão presente e indispensável ao sucesso<br />
21<br />
Para exemplificar, pode-se retomar o caso acima comentado da derrubada de casas de<br />
camponeses nas fazendas de Alagoas. Conforme as informações da Folha de São<br />
Paulo de 28 de maio de 1995, a região canavieira do Nordeste acumulava, em 1964,<br />
indicadores sociais semelhantes aos dos países mais pobres do mundo, sendo sua<br />
região de maiores índices de miséria precisamente a Zona da Mata de Alagoas, onde<br />
estavam as usinas. Dados do Unicef apontavam que a mortalidade infantil nos 100<br />
municípios de Alagoas em 1994 foi de 80 mortes de crianças até um ano para cada<br />
mil nascidas vivas. Nos 57 municípios da Zona da Mata, a mortalidade infantil foi de<br />
200 para cada mil bebês nascidos vivos. Esse índice era quatro vezes a média do<br />
<strong>Brasil</strong> que, segundo o Ministério da Saúde, foi de 50 mortes para cada mil nascidos<br />
vivos em 1994. E a expectativa média de vida na região era de apenas 47,6 anos.<br />
Ainda assim, frente ao problema emergente da expulsão dos trabalhadores das<br />
fazendas, a solução vislumbrada pelo então secretário de planejamento de Alagoas,<br />
Jorge Toledo, foi apenas no sentido do reforço do particularismo regional; 'São Paulo<br />
já levou do Nordeste a indústria téxtil e agora vai acabar com a nossa produção de<br />
cana — que existe há 400 anos — caso o governo não veja o estrago social que isso<br />
vai acarretar'. Para interromper a derrubada das casas, Toledo cobrou do governo o<br />
aumento do subsídio ao açúcar e álcool produzido no Nordeste, que então já era de<br />
25%.