vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
vera dantas guerrilha tecnológica - MCI
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Gatt -, Paulo Nogueira Batista. Paulo Nogueira, negociador do controvertido Acordo<br />
Nuclear Brasil-Alemanha, não só era um profundo conhecedor dos problemas que<br />
envolvem as relações <strong>tecnológica</strong>s internacionais, como ativo defensor, no Gatt, dos<br />
interesses brasileiros e de outros países em desenvolvimento.<br />
Criado no imediato pós-Guerra para regular o comércio internacional de<br />
mercadorias e admitindo, nas suas regras, um certo protecionismo de seus paísesmembros,<br />
o Gatt tornara-se palco de um debate inteiramente novo: o comércio<br />
internacional de serviços. "Serviços" são um conceito vago e muito abrangente.<br />
Incluem engenharia, franchise, transportes, fluxo de dados etc., etc. e mais etc.<br />
Tudo o que se refere a comércio de tecnologia cai nessa abstrata definição de<br />
"serviços". No mundo moderno, aqui localizam-se os mais dinâmicos e mais rendosos<br />
negócios. Alguns autores norte-americanos chegam a afirmar que a moderna sociedade<br />
é uma "sociedade de serviços" e o presidente Ronald Reagan parece ter acreditado<br />
nisso, pois traçou para o seu país uma estratégia econômica toda apoiada na livre<br />
importação de matérias-primas e bens industriais, ainda que prejudicando fábricas e<br />
empregos industriais nos Estados Unidos. Em compensação, colocou todo o fabuloso<br />
poder de pressão e persuasão de Washington no mundo ocidental a serviço, sem<br />
trocadilhos, da total liberalização das trocas internacionais de serviços. Se a<br />
Coréia reserva o seu mercado segurador interno para as suas próprias seguradoras, a<br />
diplomacia e as agências comerciais norte-americanas a pressionam para que o libere<br />
à concorrência das seguradoras de todo o mundo. Se as telecomunicações japonesas<br />
são monopólio do estado, surgem as pressões para que as libere à iniciativa<br />
privada, inclusive estrangeira. Os países costumam dar às suas empresas de<br />
engenharia preferência na contratação de obras públicas e privadas? Absurdo!<br />
Os Estados Unidos e outros países altamente industrializados propuseram a<br />
inclusão dos serviços no âmbito do Gatt. O Brasil, a Índia e os demais países em<br />
desenvolvimento reagiram ferozmente. Cônscios de não disporem, ainda, da menor<br />
condição para competirem internacionalmente nesse abrangente setor, temem, não sem<br />
razão, ficarem completamente à mercê dos prestadores internacionais de serviços,<br />
especialmente os poderosos norte-americanos. Por enquanto, é bom para o Brasil que<br />
cada país continue regulando os seus mercados de serviços, conforme as suas<br />
próprias necessidades e ambições.<br />
Paulo Nogueira trouxe toda a sua experiência nesse debate internacional para<br />
as discussões do projeto de Venturini. Conhecendo bem as posições norte-americanas<br />
e os acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, orientou o grupo do<br />
comandante Mauro para elaborar um documento inatacável nos foros internacionais. A<br />
informática, sendo uma indústria, pode ser, em seu início, temporariamente<br />
protegida. Ainda mais que, até então, o Gatt nada decidira sobre o comércio mundial<br />
de alta tecnologia.<br />
Com Venturini de árbitro entre Mauro e Joubert, cujas divergências políticas<br />
misturavam-se com melindres hierárquicos, pois Joubert estava uma patente abaixo de<br />
Mauro; Noronha reescrevendo versões; as entidades do setor sem saber muito o que se<br />
passava mas tentando enviar sugestões através da SEI, o trabalho avançou<br />
lentamente. Só no final do processo é que Venturini cedeu às sugestões de Dytz para<br />
abrir as discussões às entidades empresariais e profissionais, reunindo-as, uma<br />
vez, em Brasília e outra, na sede da Fiesp, em São Paulo. Em junho, após<br />
praticamente seis meses de trabalho, o projeto do Executivo ainda não estava<br />
pronto. Então, tanto Joubert quanto Mauro foram designados para novas funções de<br />
carreira, com o oficial de Marinha deixando o CSN e Joubert, a SEI. Substituiu-o<br />
Dytz. Sem a disputa entre os dois, o projeto pôde andar, até porque, àquela altura,<br />
já tramitava na Câmara, a todo o vapor, o anteprojeto de Cristina Tavares.