Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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Capítulo 2 - AS FUNÇÕES DOS MUNICÍPIOS<br />
Código Penal o foram em seus conteúdos. Como Emília Viotti entendeu em<br />
Da Monarquia à República — momentos decisivos:<br />
"As camadas senhoriais empenhadas em conquistar e garantir a liberdade de comércio<br />
e a autonomia administrativa e judiciária não estavam, no entanto, dispostas<br />
a renunciar ao latifúndio ou à propriedade escrava. A escravidão constituiria o<br />
limite do liberalismo no <strong>Brasil</strong>. (...)<br />
Dentro dessas condições soariam falsos e vazios os manifestos em favor de fórmulas<br />
representativas de governo, os discursos afirmando a soberania do povo,<br />
pregando a igualdade e a liberdade como direitos inalienáveis e imprescindíveis<br />
do homem, quando, na realidade, se pretendia manter escravizada boa parte da população<br />
e alienada da vida política outra parte." 42<br />
Devido a isso que o tema da autonomia local dos municípios escapa de sua<br />
abordagem formal, calcada nos textos legais. Contrariamente ao sugerido<br />
entre outros, por Meirelles e Faoro, sua análise deve não só tomar por base<br />
o processo concreto da vida dos municípios no Império, mas interpretar,<br />
também, sua função no quadro político-institucional do período.<br />
É o caminho tomado por Carvalho Franco (1974) em Homens Livres na<br />
Ordem Escravocrata. Fundamentando-se sobretudo na análise de textos ofi-<br />
ciais do município de Guaratinguetá (mas ultrapassando em suas interpreta-<br />
ções o sentido documental estrito de sua referência, para dar um panorama<br />
da vida social do Império), o trabalho citado constitui fonte clássica de<br />
informações sobre a inserção das administrações municipais na estrutura<br />
econômico-social do Império. Atento à natureza da sociedade brasileira do<br />
século XIX — a natureza das relações em que se apoiava sua própria<br />
estabilidade política — o livro traça um quadro amargo dos<br />
comprometimentos embutidos mesmo naquelas estreitas brechas que se<br />
ofereciam para a ascensão econômica dos homens livres, mas sem<br />
propriedades, na 'ordem escravocrata'.<br />
Um dos marcos mais fortes da leitura de os Homens Livres, no entanto, é o<br />
relato da precariedade das condições de funcionamento das Câmaras muni-<br />
42 Viotti (1977), pp.27-8.<br />
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