vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
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concentradores de teclados só fazia crescer. Supridas as necessidades do Serpro, o<br />
antigo GPE, agora transformado em Divisão de Fabricação - DFa -, forneceu<br />
equipamentos para outros órgãos do governo e empresas estatais. O IBGE, tabulando<br />
com o Censo Agropecuário, era um dos principais clientes. E, como trabalho atrai<br />
trabalho, a diretoria técnica se viu às voltas com diversos projetos novos, tais<br />
como a mudança da estrutura de atendimento do Serpro e a criação de bancos de<br />
dados. Quinze horas diárias era a média de trabalho de Ripper.<br />
No segundo semestre de 75, Ripper resolveu pôr em prática um projeto que<br />
amadurecera nos últimos meses. A criação de uma revista que levasse ao conhecimento<br />
de toda a comunidade os fatos, os estudos, as propostas e realizações daquele<br />
fértil momento: as estatísticas sobre importações de computadores, os modelos de<br />
políticas de informática adotados por outros países como o Canadá, a Suécia e a<br />
Índia, os projetos universitários, a política nuclear brasileira, os avanços da<br />
microeletrônica, o fluxo de dados transfronteiras, os primeiros passos da Embraer,<br />
as questões relativas à privacidade, a transferência de tecnologia... Com o<br />
sugestivo nome de Dados & Idéias e apresentação gráfica de primeira qualidade, a<br />
revista foi lançada em agosto de 1975, com periodicidade bimestral. O próprio<br />
Ripper fez o projeto, auxiliado por outro ex-iteano, José Presciliano Martinez, um<br />
engenheiro que aderiu ao jornalismo, onde sua formação deu-lhe a rara condição de<br />
repórter capaz de escrever sobre questões técnicas com conhecimento de causa.<br />
Trabalhando, então, em revistas especializadas do Grupo Abril, Martinez ajudou<br />
Ripper mas não quis se engajar na Dados & Idéias. Indicou para editá-la a<br />
jornalista Sílvia Távora, permanecendo em seu Conselho Editorial, ao lado de<br />
Cláudio Mammana, Ivan Marques, Luís Martins, Ricardo Saur e Sérgio Telles Ribeiro.<br />
Todos, com exceção de Saur, velhos companheiros de ITA.<br />
Ousadia era o que não faltava à Dados & Idéias. Já em seu primeiro número,<br />
colocou em questão a criação de uma indústria nacional de computadores. Com o<br />
título de "Momento decisivo para o computador brasileiro", Ivan Marques abriu a<br />
revista com um artigo no qual organizou e consolidou o conjunto de idéias que vinha<br />
disseminando em suas palestras nas universidades.<br />
Rapidamente, a revista transformou-se em um eficiente canal de disseminação do<br />
pensamento daquela elite <strong>tecnológica</strong>. Os artigos de Ivan, Mammana, Dória Porto,<br />
Pegado, José Ripper e outros integrantes da comunidade técnica e acadêmica eram<br />
lidos, copiados, passados de mão em mão e debatidos. Começou a repercutir fora do<br />
meio até porque, arejada, abria espaço para a discussão de problemas outros da<br />
realidade brasileira, nos quais, aliás, a questão da informática, obviamente, se<br />
inseria. Acabou originando algumas situações delicadas que, para Ripper, deram<br />
motivos mais para gargalhadas do que para preocupações.<br />
Em uma de suas costumeiras visitas ao presidente do BNDE, junto com Moacyr,<br />
Ripper ouviu, divertido, Marcos Vianna relatar a seguinte história: "Há poucos<br />
dias, um de meus assessores fez questão de ler, para mim, trechos de um artigo<br />
pixando a política financeira do governo. Em seguida, me fez adivinhar a origem do<br />
artigo. Meu primeiro palpite foi o Relatório Reservado 2 . Errei. Somente depois de<br />
desfiar todos os nomes de revistas e jornais de oposição que conhecia, fiquei<br />
sabendo que o radical artigo saiu publicado - fez uma pausa, de suspense - em uma<br />
revista do Ministério da Fazenda!" Moacyr ficou vermelho até a raiz do cabelo.<br />
Ripper não se deu por achado e aproveitou a descontração de Marcos Vianna para<br />
encerrar por ali o assunto. "Mas você não gostou? O artigo não estava ótimo?",<br />
perguntou. "Estava", reconheceu Marcos. E mudaram de assunto.<br />
2 Referência a um boletim econômico e financeiro que circulava exclusivamente entre<br />
empresários e executivos, desde 1966, sempre fazendo pesadas e desabridas críticas às<br />
políticas econômicas de todos os governos militares