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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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Parecia ser sua única concessão. "Eu não admito uma carta daquelas no arquivo<br />

de um ministro brasileiro!", trovejou pouco depois. E mostrando ter-se preparado<br />

bem para o combate, bombardeou os argumentos de Amorim com uma bateria de artigos e<br />

recortes de jornais, em várias línguas, que derrubavam as suas linhas de defesa, ao<br />

mostrar uma empresa envolvida em conflitos com outros governos, em todo o mundo.<br />

Um destes estava em particular evidência: para não ter que curvar-se a uma lei<br />

da Índia, a IBM retirara-se do país, transferindo seus ativos e a responsabilidade<br />

pela manutenção de seus equipamentos a uma empresa estatal. A Índia que, como o<br />

Brasil, buscava um caminho para capacitar-se na indústria eletrônica, decidiu<br />

nacionalizar 51% do capital de todas as empresas estrangeiras do setor que<br />

produzissem para o seu mercado interno. Sabendo-se como a IBM é ciosa de seu<br />

absoluto poder sobre suas filiais fora dos Estados Unidos, não houve como chegar a<br />

um acordo com o governo indiano, o que levou-a a encerrar suas atividades no país.<br />

Amorim entendeu que o Brasil poderia seguir o exemplo...<br />

Só lhe restou apelar para os sentimentos pessoais. "General, o senhor leu só o<br />

que há de ruim sobre a IBM. Há muita coisa distorcida nesses artigos. Se ela fosse<br />

tão ruim como aparenta, não teria chegado ao que é hoje. E o senhor me conhece para<br />

saber que se isso tudo fosse verdade, eu não estaria trabalhando na IBM pois sou<br />

sério o suficiente para não trabalhar em uma empresa falsa!" E, para provar o que<br />

dizia, solicitou a Potyguara que destacasse seus melhores assessores para passar<br />

dois dias na empresa, sendo um deles na fábrica de Sumaré. "Eu quero escancarar as<br />

portas da IBM para os seus especialistas. Eles poderão perguntar o que quiserem."<br />

Curvando-se às pressões para reunir, com os membros da Capre, os ministros<br />

representados em seu Conselho Plenário, Velloso decidiu promover o encontro na sua<br />

residência oficial, um aprazível bangalô de madeira, no meio de um parque<br />

arborizado, que outrora servira de moradia aos engenheiros que dirigiram a<br />

construção de Brasília. Ali, na Fazendinha, como era conhecido o local, Velloso<br />

sentia-se melhor do que nas suntuosas casas de duvidoso gosto, onde moravam os<br />

demais ministros. Recebeu-os no dia 31 de maio: Mário Henrique Simonsen, banqueiro,<br />

monetarista, titular da Fazenda; o general Moacyr Potyguara, militar de tendência<br />

nacionalista, chefe do EMFA; o comandante Euclides Quandt de Oliveira,<br />

nacionalista, ministro das Comunicações; o banqueiro baiano Ângelo Calmon de Sá,<br />

que substituíra o industrial nacionalista paulista Severo Gomes à frente da pasta<br />

da Indústria e Comércio; e o senador paranaense pela governista Arena, Ney Braga,<br />

também coronel da reserva do Exército, ministro da Educação.<br />

Diante deles, os seus representantes no Conselho Plenário: Fioravante e Mário<br />

Ripper (Fazenda), major Jorge Fernandes (EMFA), João Metello de Matos<br />

(Comunicações) e Octávio Gennari Neto (MEC). Também estavam presentes Élcio Costa<br />

Couto, Ricardo Saur e Ivan Marques.<br />

A reunião começou ao meio-dia. Espalhados pelas poltronas da sala de estar, os<br />

ministros podiam gozar do clima informal pretendido por Velloso. Para os<br />

representantes do Conselho Plenário, no entanto, o agradável ambiente da Fazendinha<br />

em nada contribuía para diminuir a ansiedade. Nos minutos seguintes, o futuro da<br />

política de informática estaria sendo decidido. Se os seus argumentos não fossem<br />

suficientes para convencer os ministros a vetar a fabricação do /32, estaria jogado<br />

por terra todo o esforço feito pela Capre até então.<br />

Depois de fazer um pequeno histórico da indústria digital no país, e<br />

esclarecer quanto ao objetivo da reunião de proporcionar o mesmo nível de

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