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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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informática". E, curioso: o texto integral da portaria foi reproduzido<br />

discretamente, nas duas últimas páginas do Boletim da Capre de abril/junho de 1975.<br />

Na nota de apresentação de cerca de 200 palavras, que sempre assinava em todos os<br />

Boletins, Ricardo Saur convidou seus leitores a enviarem trabalhos para serem<br />

publicados, recomendou a leitura das conclusões de dois seminários realizados na<br />

época, destacou artigos de Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, Luís Carlos Sá<br />

Carvalho, Mário Ripper, Mário Telles, mas não fez qualquer referência às diretrizes<br />

dos ministros. Era como se nada tivesse acontecido...<br />

E foi para fazer andar a Digibrás, agora transformada em braço executor da<br />

política que parecia ter sido traçada, que Velloso convocou quem estava ali, ao<br />

alcance de sua mão: José Dion.<br />

Experimentado na escola pragmática do ex-ministro Delfim Netto, Dion assumiu e<br />

não demorou a encontrar o caminho mais rápido para tornar realidade a tão desejada<br />

fábrica nacional de computadores. A Nixdorf tinha tecnologia para ceder e se<br />

interessava pelo mercado da Volkswagen no Brasil? Ótimo! Precisava-se de um grupo<br />

privado nacional, com dinheiro? Não tem problema: o grupo segurador Atlântica-<br />

Boavista aceitava entrar no negócio. Um terço Nixdorf, um terço Atlântica-Boavista,<br />

um terço Digibrás: eis aí uma empresa privada e nacional ao mesmo tempo, e com o<br />

Estado presente para fazê-la seguir os passos da política. Tudo conforme as<br />

diretrizes do governo.<br />

O "modelo do terço" não era novidade. Foi adotado em outros programas<br />

industriais como, por exemplo, no pólo petroquímico baiano. Não era sequer uma<br />

fórmula que Saur e Marcos Vianna descartassem. Mas, além de atropelar os<br />

entendimentos que vinham sendo mantidos com a Fujitsu, Dion substituíra uma empresa<br />

industrial nacional por uma empresa financeira que, na ótica dos dois, não teria<br />

interesse nem condições práticas para operar uma efetiva absorção da tecnologia<br />

estrangeira. Saur que sempre buscava negociar e cooptar concluiu que, desta vez,<br />

seria preciso radicalizar. Estava em jogo o futuro da política industrial. De fato,<br />

desde então, o presidente do CNPq foi colocado sob fogo permanente de pesada<br />

artilharia.<br />

A esta altura, a comunidade acadêmica começou a se preocupar. Não que faltasse<br />

dinheiro. A Finep que, no governo Geisel, tinha à frente José Pelúcio Ferreira, era<br />

uma fonte generosa de recursos. Seu Programa Integrado de Computação previa gastar<br />

2 milhões de dólares, de 1975 a 1976, em projetos universitários de pesquisa com<br />

chances de industrialização. Projetos também não faltavam. Nas bancadas dos<br />

laboratórios universitários estavam tomando forma: um terminal inteligente baseado<br />

no microprocessador de oito bits Intel 8008, no NCE; outro terminal, baseado no<br />

microprocessador Intel 8080, mais avançado, na UFRGS; ainda na UFRGS, uma interface<br />

para ligar o computador IBM 1130 com um Burroughs 6700; um terminal gráfico na UFMG<br />

que, também desenvolvia uma metodologia para projeto de desenho de circuito<br />

integrado e ferramentas de software para o Pade; um terminal de vídeo e um teclado<br />

na DFa. do Serpro. Sem falar no badalado G-10 que avançava, apesar da distância e<br />

das diferenças entre as equipes da USP e da PUC-RJ que, ainda por cima, sentiam-se<br />

um tanto órfãs desde a morte do comandante Guaranys.<br />

Faltava, porém, quem se dispusesse a levar tudo isso para o mercado. Faltava a<br />

indústria. As multinacionais não demonstravam o menor interesse em aproveitar o<br />

talento nascente no país. Ivan, quando ainda estava no NCE, procurara a IBM para<br />

que industrializasse o seu processador de ponto flutuante. Não encontrou sequer<br />

alguém habilitado e autorizado a tratar do assunto. A esperança seriam as empresas<br />

privadas nacionais. Mas que empresário se arriscaria a investir num mercado<br />

sabidamente sob controle absoluto das multinacionais? Sobrava o estado. Só que a

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