vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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"Desde 1978 as empresas de software e serviços pleiteiam que o governo<br />
estabeleça mecanismos de fomento direto ao setor... Contudo, restrições de ordem<br />
geral, devido à situação econômica do país, têm neutralizado parte desses<br />
esforços", admitia em outubro de 1981, durante o XIV Congresso Nacional de<br />
Informática, o Subsecretário de Serviços, Henrique Costábile. Nem sempre eram as<br />
alegadas metas de contenção do déficit público - nunca atingidas, aliás! - que<br />
torpedeavam os planos da SEI. Disputas burocráticas pelos espaços de competência<br />
formal, diferentes visões conceituais entre os órgãos de governo, indiferença de<br />
uns, interesses contrariados de outros, tudo contribuía para empurrar os projetos<br />
sempre mais para a frente. Por exemplo, a necessária portaria conjunta com o<br />
Instituto Nacional de Propriedade Industrial para criar o registro de programas só<br />
saiu no final de 1982, quando o mercado já estava inteiramente invadido por<br />
aplicativos estrangeiros, livremente importados - ou, pura e simplesmente,<br />
pirateados.<br />
A política de microeletrônica, tão batalhada por Dytz, enfrentaria desafios<br />
ainda maiores. Teoricamente, as dificuldades seriam <strong>tecnológica</strong>s. Na prática<br />
brasileira, foram financeiras. Embora atrasado, o país possuía alguma capacitação.<br />
Em 1968, a Universidade de São Paulo contratou o professor norte-americano Richard<br />
Louis Anderson para orientar trabalhos de doutoramento em microeletrônica. Um de<br />
seus doutorandos foi Antonio Zuffo, iniciando-se com ele uma linhagem de<br />
pesquisadores que inclui nomes como Carlos Ignácio Mammana (irmão de Cláudio),<br />
Ademar Ferreira, Edgar Charry Rodrigues e outros. Em meados de 1968, Anderson,<br />
Zuffo e seus colegas conseguem recursos do Funtec, da Fapesp e do CNPq para montar<br />
o Laboratório de Microeletrônica da USP - LME -, inaugurado em abril de 1970.<br />
Contando com instalações condizentes, Zuffo logrou projetar e difundir o primeiro<br />
circuito integrado no Brasil, em abril de 1971: uma elementar pecinha com três<br />
portas de entrada, duas de saída, agregando três microscópicos transistores.<br />
No LME continuaram sendo feitas experiências e se formando doutores. Apesar<br />
dos recursos relativamente escassos, diferenças entre os pesquisadores fomentaram<br />
novos núcleos: Mammana criou o Laboratório de Eletrônica e Dispositivos, em 1975,<br />
em Campinas; o próprio Zuffo fundou, na USP, o Laboratório de Sistemas Integrados,<br />
também em 75; Charry ficou à frente do LME. Em 1977, Charry, juntamente com Jacobus<br />
Swart e Joel Pereira de Souza, projetou e realizou o primeiro circuito de memória<br />
congelada (RAM) brasileiro: contendo 3 mil transistores, armazenava 2 mil bytes de<br />
informações.<br />
É claro que esses feitos acadêmicos estavam muito aquém do estado da arte<br />
internacional, onde os chips de memória já armazenavam 64 mil bytes de informação e<br />
os microprocessadores de 8 bits revolucionavam a própria idéia de computador. Mas<br />
refletiam a realidade <strong>tecnológica</strong> do país, inclusive apontando o potencial<br />
existente.<br />
Quando a Capre dava os primeiros passos de sua política, o mercado brasileiro<br />
de semicondutores — circuitos integrados, transistores, capacitores, díodos etc. -<br />
chegava a 115 milhões de dólares, sendo suprido por 12 subsidiárias de empresas<br />
estrangeiras e por uma empresa nacional, a Transit. Exceto esta, todas apenas<br />
montavam os componentes no Brasil, vendendo-os para fabricantes de aparelhos de<br />
rádio e televisão, equipamentos de telecomunicações ou exportando-os. A Transit,<br />
nascida em 1972 da fértil cabeça do tecnocrata mineiro Hindemburgo Pereira Diniz,<br />
propôs-se a mudar esse quadro: industrializaria os projetos do LME, levando o país<br />
à autonomia <strong>tecnológica</strong> em circuitos digitais.<br />
Só que deu tudo errado. Hindemburgo, ex-presidente do Banco de Desenvolvimento<br />
de Minas Gerais, quis que a Transit ficasse em Minas, embora distante de seus<br />
supridores de tecnologia e de seu principal mercado. Pior: localizou-a na longínqua