vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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Data General não se dispunham a licenciar tecnologia ou a participar, sem controle,<br />
de um empreendimento - eles não podiam imaginar quão complicada seria a situação<br />
que enfrentariam.<br />
Os primeiros sinais de que as coisas não estavam bem apareceram assim que as<br />
encomendas iniciais foram atendidas. As máquinas fornecidas pela Logabax começaram<br />
a apresentar sucessivos problemas que nem os técnicos chamados às pressas da França<br />
conseguiram resolver. Na medida em que os defeitos prosseguiam e os engenheiros<br />
brasileiros adquiriam experiência e mais intimidade com o sistema, começaram a<br />
descobrir o que, na gíria técnica, denomina-se bug (mosquito): problemas de<br />
funcionamento próprios de produtos em fase final de desenvolvimento ou ainda<br />
insuficientemente testados. Ti<strong>vera</strong>m certeza disso quando, para pôr em prática o<br />
processo de transferência de tecnologia, exigiram da Logabax toda a documentação<br />
sobre o sistema operacional. A empresa francesa não tinha o que mostrar. Então, a<br />
SID concluiu que licenciara e vinha vendendo um produto que, a rigor, ainda não<br />
existia.<br />
A Logabax não agira de má-fé. Ao assinar o contrato com a SID, assumiu um<br />
compromisso que esperava cumprir. Não previu a crise financeira que viria a<br />
enfrentar e lhe provocou a perda de seus melhores técnicos, atrasos nos projetos,<br />
retração no mercado. Em sérias dificuldades, deixou de dar atenção a um negócio<br />
pequeno com uma firmeta localizada no distante Brasil. A SID tentou exigir o<br />
cumprimento formal do contrato. Mas, como os técnicos brasileiros viriam a<br />
aprender, transferência de tecnologia não é um processo automático. Para se<br />
concretizar, o lado que sabe mais precisa se dispor a conduzi-lo. Não era o caso da<br />
Logabax. Os responsáveis pelas suas áreas industrial e de desenvolvimento<br />
consideravam o contrato firmado pela Comercial com um fabricante brasileiro como um<br />
grande contratempo, forçando-os a fornecer documentação, treinar gente, mandar<br />
técnicos para o Brasil e tomar outras providências absolutamente não prioritárias<br />
naquele difícil momento.<br />
Formalmente, a empresa cumpria com suas obrigações: instalava em sala<br />
apropriada os técnicos brasileiros que lá chegavam para receber treinamento,<br />
fornecia-lhes diversos manuais e permitia que visitassem a fábrica. Nada mais.<br />
Sequer se preocupou em aproximá-los dos poucos engenheiros franceses que conheciam<br />
a fundo o minicomputador. Isso só não atendia às necessidades de Antônio Carlos<br />
Cardoso que, em São Paulo, rodeado por manuais e programas incompletos, sentia-se a<br />
ponto de enlouquecer. A área comercial da SID, pressionada pelos clientes que<br />
ameaçavam devolver suas máquinas, cobrava lhe resultados. Ele, diante de um<br />
obstáculo aparentemente instransponível: desconhecia por completo o coração do<br />
sistema operacional, seu código-fonte, sem o que fica impossível corrigir erros,<br />
dar suporte aos clientes, gerar programas auxiliares, compiladores e, mesmo, alguns<br />
aplicativos. Por mais que pedisse, a Logabax não lhe enviava uma cópia do fonte.<br />
Pela razão simples de que também o fonte submetia-se a testes e a modificações<br />
finais - o que Cardoso ainda não sabia. Sabia que a "fofoca", na qual enfiara o<br />
dinheiro de Matias Machline e a sua própria reputação profissional, estava por um<br />
fio. Resolveu tentar uma cartada decisiva: enviar à França o seu próprio gerente de<br />
desenvolvimento de software, o português Jacinto da Encarnação Cavaco Mendes, com a<br />
incumbência de trazer, não importavam os meios, o código-fonte do sistema<br />
operacional.<br />
Cavaco Mendes cumpriu à risca as instruções. Depois de receber mais um "não"<br />
dos franceses, começou a pensar em uma maneira menos ortodoxa de pôr as mãos no<br />
ambicionado programa. Observando a rotina da fábrica da Logabax, encontrou a<br />
solução. Telefonou para Cardoso explicando seu plano e pedindo autorização para<br />
executá-lo: como à equipe brasileira permitia-se trabalhar na fábrica depois do<br />
expediente, não seria difícil tirar uma cópia do sistema e levá-la sem licença para