vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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unidades por ano. Para quem fabricava 15 por mês, esta encomenda poderia significar<br />
uma grande virada. Ou, a morte. Edson apostou no lado positivo. Mas o secretárioexecutivo<br />
da Capre, Ricardo Saur, alertou-o para os riscos da negociação. "Vocês<br />
vão ficar amarrados na Burroughs, pois 90% da produção estará nas mãos de um só<br />
cliente. Daqui a um ano terminará o contrato, eles vão começar a fazer exigências,<br />
podem até querer comprar a Scopus."<br />
A advertência valeu, mas não pelas razões expostas por Saur. Tendo errado suas<br />
previsões de mercado, a Burroughs, ao cabo de um ano, estocara 700 dos mil<br />
terminais e não quis renovar o contrato. A Scopus, porém, não foi pega<br />
desprevenida. Durante esse ano, tratou de desenvolver novos produtos, conquistando<br />
novos clientes como a SID e a Labo, vitoriosas na concorrência da Capre, e a<br />
multinacional Univac. Estava assegurada a sua independência!<br />
Com maior ou menor intensidade, os percalços enfrentados pela Scopus foram<br />
comuns à maioria das pequenas empresas que surgiram a partir de 1977. Pioneira,<br />
inexperiente e sem capital, a indústria nacional partiu do zero e teve como único<br />
trunfo um mercado ávido de máquimas e sistemas. Cinco anos era o prazo para se<br />
viabilizar e, então, concorrer de igual para igual com as multinacionais.<br />
A maioria das empresas nasceu descapitalizada. Seja pela avareza de acionistas<br />
desconfiados, seja por inexperiência, excesso de otimismo e até mesmo para não<br />
assustar os investidores, as pessoas que conduziram o processo de criação das<br />
primeiras empresas não contaram com os recursos realmente necessários para tal<br />
empreitada. Os dirigentes da Cobra jamais conseguiram que seus acionistas<br />
integralizassem o capital autorizado. Os criadores da Edisa nem ousaram propor aos<br />
investidores gaúchos um aporte condizente com as dimensões previstas da empresa.<br />
Eles sabiam que, mais do que dinheiro, faltava ao empresariado vontade de correr um<br />
risco de 40 milhões de dólares. Mas como o negócio era de 40 milhões de<br />
cruzeiros...<br />
Além de capital, todos careciam de qualquer experiência industrial prévia.<br />
Tecnologia não reside apenas na capacidade de desenvolver um projeto. É preciso,<br />
também, capacidade técnica para industrializá-lo. Até, para comercializá-lo. Os<br />
empresários-projetistas pioneiros não tardariam a descobrir que tal competência até<br />
que existia na cabeça dos engenheiros de produção e de vendas das empresas<br />
multinacionais. Foram buscá-los. E muitos destes acabariam descobrindo,<br />
satisfeitos, a diferença que existe entre manipular receitas prontas ou ajudar a<br />
prepará-las.<br />
Grande parte das pessoas que assumiu o comando das primeiras empresas nunca<br />
fora empresária antes. Os jovens engenheiros que apoiaram a política de informática<br />
sentiram-se realizados porque - agora sim! - iriam dar vazão à sua criatividade e<br />
projetar equipamentos. Visão romântica que logo se esboroou. Rapidamente perceberam<br />
que não bastava saber juntar circuitos integrados: o maior desafio que tinham pela<br />
frente era oferecer produtos confiáveis, úteis e a um custo aceitável.<br />
O analista de sistemas Arnon Schreiber, por exemplo, conhecia<br />
teleprocessamento como poucos. Sua competência técnica, acumulada durante o tempo<br />
em que foi responsável pelo sistema on-line da Lyon, uma revendedora Caterpillar,<br />
era de tal maneira reconhecida que a Olivetti lhe encomendou um projeto de<br />
automação bancária para o Brasil. Pouco tempo depois, foi a vez de o Banorte<br />
colocar em suas mãos o projeto de automação de suas agências. A vaidade<br />
profissional de Arnon manteve-se incólume até decidir criar a Digirede, sua própria<br />
empresa, para projetar e fabricar os equipamentos e sistemas para automação