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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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o mínimo de pessoas necessárias ao seu funcionamento. Compunham o quadro permanente<br />

os dois, a secretária Astrid e um contador.<br />

Se esperava conviver com um militar metódico, austero e com uma mentalidade<br />

bastante diferente da sua, Saur se enganou. Ele encontrou pela frente um homem<br />

jovem, extremamente expansivo, afável, esportista, brincalhão, com uma risada<br />

tonitruante, embora capaz de reações coléricas se muito, muito irritado.<br />

Felizmente, isto era raro. Grande argumentador, inteligência aguçada principalmente<br />

para as ciências exatas, inesgotável força de vontade, quando decidia conseguir<br />

alguma coisa, ninguém o demovia. Seu permanente entusiasmo o levava a perder o<br />

controle das atitudes: falava com um almirante como se estivesse falando com um<br />

praça e vice-versa. Uma vez foi surpreendido, falante como sempre, sentado na<br />

cadeira de um almirante que, de pé, ficou ouvindo. Consciente de ser totalmente<br />

desligado para as sutilezas da hierarquia, acabou desenvolvendo mecanismos de<br />

defesa que evitassem fazê-lo escorregar em alguma atitude considerada inconveniente<br />

e ser enquadrado por isso. O que não deixava de gerar situações bizarras. Era<br />

automático nas continências, pedia licença nas menores coisas como, por exemplo,<br />

para puxar a sua cigarrilha mesmo diante dos mais íntimos colegas de farda.<br />

Nem sempre se livrava de encrencas, entretanto. Como em um episódio com o<br />

almirante Uzeda, homem tranqüilo, apreciador de uma boa conversa, quer fosse sobre<br />

questões técnicas ou sobre amenidades. Um freqüente interlocutar de Guaranys,<br />

portanto. Mas sua quase infinita paciência estourou quando o subordinado<br />

monopolizou a conversa que mantinha em seu gabinete com José Pelúcio. Em sua<br />

angústia para tentar convencer os dois sobre suas idéias a respeito de computadores<br />

e indústria, Guaranys desandou a falar, sem dar vez a mais ninguém. Uzeda deu um<br />

murro na mesa: "Guaranys, eu convidei o doutor Pelúcio para conversar comigo e você<br />

não deixa ninguém falar. Retire-se, você está preso!" Dois minutos depois, com<br />

Guaranys mais calmo e batendo continência, o almirante relaxou a prisão.<br />

Conversar com os professores da PUC dava-lhe um imenso prazer. Aparecia um<br />

tempo livre e lá se ia para o campus da Gávea. Aprendeu muito, até porque sentia-se<br />

à vontade para fazer as mais loucas perguntas. Embora formado em eletrônica, com<br />

doutorado na Universidade de Siracusa, Estados Unidos, parecia, no íntimo da sua<br />

angústia, não conformar-se que as coisas fossem como as coisas são. Um dia,<br />

perguntou ao vice-diretor do RioDataCentro, Luís Martins, se poderia substituir o<br />

IBM 7044 da PUC por um minicomputador nacional. Com muito jeito, Martins explicou<br />

ao antigo colega de ginásio do Colégio São Bento que isso não seria muito fácil,<br />

que o 7044 era um computador de grande porte...<br />

O tempo passado na diretoria de Eletrônica da Marinha permitiu que ele<br />

acumulasse grande experiência no desenvolvimento de equipamentos de uso naval e bom<br />

conhecimento do parque industrial brasileiro. Vendo nas necessidades da Marinha<br />

oportunidades para desenvolver produtos no Brasil, não perdia tempo para levar suas<br />

idéias aos seus superiores ou para industriais amigos. "Você não acha que o Brasil<br />

deveria fazer um esforço para desenvolver...?"<br />

Em um desses arroubos, Guaranys entrou de surpresa, às 7 horas da noite, no<br />

gabinete do empresário Antônio Didier Vianna, na Via Dutra, dirigente de um grupo<br />

de fábricas fornecedoras de equipamentos para a própria Marinha, para a Petrobrás e<br />

outras indústrias pesadas. De chofre, ofereceu-lhe três milhões de dólares para<br />

fabricar um computador através da Microlab, uma de suas empresas. "Só três? Vão ser<br />

precisos, no mínimo, trinta milhões para comercializar, para adaptar o software ao<br />

mercado brasileiro e outras coisas mais", tratou de responder, também de chofre,<br />

Didier, um ex-oficial de Marinha que, como Guaranys, não era de meias-palavras.

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