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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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americana. Fora esta, todas as demais propostas tinham sido apresentadas por<br />

empresas multinacionais, entre as quais o já polêmico projeto do /32.<br />

Nenhum projeto foi alvo de análise tão meticulosa quanto o da IBM. A área<br />

técnica da Capre não poupou esforços para reunir os elementos que permitissem ao<br />

governo tomar uma decisão clara e definitiva. Todas as informações foram<br />

exaustivamente checadas e analisadas. Claro que, para os representantes da IBM,<br />

tudo não passava de meras formalidades ou "entraves" burocráticos. E, não raro,<br />

tinham dificuldades para dar prontas respostas as solicitações pois precisavam<br />

recorrer a Armonk. Para os técnicos da Capre, porém, essas dificuldades e demoras<br />

acabaram por constituir-se em um método incomum de avaliar o grau de autonomia<br />

decisória da IBM brasileira. Concluíram ser quase nulo.<br />

No início de abril, a Secretaria-Executiva da Capre emitiu um parecer técnico<br />

arrasadoramente contrário à fabricação do /32 no Brasil. O projeto não atendeu a<br />

nenhum dos critérios básicos estabelecidos pelo CDE. Em primeiro lugar, a IBM não<br />

apresentou qualquer plano de capacitação <strong>tecnológica</strong> local, tanto para a concepção<br />

e projeto de novos produtos como para o desenvolvimento de novas técnicas de<br />

fabricação, gerência ou comercialização: "As atividades industriais e comerciais da<br />

empresa são exercidas no Brasil sem que haja transferência efetiva de tecnologia do<br />

produto nos seus aspectos de concepção, projetos e fabricação" 1 .<br />

Para demonstrar, a Capre acusou a insensibilidade da IBM quanto à política do<br />

governo brasileiro: a empresa, havia pouco, desativara sua linha de fabricação de<br />

fitas magnéticas em Sumaré, prova inequívoca de que, "quando a IBM resolve<br />

interromper a fabricação de um equipamento, o país volta à situação anterior", pois<br />

a tecnologia do produto e do processo não foi absorvida em nenhum outro lugar. A<br />

decisão, castigava a Capre, foi tomada sem levar em conta o problema do déficit da<br />

balança comercial do país. "A IBM interrompeu a fabricação deste equipamento por<br />

razões de ordem internacional que ignoram o momento crítico brasileiro: como<br />

conseqüência, retrocedemos necessariamente à situação de importadores de unidades<br />

de fita magnética, apesar de ter havido montagem local por vários anos...".<br />

Um dos grandes argumentos da IBM em apoio às suas afirmações de estar<br />

contribuindo para o desenvolvimento nacional era o de transferir tecnologia para<br />

cerca de 400 fornecedores locais, submetidos a intenso treinamento. A Capre, de<br />

imediato, pediu a relação desses 400 fornecedores. A IBM só conseguiu listar 96,<br />

dos quais só com nove mantinha programa de treinamento. Dos 96, quase todos, na<br />

verdade, forneciam materiais de escritório, de transporte, de limpeza etc.<br />

A Capre constatou que os índices de nacionalização permaneceriam constantes<br />

durante os cinco anos previstos para a fabricação do /32 no país, demonstrando<br />

inexistir um programa de nacionalização gradativo. Sublinhou o óbvio: o capital<br />

100% estrangeiro da filial brasileira da IBM — o que, também, contrariava as<br />

recomendações do CDE. E provou que o centro de decisão da empresa estava<br />

inteiramente fora do país, conforme demonstraram os caminhos percorridos pela<br />

maioria dos pedidos de informação feitos aos seus escritórios na Avenida Presidente<br />

Vargas, sobretudo os diretamente referentes a dados sobre o projeto e seus custos.<br />

Por fim, um argumento capaz de sensibilizar mesmo os ministros mais flexíveis<br />

diante do capital estrangeiro: "do ponto de vista do balanço comercial... é<br />

deficitário em US$ 528 mil nos próximos cinco anos. A empresa como um todo<br />

apresentou um déficit de US$ 99,9 milhões no período de 1972 a 1976 e prevê um<br />

1 Os trechos do relatório técnico da Capre aqui reproduzidos foram retirados do artigo<br />

Indústria de computadores: evolução das decisões governamentais de Sílvia Helena, publicado<br />

na Revista de Administração Pública, FGV, out-dez 1980

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