vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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Antes mesmo de lançar a concorrência dos mínis, Saur e Ripper começaram a<br />
articular uma estratégia para ampliar o alcance da política de informática.<br />
Objetivo: montar um empreendimento para fabricar sistemas maiores, envolvendo o<br />
governo, a iniciativa privada nacional e uma empresa estrangeira com porte e<br />
tecnologia competitivos o suficiente para neutralizar a força da IBM. Sabiam que<br />
trilhariam um caminho diferente do adotado para a área de minicomputadores. Mas<br />
para o secretário-executivo da Capre e para o diretor-técnico do Serpro, as<br />
alternativas eram piores: tentar segurar as necessidades do mercado, o que<br />
resultaria em um esforço sobre-humano para agüentar as pressões, muitas das quais<br />
legítimas; ou deixar a IBM e outras empresas estrangeiras ocuparem-no rapidamente e<br />
à margem de qualquer política brasileira de capacitação <strong>tecnológica</strong>. Era claro que<br />
um empreendimento destinado a disputar o segmento de médio porte iria requerer um<br />
volume de recursos bastante superior ao necessário para os mínis, o que<br />
dificilmente seria obtido apenas com o capital nacional. Além disso, desta vez as<br />
universidades não poderiam alegar existir capacitação <strong>tecnológica</strong> no país. Em suma:<br />
o "modelo do terço", novamente, parecia se mostrar uma solução salvadora. O estado<br />
como sócio vigilante da consecução dos objetivos políticos do empreendimento; o<br />
investidor privado nacional como um sócio que assegura a natureza privada da<br />
empresa; o investidor estrangeiro trazendo sua tecnologia que será, acredita-se,<br />
paulatinamente absorvida.<br />
Tanto o lado governamental quanto o sócio estrangeiro já estavam definidos. O<br />
Serpro e a Digibrás representariam o estado, enquanto que o candidato natural ao<br />
segundo era a Fujitsu, um namoro já antigo. Faltava encontrar o sócio nacional<br />
privado.<br />
Em maio de 1977, o presidente da Fujitsu, Taiyu Kobayashi, enviou carta a<br />
Élcio Costa Couto, manifestando sua intenção de fabricar, no Brasil, a mais nova e<br />
evoluída linha de computadores da empresa, a Série M. Acrescentou estar disposto a<br />
honrar e a seguir as linhas-mestras e as regulamentações do governo brasileiro para<br />
o setor.<br />
Esta carta deu encaminhamento formal a entendimentos preliminares mantidos<br />
entre Ricardo Saur e os japoneses. Para Saur, conforme documento enviado a Costa<br />
Couto, seria interessante ao país contar com outra fábrica de computadores de médio<br />
e grande porte, como meio de reduzir a excessiva dependência à IBM, que aqui<br />
fabricava o /370-148. Mais um fabricante significava, além das vantagens do<br />
investimento (criação de empregos e substituição de importações), uma saudável<br />
concorrência.<br />
Única multinacional sediada fora dos Estados Unidos a oferecer, seriamente,<br />
opções em toda a gama de computadores, seus produtos eram compatíveis com os<br />
sistemas IBM, mas resultaram de sua própria tecnologia. Nos Estados Unidos,<br />
associou-se à Amdahl, fabricante de UCPs capazes de substituir, com vantagens,<br />
máquinas de grande porte da IBM. A Fujitsu, acrescentou Saur, poderia fornecer<br />
tecnologia para empreendimentos nacionais em outros segmentos, como o de discos<br />
magnéticos, e estava disposta a manter o compromisso de fornecer tecnologia de<br />
semicondutores, firmado por ocasião das negociações com o GTE.<br />
Élcio deu sinal verde para o prosseguimento das negociações. Em junho, uma<br />
delegação japonesa veio ao Brasil e, em setembro, enquanto a comissão técnica da<br />
Capre analisava os projetos dos mínis, Ripper e Fioravante viajaram para Tóquio, a<br />
convite do governo japonês. Lá os aguardava um extenso programa de palestras sobre<br />
a política de informática local, explicitada em seus mínimos detalhes.