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vera dantas guerrilha tecnológica - MCI

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Nos dois anos em que exerceu a Vice-Presidência Executiva da Edisa, Saur não<br />

apenas pôde vivenciar as experiências da indústria que ajudara a criar como<br />

estabeleceu um novo padrão de relacionamento — mais profissional - com os antigos<br />

membros da Comissão Cotrim. Afinal, agora, impunha-se ouvi-lo como alto executivo<br />

de uma importante e séria empresa do setor. Político, manteve-se sobranceiro nesses<br />

anos de ostracismo, conquistando pouco a pouco a confiança da SEI, graças aos seus<br />

conhecimentos e reconhecida habilidade. Aliás, a mineirice de Saur tornou-se motivo<br />

de anedotas. A mais conhecida conta que ele caiu no meio de um lago repleto de<br />

ferozes jacarés. Angustiado ante a aproximação dos animais, reagiu feliz quando um<br />

deles abriu uma horrenda bocarra: "Está rindo para mim" - pensou de imediato — "vou<br />

me compor com ele." O jacaré, dizia-se, era Dytz. De fato, com o passar do tempo, o<br />

coronel deixou de nutrir por Saur a manifesta antipatia do tempo do GTE/I.<br />

Uma das primeiras providências de Edson Fregni, após assumir a Abicomp, foi<br />

promover uma reunião com a direção da SEI, para discutir, em última instância, o<br />

próprio futuro da Política. Em pauta, a estratégia para o segmento de micros de 16<br />

bits no momento em que se iniciava sua expansão no país. Edson tinha bons motivos<br />

para acreditar que, como aconteceu com os 8 bits, muitos fabricantes optariam pelo<br />

fácil e rápido caminho da pirataria. Mas ainda era tempo de a SEI colocar um freio<br />

na situação para que as empresas que vinham investindo no desenvolvimento de<br />

tecnologia não acabassem prejudicadas. Foi uma reunião tensa, que assumiu tons<br />

emocionais quando Saur exigiu da SEI que utilizasse todos os instrumentos - formais<br />

e informais - para coibir a pirataria. Se necessário, ameaçasse a empresa faltosa<br />

com denúncia à Polícia Federal. Usasse o seu poder, em suma!<br />

Tudo o que resultou dessa reunião foi mais um Ato Normativo, de número 27,<br />

fixando novas regras para a aprovação de projetos de fabricação de<br />

microcomputadores, pelas quais os fabricantes deveriam comprovar o desenvolvimento<br />

do sistema operacional. Trocando em miúdos: se, para os micros de 8 bits, na falta<br />

de uma regra clara, muitas pequenas empresas não se preocuparam com o sistema<br />

operacional, deixando ao usuário a tarefa de adquirir as cópias - legais ou ilegais<br />

- do CP/M, agora os projetos só seriam aprovados se acompanhados por um DOS<br />

qualquer. Ilusão! Sem recursos humanos apropriados na quantidade e qualidade<br />

necessárias para analisar seriamente os projetos, a SEI continuou fingindo<br />

acreditar nas informações prestadas por muitas novas empresinhas, criadas para<br />

aproveitar tão boa oportunidade de negócio.<br />

Não era este o único problema enfrentado pela indústria e pela SEI, ali pelos<br />

idos de 1983/84. Os planos para a microeletrônica e o software esbarraram nos<br />

cofres fechados do ministro Delfim Netto e no ralo compromisso com a Política, dos<br />

então dirigentes da Finep, CNPq, BNDE e Serpro - agências que tanto ajudaram a<br />

Capre, financeira e institucionalmente. Enquanto isso, os investidores que "ficaram<br />

por dentro da fofoca" dos mínis manifestavam suas dúvidas entre desenvolver<br />

tecnologia para evoluir os sistemas ou voltar a comprá-la no exterior. A velocidade<br />

com que a tecnologia avança justifica a insegurança. A análise microempresarial de<br />

custo-benefício entre comprar e desenvolver também pesa muito na avaliação. Os<br />

técnicos precisavam saber falar a língua dos patrões para mantê-los motivados.<br />

Certa vez, satisfeito com os gordos lucros que obteve na SID, Matias Machline<br />

provocou Antônio Carlos Cardoso: "Eu também estaria lucrando se tivesse feito uma<br />

joint-venture com os japoneses. Por que tenho de investir em desenvolvimento?"<br />

- Porque, com os japoneses, o senhor dividiria os lucros. Desenvolvendo, o<br />

lucro é todo seu - respondeu, de bate-pronto, Cardoso.<br />

Dentre as empresas, a Cobra, líder do mercado, começou a perder fôlego. Os<br />

bancos a ela associados retiraram-se para investir em suas próprias empresas. O<br />

governo, cumprido o objetivo de projetar e fabricar o primeiro míni realmente

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