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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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Pouco tempo depois, a equipe foi surpreendida com uma mudança de rumo. Recebeu<br />

ordens para arrumar a papelada, equipamentos e programas e se transferir para a<br />

Esni, onde trabalharia a partir de então. É que Dytz percebera a conveniência de<br />

unir as competências em hardware da equipe da Esni e em software do grupo do<br />

Itamaraty, levando essa idéia ao general Medeiros e ao embaixador Cotrim. Assim, em<br />

março de 1977 — pouco depois de o CDE depositar nas mãos dos técnicos da Capre o<br />

controle das importações de computadores - o SNI e o Itamaraty oficializaram<br />

internamente uma missão em torno de um trabalho altamente sigiloso: o Projeto<br />

Prólogo. O começo...<br />

Coordenado por Dytz, o Projeto Prólogo ganhou um ano de prazo para apresentar<br />

o protótipo de uma máquina de cifrar brasileira. Juntaram-se, na tarefa, os grupos<br />

de Aragão e de Cuinhas, mas este último, com o orgulho em jogo, não deixaria de<br />

lado o desenvolvimento de um clone da cifradora Hagelmin, o que continuou fazendo<br />

paralelamente ao novo projeto. Sem chegar a qualquer resultado, embora.<br />

Decidido a não reinventar a roda, Dytz resolveu visitar institutos de pesquisa<br />

em países desenvolvidos para colher subsídios indispensáveis ao êxito de seu<br />

projeto. Levou consigo o tenente-coronel Joubert Brízida, que voltara a coordenar<br />

as Comunicações da Presidência e, como ele, formara-se em engenharia eletrônica no<br />

IME; e o capitão-de-fragata Antônio Carlos Loyola Reis, responsável pela<br />

implantação do sistema de computação do SNI. Visitaram a Alemanha, a França, a<br />

Suíça e os Estados Unidos. Uma viagem bem-sucedida graças, em grande parte, à<br />

intervenção de Cotrim que se valeu da rede de relações construída durante suas<br />

missões diplomáticas para conseguir que os órgãos governamentais e institutos de<br />

pesquisa desses países abrissem suas portas aos militares brasileiros.<br />

O Projeto Prólogo era a menina dos olhos do general Medeiros. Mesmo bastante<br />

ocupado, ele não conseguia ficar uma semana sequer sem ver como estavam as coisas.<br />

Perguntava muito, queria saber detalhes, incentivava a equipe. Como Cotrim, era<br />

grande a sua curiosidade <strong>tecnológica</strong>, despertada durante sua permanência em Israel<br />

como adido militar. Depois de presenciar a Guerra dos Seis Dias e se convencer que<br />

a superioridade <strong>tecnológica</strong> de Israel foi a principal responsável por sua vitória<br />

sobre os árabes, Medeiros procurou acompanhar tudo o que por lá se fazia.<br />

Interessou-se especialmente pela microeletrônica, onde Israel possuía razoável<br />

competência de projeto, embora adquirisse no mercado internacional a maioria dos<br />

componentes de que necessitava.<br />

Em setembro, os projetistas do Prólogo concluíram a construção de dois<br />

protótipos de máquinas de cifrar. Depois de testá-los e de comparar seus resultados<br />

com o desempenho da Hagelmin, o grupo convenceu-se definitivamente de sua própria<br />

competência em projeto. Dytz entusiasmou-se. Imaginou inúmeros outros projetos que<br />

poderiam desenvolver a partir dali. Para ele, o melhor que poderia acontecer,<br />

naquele momento, seria levantar o sigilo que envolvia toda aquela atividade e<br />

evoluí-la para um empreendimento industrial, integrado à sociedade. "Está na hora",<br />

pensou ele, "de se criar uma empresa estatal, nos moldes da Engesa, para<br />

desenvolver e fabricar equipamentos eletrônicos destinados a aplicações militares".<br />

Não hesitou em levar essa idéia a Medeiros. Para o diretor da Esni, entretanto, era<br />

prematuro tirar do grupo a rede de proteção do SNI. Ainda não chegara a hora de vir<br />

para o lado de fora.<br />

Disciplinado, não foi difícil a Dytz absorver o "não". Continuou conduzindo o<br />

trabalho até que... o mundo caiu sobre sua cabeça: descobriu-se atacado por um<br />

câncer. Era um câncer de pele de grau III, que o deixava na total incerteza quanto<br />

ao seu futuro. Abaixo desse grau, teria grandes chances de cura. Acima, significava

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