vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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aplicativos dos mais diversos, somando mais de mil, germinando uma cultura de<br />
informática genuinamente nacional.<br />
A capacidade de armazenamento na memória do mais antigo 500 - o 530 —<br />
alcançava 500 mil bytes e, logo, a Cobra lançou o 540, com 1 milhão de bytes,<br />
número internacionalmente expressivo, à época. Como ainda não haviam aparecido os<br />
microprocessadores de 16 bits - tamanho de palavra-padrão para os mínis - a UCP<br />
destas máquinas ocupava várias placas de circuitos integrados, em um autêntico<br />
desafio para os projetistas, que não dispunham, como hoje, de sistemas de projeto<br />
por computador: cérebro, só o natural, testando-se o funcionamento dos circuitos,<br />
meses a fio, em modelos elétricos construídos artesanalmente. Os engenheiros da<br />
Cobra dispuseram a UCP em quatro placas, nelas agrupando vários processadores AMD<br />
2901. Das mais modernas pastilhas da época, reunia a unidade de entrada e saída com<br />
a unidade lógica aritmética, ficando a meio caminho entre um circuito integrado<br />
padrão — que só tem entrada e saída — e um microprocessador típico — que junta<br />
àquelas duas unidades uma unidade de controle. Outra novidade apresentada pelos 500<br />
foi o acesso por terminais no lugar dos usuais cartões perfurados.<br />
Além dos desafios técnicos, Stephan Kovach (ex-USP, ex-G-10), Manoel Lage (ex-<br />
ITA, ex-G-10), Eduardo Lessa (ex-PUC, ex-DFa), Marília Milan, Firmo Freire,<br />
Leopoldo Pereira (um dos pioneiros da nacionalização do Argus), entre outros<br />
engenheiros e técnicos liderados pelo ex-iteano Fábio Ferreira, enfrentaram a crise<br />
da mudança da Diretoria, o descrédito dos editoriais de alguns jornais, mas, com<br />
total apoio do superintendente Vicente Paollilo, construíram até abril de 1980 um<br />
armário metálico de quase dois metros de altura e metro e meio de largura, muito<br />
apropriadamente apelidado de Hulk. Pelo tamanho da máquina e pela fúria que os<br />
motivava. Feitas as cabeças de série, melhoraram o design adequando suas dimensões<br />
e, em outubro, entregaram ao mercado aqueles que seriam o grande sucesso comercial<br />
da tecnologia brasileira. Os Cobra 500 - 520, 530, 540, 480 e 580 - venderam, em<br />
sete anos, 2.671 sistemas. É o maior parque de computadores do país (excluídos os<br />
micros).<br />
No momento em que a Política Nacional de Informática colhia os seus primeiros<br />
resultados empresariais e tecnológicos, a consagração dos microprocessadores<br />
revolucionou os conceitos dos sistemas e as práticas do mercado. Inventados pelo<br />
engenheiro Ted Hoff, da Intel, em 1971, os microprocessadores são componentes que<br />
integram, numa mesma pastilha de silício, todos os elementos básicos de uma unidade<br />
central de processamento. São autênticos computadores-num-só-chip. Com eles, a<br />
tarefa de projetar computadores ficou muito simplificada, ao alcance de qualquer<br />
engenheiro minimamente talentoso, sem muito dinheiro no bolso: bastava agregar, a<br />
uma placa de circuito impresso, o microprocessador e algumas dezenas de chips de<br />
memória e componentes complementares. Tinha-se um microcomputador do tamanho de uma<br />
máquina de escrever, perfeitamente adequado, em capacidade, desempenho e preço, às<br />
necessidades de qualquer indivíduo de classe média. Assim como o minicomputador<br />
tirou a informática dos grandes e herméticos CPDs, o microcomputador trouxe a<br />
informática para dentro das pequenas empresas e dos escritórios dos profissionais<br />
liberais, para as mesas de trabalho das secretárias e até para dentro de casa.<br />
Agora sim, a sociedade se informatizaria.<br />
Não ficou nisso. O projeto do coração dos computadores saiu dos fabricantes de<br />
sistemas para as empresas projetistas e fabricantes de microprocessadores. Em pouco<br />
tempo, entrar nesse mercado passou a exigir um tamanho investimento e elevada<br />
escala de produção que, quem chegou primeiro, dele se apossou: foram as empresas<br />
norte-americanas Zilog, Motorola e Intel. Existem concorrentes nos Estados Unidos e<br />
Japão. Mas não têm as dimensões e competência <strong>tecnológica</strong> dessas três.