vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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Também a Atlética gozava de autonomia e recursos. Na administração do dinheiro<br />
pelos estudantes nada se comprava sem licitação.<br />
A ebulição política do início dos anos 60 não poderia deixar de influenciar o<br />
campus, embora o Centro Acadêmico procurasse manter-se neutro. Prestar serviços à<br />
comunicade, funcionando como uma pequena empresa continuou sendo seu maior<br />
objetivo. Não participou nem da União Estadual dos Estudantes, nem da União<br />
Nacional dos Estudantes. Apesar da ativa atuação de uma célula do Partido Comunista<br />
Brasileiro, da qual um dos secretários-políticos foi o aluno Rômulo Villar Furtado,<br />
a maioria dos alunos tendia para posições conservadoras. A esquerda conseguiu<br />
empalmar o C A na virada dos anos 60. Mas por pouco tempo. Em 1961, quando, em todo<br />
o país, a UNE mobilizou os estudantes para defender a Constituição e garantir a<br />
posse do vice-presidente, João Goulart, o C A convocou uma assembléia-geral para<br />
decidir a adesão dos alunos ao movimento. Decidiu contra. Só restou aos perdedores,<br />
entre estes os diretores do Centro, assinar uma declaração de voto para marcar<br />
posição. A direita, liderada por Sérgio Bordeaux Rego, filho de um brigadeiro<br />
envolvido na conspiração contra Jango, continuou ganhando todas as decisões<br />
importantes, retomando o controle do C A em 1963, quando derrotou a chapa<br />
encabeçada pelo aluno Raimundo de Oliveira. Mas, no ITA, as diferenças de opinião<br />
jamais atingiram a mesma radicalização do restante do país. Tanto que os<br />
adversários Raimundo e Bordeaux eram grandes amigos, inclusive repartindo o mesmo<br />
quarto de dormir.<br />
Assim não pensaram os militares que assumiram o poder em 1964. Para alguns<br />
setores da Aeronáutica, a escola era altamente politizada. Fortes provas do<br />
envolvimento dos alunos com o movimento subversivo foram reunidas, entre estas, um<br />
disco do compositor Tchaikovsky, certamente um agente de Moscou, e o livro A nova<br />
classe, do dissidente iugoslavo Milovan Djilas. As primeiras prisões ocorreram no<br />
dia 8 de abril. Os alunos eram chamados para prestar depoimento na 4ª Zona Aérea,<br />
em São Paulo, e não mais voltavam. Bordeaux, argüindo o nome de seu pai e sua<br />
insuspeita posição política, esforçava-se para defender os colegas, mas em vão. Os<br />
alunos sussurravam os nomes dos próximos a serem chamados. Entre eles, claro,<br />
Raimundo de Oliveira. Como representante de turma e, portanto, membro do C A,<br />
Raimundo se apresentava diariamente ao gabinete do reitor, exigindo a libertação<br />
dos colegas presos: "Eles estão perdendo provas, brigadeiro!", insistia<br />
ingenuamente diante de um militar que sabia estar aquele ousado aluno entre os<br />
próximos a serem chamados. Foi o que aconteceu no dia 14 de maio, quando uma kombi<br />
da 4ª Zona Aérea veio pegá-lo. Percebendo que não mais voltaria, ele levou suas<br />
roupas e despediu-se dos colegas. Ficou preso 90 dias na Base Aérea de Itapema,<br />
Guarujá, junto com centenas de sargentos e suboficiais da Aeronáutica. Ao final,<br />
foi expulso do ITA.<br />
A partir de então, o ITA mudou. As turmas foram esfaceladas e desagregadas. A<br />
cola apareceu, o espírito de disciplina consciente desapareceu. Mas sua ideologia<br />
que impregnava o indivíduo de responsabilidade junto com espírito criativo marcara<br />
em definitivo os jovens que por lá passaram, ainda no decorrer dos anos 60.<br />
A primeira geração de iteanos - ou iteotas como, jocosamente, se<br />
autodenominavam — aproveitou as duas grandes oportunidades de trabalho que se<br />
ofereciam no início da década de 60 para galgar os degraus de ascensão<br />
profissional: a expansão da área de telecomunicações, com a criação da Embratel e<br />
de diversas companhias estaduais de telefonia, e o surgimento do mercado de<br />
informática.<br />
Até o final da década de 50, computadores eram pouco mais que raridades<br />
curiosas e quase inacessíveis. Seus usuários contavam-se nos dedos. O primeiríssimo