vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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Os japoneses mostraram grande interesse e simpatia pela política que se<br />
construía no Brasil. Comparavam-na com o seu próprio modelo. Igual ao Brasil, o<br />
Japão conseguira restringir a atuação de empresas estrangeiras em seu mercado com o<br />
argumento do desequilíbrio no balanço de pagamentos. Igual ao Brasil, também<br />
puderam observar os argutos brasileiros entre si, as autoridades japonesas nunca<br />
diziam "não" a um pleito que, por algum motivo, estivessem decididas a negar.<br />
Empurravam com a barriga...<br />
Como bons vendedores, os japoneses não se furtaram em dizer coisas agradáveis<br />
aos seus hóspedes. No Brasil vive uma uma grande população necessitada de um grande<br />
volume de informações, formando um mercado considerável, gerado pelo<br />
desenvolvimento urbano. O brasileiro é dotado de muita vitalidade, gosta de<br />
discutir e pesquisar. Claro, tudo isso justifica o interesse da Fujitsu. Fizeram,<br />
como bons amigos, algumas observações pertinentes. Advertiram para a extrema<br />
debilidade da indústria brasileira de componentes, sublinhando ser fundamental,<br />
para a criação de uma indústria de informática, começar pelos semicondutores. E<br />
apontaram os equívocos de nosso sistema educacional que forma engenheiros em<br />
abundância, enquanto falta pessoal técnico especializado.<br />
Durante todo o tempo, os funcionários governamentais nipônicos e os executivos<br />
da Fujitsu buscaram mostrar que seria muito mais fácil negociar transferência de<br />
tecnologia com eles do que com empresas americanas ou européias. O principal seria<br />
colocar do outro lado do mundo uma empresa capaz de competir com a IBM. A partir<br />
daí, porém, na hora de pôr os pingos nos ii, os entendimentos já não se mostraram<br />
tão simples. Embora bastante decididos a levar adiante um acordo e a criar uma<br />
empresa no Brasil para concorrer com a IBM "we must fight IBM", gostava de repetir<br />
o diretor da Fujitsu, Shiro Yoshikawa — os japoneses não modificaram a proverbial<br />
lentidão na forma de conduzir suas negociações. Discutiam os menores detalhes<br />
exaustivamente e nada se decidia sem que houvesse um consenso absoluto entre eles.<br />
E quando as conversas passaram a girar em torno dos pagamentos, as partes viram-se<br />
em dificuldades para fechar o acordo. O ano de 1977 acabou e ainda haveria muito o<br />
que conversar 1978 adentro. Não se chegou a um entendimento sobre os mercados nos<br />
quais a Fujitsu brasileira poderia atuar e, principalmente, quanto às remessas de<br />
royalties pela tecnologia a ser transferida. Aqui, as exigências da Fujitsu<br />
esbarraram nas regras do INPI. Alegando o enorme investimento feito para ter<br />
hardware e software em condições de competir com a IBM, os japoneses esperavam que<br />
o Brasil fosse razoável. Yoshikawa chegou a procurar a embaixada brasileira em<br />
Tóquio para reafirmar o interesse e transmitir as preocupações do seu governo.<br />
Reconheciam o Brasil como uma base de operação essencial à sua estratégia de<br />
expansão, mas as condições requeridas pela legislação e pelos negociadores<br />
brasileiros iam muito além do que os japoneses negociaram ou concederam em outros<br />
mercados. Não deixou de, espertamente, manifestar sua preocupação com a<br />
possibilidade de o Brasil, face às exigências da Fujitsu, buscar outro parceiro.<br />
Dizia isso, ao mesmo tempo em que a Fujitsu, num aparente gesto de lealdade,<br />
comunicava ao presidente do Serpro ter recebido convites para investir na Colômbia<br />
e no Equador, aos quais respondeu dizendo-se impossibilitada de qualquer decisão<br />
devido aos entendimentos com o governo brasileiro. Oportunos convites, decerto...<br />
Mesmo sem resolver todas as divergências, no final de outubro, Moacyr<br />
Fioravante comunicou oficialmente à Capre a intenção de o Serpro e a Digibrás<br />
submeterem ao Conselho Plenário, o projeto de constituição de uma empresa para a<br />
fabricação dos computadores Série M, com tecnologia Fujitsu. A empresa, sob<br />
controle brasileiro, teria um capital de 50 milhões de dólares. Poderia remeter, a<br />
título de royalties, 3% do faturamento líquido com as vendas de produtos fabricados<br />
com a tecnologia licenciada: M-130, M-140 e M-160. Os sistemas de grande porte a<br />
serem vendidos pela nova empresa - que assim poderia oferecer uma linha completa de<br />
computadores - teriam marca brasileira. O total dos pagamentos, em cruzeiros, não