vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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Assembléia Constituinte e de eleições diretas para a Presidência da República, não<br />
admitiam o "acordo espúrio" que Severo e Cristina costuravam com oficiais ligados<br />
ao SNI. Severo e Cristina argumentavam que o debate sobre a informática podia<br />
ampliar as prerrogativas do Congresso, logo fortalecer a própria luta democrática.<br />
Embora não estivessem ainda muito seguros de como seria isso. "O que significa<br />
ouvir o Congresso?", perguntavam-se todos na Comissão do PMDB. "É coonestar tudo o<br />
que a SEI fizer?" "É receber o projeto do governo, bater o martelo e por isso a<br />
política ficou democrática?". Com isso não concordavam.<br />
Havia que se descobrir uma fórmula, muito difícil na vigência da Constituição<br />
da ditadura, para dar ao Congresso mais força na condução da Política. Inspirado no<br />
documento Esperança e Mudança, a Bíblia do PMDB, Milton encontrou a solução: a Lei<br />
da Informática deveria estabelecer que cabe ao Congresso e não ao presidente da<br />
República, discutir, aprovar e acompanhar os Planos Nacionais de Informática. Se<br />
esta idéia vingasse, a informática seria o primeiro setor da economia brasileira a<br />
ter seus rumos definidos democraticamente no Congresso, e não nos gabinetes<br />
fechados dos tecnocratas do regime. A proposta não teve imediata aceitação.<br />
Suscitou dúvidas até mesmo sobre a capacidade de os parlamentares discutirem<br />
periodicamente uma questão um tanto quanto hermética. Milton tirou cópias das<br />
páginas do documento que falam da necessidade de os planos de governo serem<br />
aprovados por lei do Congresso e, na reunião seguinte, fez um discurso inflamado:<br />
"Se fôssemos um partido comunista, alguém pegava um texto de Lênin e dizia: 'O<br />
camarada Lênin diz isso no capítulo tal...'. E todo o mundo aprovava. Nós também<br />
temos textos, a 'lei do plano' está aqui. Ou defendemos isto, ou não adianta<br />
escrever documentos." As últimas resistências se dobraram, a proposta foi definida<br />
como posição partidária que todos defenderiam na discussão do projeto do Executivo:<br />
caberia ao Congresso, não ao presidente da República, decidir sobre informática!<br />
A Comissão de Informática do PMDB trabalhou a plena carga durante todo o<br />
período de discussão do projeto do Executivo, subsidiando com informações os<br />
parlamentares do partido, preparando emendas, analisando a evolução dos debates.<br />
Inclusive, elaborou um substitutivo ao projeto do Executivo, porque, logo que a<br />
Comissão Mista do Congresso começou a funcionar, Severo Gomes entendeu que deveriam<br />
dispor de um para esgrimir contra substitutivos apresentados pelos senadores Carlos<br />
Chiarelli e Roberto Campos. De novo, Paulo Abreu foi chamado para ajudar, levando<br />
desta vez, para auxiliá-lo, Fernando Calicchio — precisava mostrar ao PMDB que<br />
podia ser tão útil à Oposição quanto fora a Chiarelli. Edson Fregni também foi<br />
acionado para colher subsídios de Dytz. O PMDB demonstrava que preparava um<br />
substitutivo para se proteger de manobras parlamentares, não para derrubar a<br />
proposta do governo. De fato, se o governo tinha o que temer, a ameaça morava no<br />
seu próprio partido que, embora majoritário no Congresso, dividiu-se no debate<br />
sobre a informática. O PMDB marchou unido.<br />
Assim que o projeto do Executivo entrou no Congresso, Roberto Campos e Rita<br />
Furtado desencadearam manobras regimentais e políticas para dificultar sua<br />
tramitação. Rita encarregou-se de liderar uma campanha contra o regime de urgência:<br />
colheu um abaíxo-assinado de 38 senadores e 142 deputados pedindo sua revogação<br />
regimental. Enquanto isto, a imprensa abria espaços para declarações de empresários<br />
e homens públicos - inclusive o ministro das Comunicações, Haroldo Corrêa de Mattos<br />
— criticando a urgência na votação. A complexidade da informática exigia um debate<br />
mais amadurecido, argumentava-se. O risco de não se tomar decisão alguma antes do<br />
fim do governo e o fato de a Política já vir sendo discutida há cinco anos<br />
justificam a urgência, responderam os aliados da SEI.<br />
Por sua vez, Roberto Campos passou a exigir verificação de quorum para a<br />
leitura do projeto, sem a qual, formalmente, ele não existe. Colocar metade mais um