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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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equivocadas, tomadas por neófitos no setor, desconhecedores de estratégias de<br />

condução de políticas de informática.<br />

Foi Henrique Costábile, respeitado na Capre por sua competência técnica, quem<br />

tomou a iniciativa de buscar uma aproximação. No início de janeiro, procurou Arthur<br />

Pereira Nunes, junto a outros técnicos, para reafirmar o compromisso de manutenção<br />

da política e insistir em que aceitassem trabalhar na SEI. O gesto de Costábile foi<br />

decisivo. Em uma resolução política e coletiva, anuíram com a mudança para<br />

Brasília.<br />

O primeiro passo foi organizar a mudança. Arthur tornou-se responsável pelo<br />

acervo, preocupadíssimo em não deixar que se perdesse qualquer documento. Havia o<br />

risco de ser acusado mais tarde - ele ou algum outro da equipe - de sabotar o<br />

trabalho da SEI.<br />

A segunda providência foi negociar a distribuição dos técnicos. Não lhes<br />

interessavam os cargos de chefia. Preferiram, especialmente os de posições<br />

políticas firmes, ocupar funções operacionais importantes dentro da SEI: as mesas<br />

de onde partiriam as ações determinadas pelos escalões superiores ou nas quais<br />

seriam redigidos os relatórios técnicos que embasariam as decisões políticas. Essa<br />

etapa também foi resolvida de forma satisfatória por Arthur que detinha, perante a<br />

SEI, as informações sobre os perfis e habilidades de cada técnico da Capre.<br />

Problemas maiores apareceram quando se discutiu a mudança do quadro<br />

administrativo. Para o chefe de gabinete de Gennari, capitão-de-fragata Humberto da<br />

Costa Monteiro, não seria tão necessário aproveitar o pessoal do Rio, com o que<br />

absolutamente não concordou Arthur, argumentando se tratar de funcionários<br />

experientes na organização dos arquivos dos processos de importação e de<br />

fabricação. O conflito entre Humberto, um militar pouco sutil, e Arthur, já cansado<br />

e desgastado após um ano de angustiante tensão, ganhou rapidamente dimensões<br />

perigosas. Até que Arthur perdeu as estribeiras: "Por que eles não podem ir? Em<br />

Brasília não tem mar, no entanto tem oficial de Marinha!" Foi um mal-estar geral,<br />

mas o comando da SEI achou melhor absorver a impertinência e aconselhar o oficial<br />

de Marinha para que agisse com mais diplomacia. E os funcionários foram.<br />

Transferido para Brasília, o grupo oriundo da Capre era uma espécie de gado<br />

marcado. Em torno deles respirava-se um permanente ar de desconfiança. Não faltavam<br />

provocações. Um dia, desavisadamente, Arthur foi trabalhar ostentando vistosa<br />

gravata vermelha. Imediatamente, alguém observou, irônico: "Gravatinha vermelha,<br />

hem?" - em óbvia alusão às conotações políticas da cor.<br />

Doutra feita, um episódio cômico quase teve conseqüências trágicas. É que na<br />

Capre gozava-se de um clima descontraído e brincalhão, muito próprio do jeito<br />

carioca de levar a vida. O pessoal gostava de freqüentar, junto, os botequins e as<br />

rodas de samba - os Pagodes da Capre. Vários promoviam, com os colegas, diferentes<br />

tipos de brincadeiras. Um dos técnicos manifestava especial predileção por imagens<br />

pornográficas. Misturava aos slides utilizados em programas de treinamento, slides<br />

mostrando cabeludas cenas de sexo explícito e, depois, divertia-se com o susto e<br />

trabalho que dava às secretárias, obrigadas a se manterem atentas para que tais<br />

imagens não acabassem na tela de algum cliente. Pois aconteceu, no lufa-lufa da<br />

mudança, que uma das caixinhas de slides tivesse escapado à briosa fiscalização das<br />

secretárias. E, certo dia, durante sisuda exibição do material para membros da SEI,<br />

repentinamente, pornográfica cena projetou-se na tela. "Sabotagem!", berraram. "É<br />

sabotagem!"<br />

Foi assim, desconfiando de tudo e de todos, que começou a funcionar a SEI.

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