Brasil: urbanização e fronteiras - USP
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BRASIL: URBANIZAÇÃO E FRONTEIRAS<br />
vindo nas aldeias, instituições públicas que deviam gozar da proteção oficial<br />
(...)." 26<br />
Não se pretende transformar essa questão no que seria o sentido pejorativo<br />
de uma 'discussão acadêmica'. A rejeição do termo Estado colonial parece<br />
imprescindível, no entanto, para a própria compreensão do processo<br />
histórico em pauta. Estado colonial não existe. O que existe é a Metrópole,<br />
e sua colônia; ou existem, de fato, dois Estados, quando então a função<br />
metropolitana do primeiro, assim como o epíteto colonial do segundo,<br />
devem desaparecer.<br />
O poder político que a camada social de maiores posses da colônia exercia<br />
através das Câmaras não constitui, no entanto, o fator determinante para a<br />
clarificação dessa questão. Não é pelo poder concentrado, ou por exorbitar<br />
dele ao longo de seu exercício, que um aparelho de dominação se torna<br />
soberano. 27 Trata-se, pois, de se avaliar a atuação desses 'homens bons':<br />
verificar se de fato ela pode ser caracterizada como um movimento no<br />
sentido do rompimento do vínculo colonial. A resposta, acredito, só pode<br />
ser negativa. E isso pela própria evidência de que sua função econômica - a<br />
geração de excedente para a metrópole, não chegou a sofrer solução de<br />
continuidade ao longo do preíodo colonial, e nem sequer foi por eles<br />
questionado. A classe dominante colonial sempre soube usar, em seu pró-<br />
prio benefício, o poder que através das Câmaras lhe foi atribuído. Mas isso<br />
rigorosamente dentro da estrutura colonial.<br />
A imprecisão da expressão acima apontada de Estado colonial é incômoda<br />
porque, ao apagar a distinção necessária entre os conceitos de colônia e de<br />
metrópole, deixa de dar a devida relevância à articulação real de interesses<br />
entre a elite colonial em formação no <strong>Brasil</strong> e a Metrópole portuguesa. E é<br />
calcado nessa imprecisão que a atuação autônoma da classe proprietária,<br />
26 Prado Junior(1933), pp.29 e 30.<br />
27<br />
Como também não é por ser descentralizado — já para avançar em um tema a ser tratado<br />
posteriormente, que ele se democratiza. A pergunta relevante sempre é Poder de<br />
que, ou poder exercido em função do que ou de quem?