Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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Capítulo 2 - AS FUNÇÕES DOS MUNICÍPIOS<br />
movimentos a favor e contra a Independência, e na articulação central em<br />
defesa de uma independência com a preservação do trono de Pedro I.<br />
Também nos movimentos internos à Regência, período ao longo do qual a<br />
tendência descentralizante (de base provincial) da elite teve que inverter seu<br />
sentido em prol da preservação, via centro, de seus interesses comuns.<br />
2.3.1 O poder local no Império<br />
Um dos temas econtrovertidos da história do <strong>Brasil</strong> diz respeito ao assim<br />
chamado poder local. Isso não só por ser comumente enfocado em abstrato,<br />
como que em um vácuo histórico, econômico e social. Também porque<br />
quando se busca inseri-lo em um contexto concreto, esse tende a ser<br />
adotado de forma acrítica. É esse o caso de boa parte das colocações sobre o<br />
exercício do poder dos municípios no Império, geralmente contraposto ao<br />
absolutismo do Estado brasileiro naquele período — em que, portanto, a<br />
centralização ‘absolutista’ do Monarca já por si constituiria uma evidência<br />
do bloqueio do poder local. 34<br />
Em alguns autores a afirmação de que a política imperial tenha mantido as<br />
restrições, ou que talvez tenha amesquinhado ainda mais que a própria Me-<br />
trópole portuguesa a esfera de atuação do poder local, apoia-se na análise<br />
do quadro político-institucional que passou a reger as municipalidades após<br />
34<br />
A necessidade de se descartar o atributo absolutista do Estado brasileiro no Império<br />
deriva de sua inadequação histórica. Absolutismo não é uma forma de exercício do<br />
poder que se possa escolher em um cardápio (ou algo que D.Pedro poderia ter eventualmente<br />
rejeitado se não fosse sua ambição pessoal). Ele representa um momento<br />
concreto no processo de transformação das monarquias feudais, correspondente à<br />
estrutura através da qual sua classe dominante logrou reimpor seu domínio sobre o<br />
campesinato, à medida que as lutas camponesas levaram à dissolução das condições<br />
de dominação no âmbito local dos feudos, mas quando a burguesia e a produção de<br />
mercadorias ainda não se desenvolveram a ponto de poder substituir a velha organização.<br />
O Estado brasileiro não poderia ter surgido da Colônia como um Estado absolutista.<br />
Nasceu como um Estado de elite.<br />
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