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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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Se as críticas à área econômica conseguiam passar, o mesmo não acontecia<br />

quando entravam em pauta assuntos estratégicos. Como, por exemplo, um artigo no<br />

qual o respeitado físico José Goldemberg analisava a política nuclear brasileira. O<br />

artigo provocou imediata reação do chefe da Casa Militar, general Hugo Abreu, que<br />

em carta ao ministro Mário Henrique Simonsen, cobrou uma advertência ao presidente<br />

do Serpro. Simonsen, que tinha problemas infinitamente mais graves com o que se<br />

preocupar, limitou-se a enviar a carta a Moacyr. Ele que tirasse suas conclusões.<br />

Os problemas com os quais Simonsen se preocupava diziam respeito à situação<br />

cada vez mais difícil do balanço de pagamentos brasileiro. A crise do petróleo que<br />

veio bater com toda a sua força no início do governo Geisel, revelando, entre<br />

outras coisas, a fragilidade do "milagre econômico" dos tempos de Médici, tornava<br />

cada vez mais premente a adoção de rígidas medidas de controle das importações. Os<br />

órgãos do governo, sobretudo a Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil —<br />

Cacex —, acumulavam informações preocupantes sobre o peso das multinacionais na<br />

formação do déficit. Estas informações chegavam normalmente até Ripper. E ele não<br />

tinha dúvidas em repassá-las à Dados & Idéias que iniciou a publicação de uma série<br />

de reportagens mostrando como os computadores e componentes eletrônicos ajudavam a<br />

cavar o buraco da balança comercial.<br />

Em 1974, as 35 empresas estrangeiras do setor eletro-eletrônico acumularam um<br />

déficit comercial de 619,3 milhões de dólares. Importaram 859,9 milhões de dólares<br />

e exportaram, apenas, 240,6 milhões. Encabeçava a lista a empresa sueca de<br />

telecomunicações Ericsson, com um déficit de 151,1 milhões de dólares. A presença<br />

das multinacionais da informática até que era modesta: o déficit da IBM era de 29,4<br />

milhões de dólares e o da Burroughs, de 22,1 milhões.<br />

A comunidade também ficou sabendo, com dados numéricos, o que já percebia pela<br />

sua própria vivência: 98,6% do mercado brasileiro de informática - então avaliado<br />

em 50,7 milhões de dólares – era atendido pelas importações. Números que podiam ser<br />

comparados aos da França, onde as importações respondiam por 42% do mercado ou aos<br />

do Japão, que só precisava importar 26% de suas necessidades em informática.<br />

Projeções do Departamento de Comércio dos Estados Unidos indicavam que o mercado<br />

brasileiro deveria crescer 271% entre 1972 e 1977, abaixo apenas dos espetaculares<br />

498% estimados para o Japão 3<br />

Juntando esses e outros dados, chegou-se a duas conclusões lógicas: o Brasil<br />

não poderia continuar importando tanto e as multinacionais, logo, ampliariam aqui<br />

as suas atividades de fabricação. Neste caso, sem aproveitar a capacidade<br />

<strong>tecnológica</strong> que começava a aparecer no país. "Se as iniciativas nacionais não se<br />

estabelecerem rapidamente, será extremamente mais difícil conseguir viabilizá-las<br />

após a implantação, em nosso país, de companhias estrangeiras - e uma oportunidade<br />

única viria talvez a se perder" - era o recado da revista do Serpro.<br />

No final de 1975, o governo não teve mais como adiar a adoção de duras medidas<br />

para controlar as importações. O CDE determinou que todo importador fizesse, no<br />

Banco Central, um depósito prévio, no valor da mercadoria importada. E ainda passou<br />

a exigir financiamento externo, por cinco anos, para aquisição de produtos no<br />

exterior. Importar, agora, só mesmo o essencial e com dólares emprestados lá fora.<br />

Em três segmentos específicos, o CDE resolveu, além das medidas gerais,<br />

determinar o controle, caso a caso, das importações. Nos aviões, que seriam<br />

3 Dados & Idéias, v. 1, n. 3, dez-jan 1975/76.

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