vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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presidente da Digibrás saber que o BNDE não forneceria recursos para o<br />
empreendimento. O presidente da Digibrás era José Dion.<br />
Sim. Depois que saiu do Serpro, Dion foi acolhido por seu conterrâneo Reis<br />
Velloso - ambos são do Piauí - e recebeu a presidência do CNPq, onde permaneceria<br />
durante todo o governo Geisel. Entre outros, levou para fazer parte de sua<br />
diretoria Antônio Carlos Rego Gil que, após chegar a diretor de marketing da IBM,<br />
licenciou-se um tempo e foi trabalhar com Dion. Em meados de 75, Velloso entregou,<br />
também, a Digibrás à presidência de Dion, que a acumulou com a do CNPq. O ministro<br />
do Planejamento esperava, assim, resolver um espinhoso problema, pois a Digibrás<br />
pouco avançara até então, motivando reclamações do Ministério da Marinha. O máximo<br />
que conseguira, sempre empurrada pela Marinha, foi fechar um acordo com a Ferranti<br />
em torno da "empresa A", dando nascimento, em 18 de julho de 1974, à Computadores<br />
Brasileiros S.A. - Cobra. Quanto à "empresa B", continuou no plano das idéias.<br />
A Cobra nasceu com o irrisório capital de um milhão e duzentos mil cruzeiros -<br />
só o projeto de sua fábrica, assinado pelo arquiteto Sérgio Bernardes, lhe custaria<br />
250 mil cruzeiros. Conforme previsto, seus sócios eram a Digibrás, a E.E. e a<br />
Ferranti. Ficou acertado que a empresa montaria e, paulatinamente, absorveria a<br />
tecnologia do computador de controle de processos Argus 700 que passaria a ser<br />
vendido, no Brasil, com o nome de Cobra 700. Um grupo de 30 engenheiros brasileiros<br />
foi enviado à Inglaterra, em meados de 1975, onde, realmente, adquiriu valiosos<br />
conhecimentos sobre projeto e fabricação de computadores. 1<br />
Mas o Ministério da Marinha insistia em dar mais velocidade aos fatos.<br />
Pressionado, Velloso negociou com seu colega, almirante Geraldo Azevedo Henning, um<br />
conjunto de diretrizes baixadas através da Portaria Interministerial n° 70, de 9 de<br />
junho de 1975. O preâmbulo já deixava claro que, por uma simples portaria, se<br />
estava fixando uma política. Ambos os ministros, "considerando a importância<br />
estratégica de o Brasil dominar a tecnologia de eletrônica digital, com ênfase em<br />
computadores digitais, seus sistemas e aplicações, e a decisão do governo<br />
brasileiro de continuar apoiando a criação de uma indústria do setor, de modo a<br />
promover, a médio prazo, a transferência de tecnologia envolvida e a capacidade de<br />
sua futura autonomia, conforme o disposto no capítulo XIV do II Plano Nacional de<br />
Desenvolvimento (PND)", resol<strong>vera</strong>m baixar um conjunto de treze diretrizes<br />
abrangentes e objetivas. Estabeleceram que, "na condução do problema", seria<br />
considerada uma "estratégia global", envolvendo todos os aspectos, "tais como<br />
mercado brasileiro (civil e militar), transferência, fixação e disseminação de<br />
tecnologia, viabilidade econômica, futuro do empreendimento, formação de pessoal,<br />
conseqüência dentro do contexto internacional, produção industrial,<br />
comercialização, manutenção, treinamento e possibilidades de exportação". Definiram<br />
que os esforços do governo seriam concentrados num empreendimento único, associando<br />
capital estatal, privado nacional e privado estrangeiro – este trazendo tecnologia.<br />
Incentivavam programas de nacionalização industrial e de pesquisa <strong>tecnológica</strong>,<br />
inclusive com destinação de recursos a fundo perdido. E fixaram que "a execução da<br />
política governamental será conduzida pelo Grupo Digibrás", considerado "peçamestra<br />
para a coordenação do esforço de criação e de recepção de tecnologia em<br />
eletrônica digital". A Digibrás continuaria sendo uma holding da "empresa A" e da<br />
"empresa B".<br />
A rigor, a portaria n° 70 foi o primeiro documento governamental fixando uma<br />
política nacional de informática, antes até de a revista Dados & Idéias vir à luz<br />
ostentando, na sua primeira capa, a chamada "Para uma política brasileira de<br />
1 Além das entrevistas, uma importante fonte de informações sobre a história da Cobra foi o<br />
livro Rastro de Cobra, escrito pela jornalista Sílvia Helena e editado, não-comercialmente,<br />
pela própria Cobra